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1912-2012 – O centenário do diaconato feminino no Brasil

 “Eu recomendo a vocês a nossa irmã Febe, que é diaconisa da igreja de Cencréia”  (Rm 16.1)

Nós não poderíamos deixar passar o ano de 2012 sem fazer menção aos 100 anos do diaconato feminino no Brasil. Examinando os escritos de Duncan Alexander Reily, vemos que foi a Igreja Luterana quem deu início em nosso país ao trabalho diaconal feminino. Em seu belo livro História Documental do Protestantismo no Brasil, Reily escreve: Da Finalidade do Sínodo – Da Igreja Evangélica Alemã – Luterana – no Brasil: Provimento de diaconisas para assistência aos doentes e às congregações. (1) Este Sínodo foi realizado em 1912, com o fim de regulamentar o trabalho de irmãs luteranas brasileiras que estavam chegando da Alemanha. Elas haviam sido enviadas para se qualificarem para exercer o diaconato no Brasil. Segundo Artigo de Gisela Beulke, esta preparação ocorreu em Munster, sendo transferida depois para uma escola de formação diaconal em Wittenberg, e durou de 1909 até 1913.(2) Foi assim que entre a aprovação oficial do diaconato feminino pela Igreja Luterana em 1912 e o início das atividades das diaconisas entre 1912 e 1913, as mulheres cristãs começaram a realizar um trabalho mais formal e ainda mais relevante na igreja evangélica brasileira.
A partir daí, e com o passar do tempo, as portas para o ministério feminino foram se abrindo nas igrejas evangélicas brasileiras. Na Igreja Presbiteriana, desde 1934 se admitem diaconisas. (3) A Igreja Metodista aprovou o diaconato feminino em 1946.(4) Já na IAP, o Livro Marcos que Pontilham o Caminho registra que, em 1947, foi consagrada na capital paulista a primeira mulher ao diaconato, a irmã Maria da Penha Muniz Falcão. Isso ocorreu a 22 de fevereiro de 1947.(5) A primeira edição do Marcos que Pontilham o Caminho narra também que a 28 de Junho de 1947 foi aprovado o nome da segunda irmã ao diaconato: Maria José da Silva. (6) É louvável o fato de que o ministério diaconato na IAP é praticamente contemporâneo ao começo de sua organização, isto é, desde cedo nossos líderes reconheceram o valor da mulher no serviço diário da Eclésia. Em todos estes casos, inclusive na IAP, o reconhecimento do ministério feminino esteve relacionado ao avanço teológico. Foi por investigar a língua original do Novo Testamento – o grego – que os estudiosos da igreja evangélica perceberam que Febe era diaconisa da Igreja de Cencréia, e não apenas uma serva de Deus realizando trabalho informal naquela cidade (Rm 16.1). A igreja católica alemã rejeitou a demanda pelo diaconato feminino, em conferência episcopal realizada em 19 de novembro de 2011.(7) Mas nos últimos 100 anos as vitórias das servas têm sido muito maiores que as derrotas. Principalmente fundamentados numa interpretação gramatical de Rm 16.1 é que se vaticinou o ministério diaconal feminino. Mas os argumentos em seu favor vão além do texto grego do Novo Testamento. Como escreveu Sandro de Sousa Oliveira, há evidências que em cerca do ano 111 d.C. o cargo de diaconisa existia oficialmente na Igreja Cristã. Plínio, governador da Bitínia, registrou que interrogou, sob tortura, duas mulheres que eram chamadas “diaconisas”, na igreja cristã. Seu interrogatório dizia respeito à natureza dos “ritos” cristãos.(8)
Como terceiro argumento em favor do diaconato feminino existe o fato de que as mulheres têm exercido um trabalho de fenomenal importância junto aos doentes, famintos e desabrigados. Não foi exatamente a necessidade de auxiliar estes que gerou na igreja do primeiro século a necessidade de fundar o diaconato? (At 6.1-7). E o que dizer das várias ocupações de mulheres de Deus nos serviços do templo e na prática das ordenações? Sua luta é incansável ao assistir os pastores e presbíteros nos batismos, ceias e casamentos. Seu labor é esplendido quando ajudam decisivamente a manter a ordem do culto e sua reverência. Sua fé é firmada na Rocha que é Jesus. Por tudo isso, devemos dar glórias a Deus por estes 100 anos do Ministério Diaconal Feminino e louvar ao Senhor pelas centenas – quem sabe milhares – de irmãs promessistas que hoje são diaconisas da Igreja de Cristo.
Pr. Marcio Rogério Gomes David é superintendente da Convenção Ceará.
 
1 – REILY, Duncan Alexander. História documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste, 1993, p. 207.
2 –  BEULKE, Gisela. A História do Ministério diaconal na IECLB.
3 –  REILY, op. Cit. p. 395
4  – Ibidem, p. 392
5 – LIMA, José (Edit.). Marcos que Pontilham o Caminho – A História continua. São Paulo: Gráfica e Editora A voz do Cenáculo, 2002, p. 92. 
6 – SILVEIRA, Otoniel.  Marcos que Pontilham o Caminho. São Paulo: Gráfica e Editora A voz do Cenáculo, 1973, p. 132.
7 –  Reportagem do site www.uol.com.br
8 – Epístola de Plínio, XCVI.
 
 

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