Um dos principais resgates que a Reforma Protestante fez ou reivindicou foi o do chamado “sacerdócio de todos os crentes”. Diante de uma igreja clericalizada, cuja leitura e interpretação das Escrituras, bem como o acesso ao Senhor, se dava por meio dos sacerdotes que compunham o ministério da Igreja Católica, o movimento espiritual que teve seu ápice no dia 31 de outubro de 1517 rompeu com essa lógica e trouxe aos cristãos comuns o acesso às Escrituras e a consciência da busca a Deus.
Sobre isso, o teólogo Roger Olson escreveu, em seu livro História da Teologia Cristã, um trecho do pensamento de Lutero:
“Não somente somos os mais livres entre os reis, como também somos eternamente sacerdotes, que é muito melhor do que sermos reis, pois como sacerdotes somos também dignos de aparecer perante Deus a fim de orarmos pelo próximo e ensinarmos as questões divinas uns aos outros. […] Cristo tornou possível, sob a condição de crermos nele, que fôssemos não somente seus irmãos, co-herdeiros e reis, mas também sacerdotes como ele. Podemos, portanto, aparecer confiantemente na presença de Deus com espírito de fé […] e clamar ‘Aba, Pai!’, e orar uns pelos outros e fazer todas as coisas que sabemos que são feitas e prenunciadas nos serviços exteriores e visíveis dos sacerdotes.”
Com isso, o reformador alemão colocava sobre os fiéis uma atenção e uma responsabilidade que, há séculos, só eram dadas ao clero (os bispos, padres e teólogos). Olson ainda pontua:
“Lutero não menosprezou o cargo do ministro como pastor da congregação ao elevar o sacerdócio a todos os crentes. Enfatizava o cargo dos ministros no ensino como servos treinados a interpretar e ensinar a Palavra de Deus. Entretanto, acreditava que eles deviam sempre ser chamados e escolhidos pelo povo de Deus, e não postos sobre ele por um oficial hierárquico da igreja (…)”.
Essa ênfase resgatada pela Reforma Protestante trouxe de volta a necessidade de pensar a igreja a partir dos leigos — como, até hoje, são chamados os membros católicos e de algumas confissões protestantes históricas. É claro que, entre os protestantes-evangélicos, essa realidade, em muitos momentos da história cristã, não foi aplicada, e a “clericalização” voltou à tona na prática da igreja. Mas relembrar esse valor reformista traz à igreja presente a necessidade de ordenados e membros viverem juntos a missão de proclamação do evangelho.
UMA BASE SEGURA
Na Palavra de Deus, encontramos base para o resgate feito no século XVI, como escreveu João, em Apocalipse: “e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai; a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (Ap 1:6).
Mas o que significa o sacerdócio de todos os crentes, que foi enfatizado pelo reformador Martinho Lutero e pela igreja protestante ao longo dos anos?
— Em Cristo, todos têm acesso à presença de Deus, por meio da oração, leitura da Palavra e confissão dos pecados (líderes, como pastores e missionárias, e os fiéis são iguais diante de Deus, com diferenças de papéis na igreja);
— Temos responsabilidades para com os santos, dedicando-nos ao Senhor no culto e na missão de compartilhar o evangelho;
— Vivemos os mandamentos dos “uns aos outros”, servindo nossos irmãos em Cristo e a sociedade.
Bases Missionárias: um lugar para viver o “sacerdócio de todos os crentes”
Um dos lugares em que a igreja local pode exercer esses valores, além do templo, é nas casas, por meio dos pequenos grupos, células e das Bases Missionárias. Nas bases, temos a oportunidade de viver ainda mais o “sacerdócio de todos os crentes”, quando homens e mulheres vivem com maior afinco a busca pela presença de Deus, um contato mais profundo com a Palavra do Senhor e com os mandamentos da mutualidade.
Longe de ser um perigo para os cultos no templo ou para o ministério ordenado, as Bases Missionárias são lugar para um “pastorado compartilhado”, como destacou o vice-diretor da Junta de Missões e responsável pelo tema das bases na instituição, Pastor Ageu Bentes, pois nelas os crentes não agem como expectadores, mas como “trabalhadores do Reino, não pessoas consumidoras de conteúdos evangélicos, homens e mulheres impactando como Ele [Jesus] fez”.
Ele também ressaltou que os pequenos grupos são espaços que permitem uma conexão mais profunda com a Palavra de Deus e com a igreja do Senhor: “A Base Missionária, os Pequenos Grupos, a reunião nos lares continuam sendo a base eficaz para consolidar a fé e evangelizar comunidades. Se queremos uma igreja com futuro, devemos fazer como Jesus e como os irmãos de Jerusalém”.
Pode-se dizer que os valores do “sacerdócio de todos os crentes” são um incentivo para o envolvimento de cada cristão promessista com o culto no templo, mas também com a missão por meio das Bases Missionárias. Que o Senhor ajude você a viver sua fé não só no templo, mas também a abrir sua casa para levar o evangelho redescoberto em 31 de outubro de 1517, com a afixação das 95 teses do reformador Martinho Lutero nas portas do Castelo de Wittenberg, na Alemanha.
Texto: Agência Promessista de Comunicação (APC)
Obra consultada: Olson, Roger. História da Teologia Cristã: 2 000 anos de tradição e reformas. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 402.

