Nossa História

 
Os promessistas na trilha do avivamento

Estamos próximos de mais um aniversário da Igreja Adventista da Promessa, data tão querida dos promessistas que deve ser celebrada com gratidão ao Senhor. A experiência vivida no dia 24 de janeiro de 1932, pelo pastor João Augusto da Silveira, e que veio a ser marcante para a história da Igreja Adventista da Promessa, não pode ser compreendida em toda a sua amplitude, se considerada como um episódio isolado, isto é, se não forem levadas em conta algumas questões relativas à natureza desse fenômeno, sua fundamentação bíblica e seu significado histórico. Para torná-la mais facilmente compreensível, fazemos, aqui, algumas considerações, inclusive históricas.

Deus tem um plano estabelecido para tudo o que faz, e, nesse plano, as circunstâncias de tempo e modo encaixam-se com a mais perfeita sincronia. O plano da redenção, de que fala o apóstolo Paulo, em sua carta aos Efésios (1:3-10), e que foi elaborado por Deus, ainda antes da existência do primeiro ser humano, tem como objetivo salvar, por meio da fé em Jesus Cristo, todos os que nele crêem.

 
O avivamento: paixão pelas almas

O avivamento normalmente é caracterizado pelo desejo de testemunhar de Cristo, amar e servir ao próximo e é um fenômeno que, por vezes, só se realiza do particular para o geral, isto é, do indivíduo para a comunidade. Ou seja, no avivamento, Deus mobiliza seus servos e servas, para realizarem Sua missão na Terra, com mais vigor que em outros momentos.

A salvação é um bem eterno, destinado a todas as pessoas. Sendo assim, não podemos conceber a ideia de uma pessoa salva não se preocupar com a salvação do outro. Para isso a igreja, formada por discípulos avivados, é convocada: …vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. (1Pd 2:9). O poder que o Senhor concede ao crente, através do Espírito Santo, não teria nenhuma razão de ser, se não fosse, de alguma forma, em favor do próximo.

 
Escola Bíblica de Topeka

A Escola Bíblica de Topeka, no Kansas, funcionava como uma espécie de seminário. Nela, Charles Parham exercia considerável influência, como um dos professores.
Simpatizante do movimento avivalista, que já vinha conquistando espaço em outros Estados daquela federação, sua contribuição foi decisiva para a expansão desse movimento. Como resultado das atividades desses grupos de crentes, espalhou-se notícias de avivamentos em vários lugares nos Estados Unidos e na Europa.

Esses movimentos eram caracterizados por um intenso fervor de evangelização e um compromisso em orar. Da mesma forma dava-se ênfase aos dons espirituais e à sua operação, inclusive a cura divina e o falar em outras línguas, como sinal do recebimento do batismo do Espírito Santo (At 2:4).

 
Rua Asuza

A rua Azusa, 312, em Los Angeles, tornou-se um dos principais palcos históricos dos avivamentos registrados. Ela tornou-se famosa a partir de 1906, quando J. William Seymour, a convite da evangelista Nelly Terry, participou de uma série de reuniões de oração, nas quais falou a respeito do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais. W. B. Durham, que, na época, presidia uma igreja batista em Chicago, foi uma das pessoas agraciadas com a bênção do batismo no Espírito Santo, ao ouvir as pregações de Seymour sobre essa promessa divina. A partir daí, a igreja batista de Chicago, Michigan, passou a ser, também, palco do avivamento que começava a ser sentido por outros crentes, em outras igrejas e em outras cidades americanas.

 
Os primeiros pentecostais no Brasil

Embora fosse insignificante a presença de protestantes no Brasil até o final do século XVIII, esse quadro começou a mudar a partir da segunda década do século XIX, com a chegada de colonos alemães de confissão luterana e ingleses de confissão anglicana. É evidente que não se pode dizer que organizaram igrejas ou que aqui vieram com alguma finalidade evangelística. Isto só veio acontecer depois de 1855, com a fundação da Igreja Evangélica Fluminense ou Congregacional. Depois disto vieram os presbiterianos (1859), os metodistas (1876), os batistas (1881), os adventistas do Sétimo Dia (1892) etc.

Porém, só no final da primeira década do século passado (século XX), chegaram ao Brasil, via Estados Unidos, os primeiros missionários portadores da mensagem pentecostal: Luigi Francescon e Giacomo Lombardi (em 8 de março de 1911) e Gunnar Vingren e Daniel Berg (19 de novembro de 1910). Todos tinham passado pela Escola Bíblica de Topeka, no Kansas, onde ouviram e creram na doutrina do batismo no Espírito Santo. Alguns deles receberam essa bênção divina mesmo antes de virem para o Brasil. Luigi Francescon deu início à Congregação Cristã no Brasil, depois de uma rápida parada na cidade de São Paulo, indo em seguida para a cidade de Santo Antônio da Platina, no Paraná. Gunnar Vingren e Daniel Berg instalaram-se em Belém do Pará, onde fundaram a Assembleia de Deus.

 
Primeira igreja pentecostal genuinamente brasileira

Fazendo alusão à chegada em nosso país dos missionários batistas pentecostais, Duncan A. Reily junta a seguinte observação: “…Luigi Francescon narra como este fundou a Congregação Cristã no Brasil (1910), enquanto escritos de Daniel Berg e Gunnar Vingren relatam a implantação da Assembleia de Deus em 1911 (documento 3.6.3.). Entretanto, ao lado do pentecostalismo clássico, oriundo dos Estados Unidos, surgiu, em 1932, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, no Recife, a Igreja Adventista da Promessa (1932)” (História Documental do Protestantismo no Brasil, ASTE, 1984, p. 379). Sim, a Igreja Adventista da Promessa figura no cenário evangélico nacional como a primeira igreja pentecostal genuinamente brasileira, uma vez que as duas outras mais antigas chegaram aqui provenientes de outro país, cujos fundadores também são estrangeiros.

A Igreja Adventista da Promessa é o resultado da graça de Deus e de uma oração feita com fé, tornando-se a primeira igreja evangélica pentecostal e sabatista no Brasil. Assim, nasceu a Promessa, cultivando a importância dos dons espirituais, do batismo no Espírito Santo e valorizando a lei de Deus, tudo sob o poder e as marcas do evangelho da graça, na firme certeza de que tem muito a contribuir com a missão de salvação daqueles que se aproximam de Jesus e de sua palavra.

 
Pr. João Augusto da Silveira, o fundador da Igreja Adventista da Promessa

 

Aquele menino que nasceu em Murici (Al) tornou-se um intrépido servo de Deus. Pulso firme no comando da Igreja, a liderança do pastor João Augusto era segura e inteligente. Soube conduzir a Igreja no caminho correto em todas as áreas da administração. Sabia comandar, dividir responsabilidades, quando falar e o que falar, sem ferir sentimentos. Suas palavras eram acompanhadas de amor, sabedoria e idoneidade. Nunca pensou em ser o maior pelo fato de ser o fundador, mas agia como servo submisso ao legítimo Senhor da Igreja e às suas ordenações presbiteriais.

A família Silveira era composta de João Augusto da Silveira, sua esposa, Marcionila Ferreira da Silveira e seus cinco filhos: Jair, Otoniel, Junílio, Osi e Divalda.

Após Deus ter respondido à oração do pr. João Augusto, em 24 de janeiro de 1932, e ter-lhe concedido o batismo no Espírito Santo, conta-nos seu filho Otoniel: “Papai desapareceu no dia seguinte e só voltou à casa depois de oito dias”. (Tinha ido contar ao irmão Manuel de Melo e desse a muitos outros irmãos, o que Deus lhe tinha feito). Daí para frente, choveram-lhe cartas e convites para relatar sobre a manifestação do poder de Deus em, sua vida, o que resultou em sua vinda ao Sul do País, só podendo retornar ao lar quase nove meses depois. 

O pastor João Augusto retornou ao Nordeste e logo mais mudou-se, definitivamente, com a família, para o sudeste do País. Em São Paulo moraram em vários lugares e por último, no bairro de Vila Matilde – Capital.

Como jornalista, o pastor João Augusto da Silveira era o responsável técnico por nossas revistas; leitor assíduo da boa literatura; através de jornais e revistas estava sempre em dia informado dos acontecimentos locais, regionais, do País e mundiais; profundo conhecedor de fato históricos e geográficos espalhados pelo mundo afora.

Em 1948, com 51 anos de idade a irmã Marcionila faleceu, causando perda irreparável para toda a família promessista. Em 28.02.1949 o pastor João Augusto casou-se com a irmã Zilda Moreira da Silva, com quem conviveu até sua morte.

Contato com o evangelho

João não sabia nada sobre denominações evangélicas, em seus tempos de juventude, mas foi convidado pelo Sr. Felix, fundador da Igreja Presbiteriana em São Luis do Maranhão, para ir à igreja, o que se deu em 24 de dezembro de 1909. Lá estava um dos maiores pregadores da época, o reverendo Eduardo Carlos Pereira.

Outra providência divina já começava a se esboçar ali naquele templo. Ao findar os trabalhos, nos bancos da Igreja estavam vários folhetos. O Sr. Felix diz ao seu convidado: “Estes folhetos são sabatistas”.
No dia seguinte, atendendo ainda ao convite do Sr. Felix, foi à sua residência. Qual não foi a sua alegria ao receber das mãos daquele homem uma Bíblia Sagrada, como presente, dedicada a ele com data de 25 de dezembro de 1909.

O pastor João Augusto permaneceu no ministério ativo dos adventistas do 7º dia de 1918 a 1928. Adquiriu uma pequena casa perto do templo Adventista, em Recife (Pernambuco) pretendendo, com isto não se afastar dos princípios de fé e proporcionar à sua família possibilidades e facilidades em congregar-se. Mas com o passar do tempo vai se desgostando e deixa de congregar.

A conferência em São Paulo, de 1928, recusou a prática de se receber, por votos, crentes procedentes da Igreja Batista e os já recebidos teriam de passar por novo batismo. Com a notícia, muitos crentes fieis não concordaram e se desligaram do movimento. Com o passar do tempo criaram uma congregação,  liderados pelo senhor Oséas Lima Torres. O pr. João Augusto, juntamente com o irmão Godofredo Wanderley e respectivas famílias, passaram a congregar com eles, por pouco tempo.

Em 1929, em Caruaru, o pastor João Augusto encontra-se com o irmão Manuel “Caboclo” (Manuel Lourenço do Nascimento), adventista do 7º dia, que lhe pergunta: “O senhor já recebeu o batismo no Espírito Santo? Não, respondeu João Augusto. “Não sei se irei recebê-lo. Mas a promessa é para tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar. Todos temos direito a ela”. O irmão Caboclo põe as mãos nos ombros do pastor João Augusto e diz: “Quando O receber, escreva-me, que também desejo”. O pastor João Augusto prometeu que o faria, se isso lhe acontecesse.

O livro Marcos que Pontilham o Caminho – 1ª edição, páginas 62 e 63 dá o seguinte relato:

“Um dia, o pastor João Augusto encontra-se com um dos decepcionados separatistas, defronte do salão deles e este lhe diz em tom de lamento: “Estou muito triste, pois à noite passada, sonhei com esta casa incendiando-se”. – Maravilhoso! Respondeu João Augusto. “Fogo, meu caro, é símbolo de purificação. Quem sabe se Deus vai queimar a miséria espiritual que domina essas poucas almas, que ainda restam e se reúnem neste salão”. O pastor João Augusto não soube precisar quantos dias se passaram desde que essas palavras foram proferidas. O certo é que o dia 24 de janeiro de 1932 já estava ao entardecer. Após a refeição vespertina, ele toma de sua Bíblia e passa a recapitular as passagens referentes à Promessa do derramamento do Espírito Santo, no livro de Atos dos Apóstolos”.

Palavras do Pr. João Augusto: “Como em ocasiões anteriores, senti, também, minha alma feliz. Perguntei a Deus, dentro de mim mesmo: por que experiência tão gloriosa, que a Igreja de Jesus Cristo nos primeiros dias recebeu, cuja promessa não tem limite de tempo, lugar e pessoas, não era recebida, agora, pela Igreja cristã hodierna? Não obstante ser dito que a bênção de Abraão seria extensiva aos gentios por Jesus Cristo e para que, pela fé, nós recebamos a promessa do Espírito? (Gl 3:14).

Nesse momento algo de sobrenatural me impulsionou a entrar no meu aposento. O que fiz e ali, ajoelhado, perto de minha cama com as mãos e olhos erguidos aos céus, pedi a Deus, como quem conversava com a maior confiança de um filho a seu pai, que reciprocamente se estimam, que alegrasse minha alma e não me deixasse ser surpreendido pela morte em circunstâncias espirituais tão incertas. Ah! como a história se repete. Não pedi para ser batizado com o Espírito Santo, mas Aquele que prometeu o Consolador aos seus discípulos e O deu lá no Cenáculo e, posteriormente, à Sua Igreja, respondeu à minha oração. Em línguas estranhas e glorificações ao Pai e ao Cordeiro Exaltado, o Espírito Santo completou em meu ser a obra excelsa da Trindade. Possuído do gozo que experimentava o meu coração, levantei-me da oração e glorifiquei a Deus pelo que havia recebido”.

Depois dessa experiência maravilhosa, levantou-se e contou-a sua esposa, que lhe disse: “Só posso crer no que você diz. E o que vai fazer agora?” – “Se eu pregava necessidade do batismo no Espírito Santo, sem ainda o ter recebido, com maior convicção o farei doravante”. Abraçaram-se e choraram.

Fotos Históricas

Pr. João Augusto da Silveira, fundador da Igreja Adventista da Promessa, em 1932.

Pr. João Augusto da Silveira, 2º a esquerda aos 29 anos de idade; sua esposa, Marcionila (1ª esq.); seus filhos, Jair (1º esq); Otoniel, e amigos.

Pr. João Cavalcanti Netto e sua família: um dos piorneiros, em 1939.

Pr. Manoel Lourenço do Nascimento e sua esposa, Ir. Josefa da Conceição: pioneiros do trabalho promessista no estado de São Paulo.

Pr. João Augusto da Silveira, ladeado pelos irmãos José Severino e José de Oliveira, residentes, na época, na linha Santos-Juquiá – SP.

Primeiro grupo de crentes adventistas da promessa, após o avivamento espiritual de 24 de janeiro de 1932. O lugar é Bairro Fundão – Recife – PE; Eles são os pioneiros.

Pr. João Augusto e Ir. Izilda Moreira.

Duas irmãs do Pr. João Augusto: Mariquinha e Eudócia; cunhados: Francisco Tolentino e Manoel Corrêa da Silva; sobrinhos: Oscarlina; Augusto. José, Agobá, Jonas e Lenita.

Pr. João Augusto da Silveira, em 1922, aos 29 anos de idade.

Primeiro grupo de crentes adventistas do sétimo dia, em 1922, na cidade de Caruaru-PE. O Pr. João Augusto é o terceiro (esq.)

Pr. Clarence Emerson Rentfro, de nacionalidade americana (1º esq.), foi quem consagrou o Pr. João Augusto, e sua esposa, Maria Rentfro; Pr. Ricardo Wilfart, (1º dir.) de nacionalidade belga, e sua esposa.

Foto tirada em 1926, durante o curso de colportagem. Sentados (esq.): João Cavalcanti Netto, João Augusto e Ernesto Mansell. Em pé (esq.): Godofredo R. Wanderley e Paulo Leite.

Francisco Ferreira da Silva e esposa (sentados), Lídia e Menininha (em pé): sogros e cunhadas do Pr. João Augusto da Silveira.

Ir. Juvercino Amâncio, sua esposa, Maria Tereza, e sua filha, Naná, que, da cidade de Vila Mendonça, mudaram-se para Rolândia-PR, levando a mensagem Promessista.

Pr. João Augusto e seus cinco filhos, logo após o falecimento de sua esposa, Marcionila