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Não, eu nunca sofri violência doméstica! Será?

Quando pensamos em violência contra a mulher, é muito comum associarmos somente à violência física, por causa das marcas visíveis que são deixadas nas vítimas. Mas existem outras formas de agressão silenciosas, que também matam mulheres diariamente ao redor do mundo. Geralmente a violência inicia-se de forma sutil e disfarçada e vai sendo incorporada aos poucos no relacionamento, podendo ser facilmente confundidas com ciúmes ou uma forma de proteção do agressor em relação à sua vítima.
Segundo o artigo 7º da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher: I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause danos emocional, que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição e qualquer outro meio de controle que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada (mesmo que com o cônjuge/ parceiro) ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
Estudos apontam que a relação abusiva possui um ciclo de violência e é observado em três fases: primeiramente TENSÃO, comportamento ameaçador, agressões verbais (ofensas, humilhações), destruição de objetos da casa, intimidação e manipulação, por isso é comum nessa fase a mulher se sentir responsável pelas explosões do agressor e procurar justificativas para o comportamento violento. A segunda fase é a AGRESSÃO, comportamento efetivamente descontrolado que leva à concretização de algum ato ainda mais violento. E por fim a fase da LUA DE MEL, posição de arrependimento por parte do agressor, onde ele promete mudar de comportamento e temporariamente torna-se atencioso e carinhoso, levando a vítima a ceder.  A frequente repetição do ciclo leva a mulher à culpabilização, descontrole emocional, prejuízos físicos, relações de desamparo e afastamento social.
Imaginamos o perfil do agressor como um homem visivelmente agressivo em todos os ambientes de convívio, o que é possível, mas não devemos generalizar. Em muitos casos pode ser alguém que a comunidade tem como um homem comum, querido e até mesmo um parceiro honrado e dedicado. Por esta razão, a mulher pode permanecer muito tempo em uma relação violenta e enfrentar dificuldades para procurar ajuda, pois se sente também desprotegida socialmente. Portanto, podemos dizer que a raiz da violência contra a mulher está intimamente ligada a estrutura da sociedade, onde impera a visão de que faz parte de ‘ser mulher’ suportar algumas situações e que homens possuem direitos de controle sobre mulheres, e isso acaba por neutralizar alguns aspectos violentos.  Diante disso, torna-se vital lutarmos pela valorização da mulher, por relações familiares e sociais saudáveis e justas e investirmos em educar todo ser humano, seja ele homem ou mulher para respeitar e preservar uns aos outros.
Mulher, absolutamente nada deve justificar uma agressão! Relações saudáveis elevam pessoas não as destroem, não confunda cuidado com controle. A Palavra de Deus nos ensina que o amor é benigno e respeitoso, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade (1Coríntios 13.4-6).
Se você que lê este artigo se identificou com qualquer das formas de violências citadas, primeiro se sinta acolhida e saiba que você não precisa sofrer calada e sozinha. Busque ajuda! Ou se você conhece alguém nessa situação, não se omita, acolha. Se no seu município existe um desses serviços para atendê-la, você pode procurar apoio e orientação neles: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs). Ou Ligue 180, a Central de Atendimento à Mulher é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres em todo o Brasil. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados.
 
Jéssica Fernanda Pupo Vermelho, psicóloga especialista em Saúde Mental, casada com Yuri Vermelho e congrega na Igreja Adventista da Promessa do Jardim Urano em São José do Rio Preto-SP.

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