A ação do Espírito Santo

O agir dele em nós é tão importante quanto a obra de Cristo por nós

Lembro como se fosse hoje o dia que minha filha, à época com uns 5 anos, chegou em casa, depois de um culto na igreja local onde servimos a Deus, perguntando-me quem era o Espírito Santo. Me esforcei para ajudá-la a entender, dentro do que era possível naquele momento. Minha oração é para que, quanto mais ela cresça, mais ela deseje entender a pessoa e a obra do Espírito, questões fundamentais para maturidade de um cristão.
Alguém já escreveu que a ação do Espírito Santo em nós é tão importante quanto a obra de Cristo por nós, visto que não desfrutaríamos dos benefícios da obra de Cristo por nós sem a obra que o Espírito opera em nós. Na carta de Paulo aos Efésios é impressionante o quanto o apóstolo trata da obra do Espírito. São nada menos que 12 menções a pessoa do Espírito Santo e sua obra, nos 6 capítulos da carta. Vejamos o que ele diz!

A garantia da salvação
Nele, quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória (Ef 1:13-14 – NVI, grifo nosso).
A primeira informação que Paulo apresenta sobre o Espírito Santo na carta aos Efésios está relacionada com o selo. Quando o evangelho nos foi pregado e cremos na palavra da verdade (“quando vocês ouviram e creram”), recebemos o selo do Espírito Santo. O que isso significa? Na antiguidade, um selo ou marca com o símbolo do proprietário ou remetente era afixado ou atada a um objeto para, dentre outras coisas, garantir a autenticidade do mesmo; garantir que ele era verdadeiro. Era, também, a garantia de que o objeto selado havia sido transportado intacto. Paulo diz que os cristãos foram selados com o Espírito por ocasião da sua conversão. Ser selado significa receber a habitação do Espírito. A presença do Espírito Santo na vida é o selo.
A presença do Espírito Santo na vida de uma pessoa é o que autentica a veracidade da sua fé e mostra que ela é, realmente, filha de Deus. Paulo diz que o selo do Espírito é a “garantia da nossa herança até a redenção” (v.14). Algumas versões bíblicas utilizam a palavra “penhor”. O termo grego utilizado pelo apóstolo era aplicado, no mundo comercial da época, para o pagamento antecipado ou parcial em alguma negociação, como garantia de que o pagamento total seria feito. A mensagem é clara: a presença e atuação do Espírito Santo, na vida do cristão, no presente, é uma antecipação e uma garantia daquilo que será seu quando a salvação for completada; é a garantia de que seremos salvos, definitivamente, no futuro!
Vale ressaltar, ainda, que Paulo fala do “Espírito Santo da promessa” (v.13). Poderíamos traduzir esta expressão para “O Espírito Santo prometido”. Os profetas do Antigo Testamento prometeram que um dia o Espírito Santo seria derramado em profusão (Is 44:3; Ez 36:26-27; Jl 2:28). O Senhor Jesus também falou sobre a vinda do Espírito (Jo 14:16,17; 15:26: 16:13). Todas estas promessas se cumpriram e é esse Espírito prometido que habita em cada cristão e o conduz seguro rumo a redenção!

O conhecimento de Deus
E peço ao Deus do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai glorioso, que dê a vocês o seu Espírito, o Espírito que os tornará sábios e revelará Deus a vocês, para que assim vocês o conheçam como devem conhecer (Ef 1:17 – NTLH, grifo nosso).

A partir do v.16 de Efésios 1 Paulo diz que tem orado pelos cristãos e apresenta alguns dos seus pedidos a Deus em favor dos mesmos. Um deles: ele pede que os cristãos recebam o Espírito de sabedoria e conhecimento de Deus. Uma vez que os cristãos já possuem a presença do Espírito, conforme foi dito nos vs. 13-14, o que exatamente Paulo está pedindo? Junto com outros autores, Stott diz que, embora o texto traga espírito com “E” minúsculo, é provável que a referência seja ao Espírito Santo, o mestre do povo de Deus. Seguindo esse entendimento, os tradutores da NTLH traduziram assim o texto: dê a vocês o seu Espírito. Neste caso, então, Paulo estaria orando pelo ministério de iluminação do Espírito na vida dos crentes, que já possuem sua habitação.
É somente através da atuação e iluminação do Espírito Santo que nós, crentes em Jesus, podemos nos tornar sábios e conhecer a Deus mais plenamente e sua vontade, conforme expressa em sua Palavra. É bom que se diga que a “revelação” ou “conhecimento” que o Espírito nos dá não tem a ver com revelação além daquilo que já está revelado na Escritura, mas com uma iluminação da parte do Espírito Santo na vida do crente para que ele possa ver claro as verdades espirituais, e realmente compreendam quem é Cristo e sua obra.
É o Espírito Santo quem nos ajuda a entendermos cada vez mais o evangelho. Ele abre nossa mente para entendermos a razão do nosso chamado e o valor da nossa herança (v.18).
Apenas por estas duas menções que Paulo faz ao Espírito Santo já é possível perceber o quanto ele é importante em nossa vida cristã. Você consegue reconhecer isso? Que tal louvar a Deus pelo selo do Espírito em sua vida, que é garantia da sua salvação e orar para que ele ilumine seu entendimento, cada dia mais, para entender as verdades eternas do evangelho!
Até o próximo texto! Quem sabe voltemos a falar das outras dez menções de Paulo ao Espírito em Efésios!

“Filho de pastor, ‘pecadorzinho’ é”

“Flavinho, vem aqui. Você é filho de pastor! Tem que ser exemplo!” Esta foi a frase de um diácono segurando firmemente no meu braço, quando estava correndo no pátio da igreja, acompanhado de outras crianças da mesma faixa etária. Esta é uma das recordações que tenho da minha infância.
O pastor de uma igreja tem muitos filhos, espiritualmente falando, e até adotivos. Todos os cultos ele ensina, prega, atende o seu rebanho. O desejo de muitas pessoas é ficar mais tempo perto deste homem de Deus para absorver toda a sabedoria dele. Alguns devem pensar: privilegiados são os filhos legítimos por terem um pastor só para ele em casa! Será? Com essa pergunta refleti muito sobre minha trajetória de vida e experiência como filho de pastor, e analisei as vantagens e desvantagens, com auxílio do meu irmão, Fabiano (da IAP em Barão Geraldo – Campinas, SP), que me ajudou a enriquecer esta reflexão.
A maior desvantagem que vejo, por ser filho de pastor, são as pressões que sofremos pelo ministério do pai. Devido a essas pressões, muitos se decepcionam com a experiência de serem filhos de pastor. Não foram poucas as cobranças, piadas no colégio, na rua, na lanchonete, por parte dos professores que desprezavam cristãos por escândalos de pastores, mas a pressão maior era na própria igreja, onde a cobrança de uma vida em santidade é inevitável para os filhos de pastores.
Mas, nem sempre é verdadeiro o ditado: “filho de peixe, peixinho é”. Com esse conceito equivocado, de que os filhos de pastores devem ser os mais santos possíveis, perfeitos, referência em todas as áreas, as pessoas se esquecem que, na verdade, “filho de pastor, ‘pecadorzinho’ é”. Como toda a humanidade é, dependente da graça de Deus. Sempre querendo ser algo que as pessoas esperavam, chegou um tempo da adolescência em que comecei a pensar: afinal, quem sou eu???
Então, tentei quase tudo: ter sucesso com as meninas, ser o músico da escola, ser poeta, ter as melhores notas, ter as piores notas, usar terno, usar calça jeans rasgada, ter cabelo comprido, ter cabelo raspado, adotar estilo esportista, ter estilo intelectual, ser rebelde, ser pacifista, enfim, comecei a experimentar várias identidades, que eu encontrei em filmes, sonhos, vídeo games. Qualquer coisa que fosse diferente do meu pai e parecido com o que o mundo esperava.
Foi o período em que eu dizia frases agressivas, mas que refletiam minha crise interna: “Quero um pai, não um pastor!”, “Quem é você agora, pai ou pastor?”, “Pelo menos me trate como uma de suas ovelhas”, “Eu, pastor? Jamais!!” ; “Cuide de sua igreja e me deixe em paz!”.
Mas hoje, com a maturidade, vejo que foi um grande privilégio ser filho de pastor. Agradeço a Deus porque tive um pai que sempre me instruía na verdade bíblica, com sua experiência, fé, amor e compreensão, que sempre manifestava nas longas conversas que tínhamos a sós. Ele nunca esqueceu que tinha uma família para cuidar, talvez não cuidasse do modo como ele gostaria, mas fazia o sempre máximo.
Em um desses dias em que eu estava perdido tentando encontrar minha identidade, numa dessas conversas, ele deixou claro que tudo aquilo estava acontecendo porque eu ainda não havia encontrado a minha identidade em Deus. Eu não tinha entendido o real motivo da minha existência.
Existe um plano de Deus estabelecido para cada filho de pastor. Assim como para cada um dos filhos de Deus. Não aquilo que pressionam você a ser, mas, aquilo que Deus criou você para ser.
Sei que o inimigo tenta mostrar para todos os filhos de pastores só o lado ruim de ter pais no ministério, mas, aprenda a ser grato a Deus por ter nascido em um lar cujo o foco é Jesus,  no qual os seus pais tiveram um encontro com Deus de tal forma que isso fez com que eles tivessem a coragem de largar tudo para servir ao Senhor, doando o seu tempo de forma integral. Quando você se encontrar naquilo que Deus criou você para ser, nunca mais vai se sentir pressionado por ser filho de pastor.
Gostaria de deixar dois pequenos conselhos, para pastores e filhos.   Pastores, lembrem-se que vocês têm família. Nunca se esqueçam que o primeiro ministério de vocês é leva-la aos pés de Jesus. Em suas orações, peçam a Deus sabedoria e conhecimento para guiar competentemente sua família (2 Crônicas 1:10).
Quanto aos filhos de pastores, é muito comum ouvirmos que filhos de pastores não precisam aceitar Jesus ou ter comunhão com Deus, porque seus pais “fazem isso por eles”. Mas esse é o maior engano em que podemos cair. O relacionamento dos nossos pais com Deus é o relacionamento deles. Eles construíram, individualmente, ao longo dos anos. Cabe a nós fazermos o mesmo, afinal, temos a nossa própria caminhada com Deus para seguir.
Flávio Dias dos Santos, filho do Pr. Ozias e Dsa. Elena dos Santos (jubilados), casado com Jéssica Sanches Dias. É pastor em tempo integral na IAP em Vila Virginia, Ribeirão Preto (SP).