Seria tolice imaginar que passaríamos incólumes pela vida sem as marcas do sofrimento
Uma vez, numa conversa sobre a bondade de Deus e a maneira como ele interage conosco, uma pessoa me perguntou: “e quando tudo vai mal?” Essa pergunta parece sem sentido num primeiro momento, mas a realidade da nossa vida nos empurra para questionamentos como estes.
“Pastor”, diz alguém, “logo agora que tudo parecia estar indo bem, recebo a notícia de que estou com câncer”. “Pastor, logo agora que eu consegui o emprego dos meus sonhos e tudo parecia feliz, recebo a notícia de que meu pai tem pouco tempo de vida”. “Logo agora, pastor, que pensei que teríamos uma família, recebemos a notícia de que o nosso bebê não vai sobreviver.” “Este ano em que eu mais estudei, não passei no vestibular.” Sempre nos deparamos com dores, lutas, desafios cotidianos, decepções e frustrações que nos fazem questionar: e agora?
A Bíblia não esconde e não nega a possibilidade de momentos assim na vida de inúmeros personagens. Aliás, seria tolice imaginar que passaríamos incólumes pela vida sem as marcas do sofrimento. Abraão recebe a promessa de ser pai de uma grande nação, mas sua esposa é estéril e nos seus descendentes essa realidade se repete: Rebeca, esposa de Isaque, é estéril; Raquel, esposa de Jacó, é estéril.
E o que dizer de Elias? Depois de derrotar os falsos profetas, é acometido de um estado de tristeza tão profundo que deseja a morte. Davi, por sua vez, precisa lidar o tempo todo com tragédias em sua casa, inimigos do lado de fora, ataques contínuos do lado de dentro. Em um determinado momento, no Salmo 13, Davi expõe o estado do seu coração dizendo: “Até quando me esquecerás, Senhor? Para sempre? Até quando encobrirás de mim a tua face?”. E o salmista continua: “Até quando sofrerei preocupações e tristeza no coração, dia após dia? Até quando prevalecerá o inimigo contra mim?”.
A única explicação para estas palavras do salmista é que tudo aparenta estar indo de mal a pior. Entretanto, do versículo 3 em diante, o salmista retoma o controle das suas emoções, e na sua situação de angústia ele clama a Deus:
“Olha para mim e responde, Senhor, meu Deus. Renova o brilho da vida nos meus olhos…” E completa no versículo 5 fazendo uma verdadeira pregação ao seu próprio coração: “Contudo, eu confio em teu amor; o meu coração se enche de alegria e satisfação em tua salvação. Desejo cantar ao Senhor por todo o bem que me tem feito”. O salmista não nega a inevitabilidade do dia mal, do sofrimento, da decepção e do medo, entretanto, nos traz preciosas lições a respeito do que fazer em dias assim.
Primeiro, precisamos aprender a colocar nossas angústias diante do Senhor por meio da oração. Paulo faz essa afirmação em Filipenses 4. O resultado disso é que a paz de Deus, que excede a compreensão humana, guarda o nosso coração e a nossa mente.
Em segundo lugar, o salmista nos ensina a pregar para o nosso próprio coração. Existem momentos da nossa vida que somos ministrados por alguém, mas existem momentos que temos que ministrar ao nosso próprio coração com a palavra. E é isso que o salmista faz, ele não espera que o seu coração determine o que ele acreditará, pelo contrário, por meio daquilo que ele acredita, ele determina o que o seu coração sentirá, e com isso, não permitirá que a angústia domine sua vida.
E por fim, o salmista nos ensina a cantar as bênçãos de Deus. Não importa qual seja a situação difícil da sua vida, Deus continua sendo um Deus bom, e tudo aquilo que ele faz na sua vida por meio da sua bondade e graça dá a você muito mais razões para cantar o bem do Senhor do que chorar as tragédias do cotidiano.
Pense nisso: mesmo em meio à situação adversa que esteja vivendo, vcoê deve se lembrar que há um Deus de amor que continua cuidando de você com soberania e controle, e no final, o nome dele será glorificado.