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Dia da Reforma Protestante: Sola Fide (somente a fé e nada mais)

A reforma foi um movimento em direção ao Evangelho.

 

Neste dia 31 de outubro de 2024, lembra-se da Reforma Protestante. Há 507 anos, Martinho Lutero afixou as 95 teses na porta de um castelo em Winttenberg, Alemanha, eram protestos contra as indulgências, uma forma de comprar o perdão divino vendido pela Igreja Católica, e a autoridade papal. Esse gestou do reformador, mexeria profundamente com as estruturas do cristianismo. Essa revolução toda ocorreu pela compreensão de um texto das escrituras.

Outro episódio de data diferente chama atenção. Em 24 de maio de 1738, um missionário desanimado foi, “de muita má vontade”, a um encontro religioso em Londres. Nesse encontro, Deus operou um milagre. “Por volta de 8h45”, escreveu o missionário em seu diário, “senti meu coração ser tocado de maneira um tanto estranha: senti que cria única e exclusivamente em Cristo para a salvação e recebi a convicção de que ele havia removido meus pecados e havia salvado minha vida da lei do pecado e da morte”.

O missionário era John Wesley. A mensagem que ouviu naquela noite foi o prefácio do comentário de Martinho Lutero sobre Romanos. Poucos meses antes, John Wesley havia escrito em seu diário: “Fui para a América a fim de converter os índios, mas quem há de me converter?”. Naquela noite, na rua Aldersgate, sua pergunta foi respondida. O resultado foi o grande reavivamento wesleyano que varreu a Inglaterra e que transformou a nação.

A Epístola de Paulo aos Romanos continua a transformar a vida das pessoas, como fez com Martinho Lutero e John Wesley. A Escritura que se destacou de todas as outras e que tirou Lutero da mera religião, conduzindo-o à alegria da salvação pela graça, por meio da fé, foi Romanos 1:17: “O justo viverá por fé”. Tanto a Reforma Protestante quanto o reavivamento wesleyano foram fruto dessa carta maravilhosa escrita por Paulo quando estava em Corinto no ano 56 d. C.  Ela foi levada aos cristãos de Roma por uma das diaconisas da igreja de Cencréia, a irmã Febe (Rm 16:1).

Olhando para a revelação bíblica nós descobrimos que a justificação é uma necessidade de cada pessoa do planeta, porque todos os seres humanos são pecadores e necessitam do perdão de Deus: Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). Por isso, o evangelho é a melhor notícia de todas.

O Evangelho revela a Justiça de Deus que do começo ao fim é pela fé, somente pela fé (Rm1:17). Mas como é a Justiça de Deus pelo Evangelho? O que a fé tem a ver com isso? A Justiça do Evangelho revela três princípios fundamentais para a doutrina da Justificação pela fé, onde podemos compreender que a Salvação é somente pela graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo conforme está descrita nas Escrituras Sagradas.

 

A SALVAÇÃO MEDIANTE A FÉ, É SOMENTE PELO DEUS DO EVANGELHO

Wiersbe diz que a palavra “salvação” era extremamente significativa no tempo de Paulo. Seu sentido principal era “livramento” e se aplicava ao livramento pessoal e nacional. O imperador era considerado um salvador, como também o era um médico que curava alguém de uma enfermidade.

O evangelho livra os pecadores do castigo e do poder do pecado. A “salvação” é um dos temas centrais da carta aos Romanos e é a grande necessidade da raça humana (cf. Rm 10:1, 9, 10). A única maneira de homens e mulheres serem salvos é pela fé em Jesus Cristo, conforme é proclamado no evangelho.

Mas dizer que Deus tem o poder para salvar poderia ser uma afronta a Roma. Se Grécia tinha a filosofia, Roma tinha o poder. Afinal, eram conquistadores. As legiões romanas estavam instaladas em todo o mundo conhecido. Mas, com todo seu poder militar, Roma ainda era uma nação fraca. Pois a cidade de Roma era uma “fossa de iniquidade”, “esgoto imundo, inundado pelas escórias do império”.

Assim como Roma as pessoas de nossa sociedade também precisam de salvação, não importa quão influente ou poderosa sejam elas.  Todos carecem de Deus. Assim como em Roma ainda hoje o pecado levará as pessoas a condenação certa. A não ser que sejam justificados mediante a fé.

Mas o que é justificação? Justificação é um ato jurídico ou uma sentença divina na qual Deus declara perdoado todo pecador que crê em Jesus. Louis Berkhof define assim: “A justificação é um ato judicial de Deus no qual Ele declara, baseado na justiça de Jesus Cristo, que todas as exigências da lei estão satisfeitas com respeito ao pecador”. A justificação é o contrário de condenação.

Ela é um ato único e legal que remove a culpa do pecado e restaura o pecador à sua condição de filho de Deus, com todos os seus direitos, privilégios e deveres. O que precisamos reconhecer é que não existe nada em nós ou que possamos fazer, capaz de justificar-nos para salvação diante de Deus. É a partir da justificação que o Espírito Santo inicia no pecador todo o processo de santificação até a sua glorificação, que ocorre somente após Deus nos inocentar em seu julgamento.

Não existe participação humana no ato da justificação. Ela é de origem divina e é imediata, no instante que cremos em Jesus Cristo. Somente em Deus podemos ser salvos da condenação eterna. Reconheça agora mesmo, como o salmista: O nosso Deus é o Deus da salvação; e a DEUS, o Senhor, pertencem os livramentos da morte” (Sl 68:20). Por fim, clame como o salmista: “Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia, e concede-nos a tua salvação” (Sl 85:7).

 

A SALVAÇÃO MEDIANTE A FÉ É PARA TODOS OS QUE CRÊEM NA MENSAGEM DO EVANGELHO

Qual o alcance do evangelho? Segundo a Bíblia é para “todo aquele que crê” (Rm 1.16d, 17). Não se tratava de uma mensagem exclusiva apenas para judeus ou para gentios; é para todas as pessoas, pois todas as pessoas precisam ser salvas. A mensagem do evangelho deveria ser pregada a toda criatura – essa foi a comissão dada por Cristo (Mc 16:15).

Como é maravilhoso ter uma mensagem poderosa de salvação apropriada para ser levada a todas as pessoas! Deus não pede que as pessoas se comportem bem a fim de ser salvas, mas sim que creiam. Porque é a fé em Cristo que salva o pecador e o transforma. A vida eterna em Cristo é a única dádiva perfeita para todas as pessoas, quaisquer que sejam suas necessidades ou sua situação na vida.

E em Romanos 1:17 temos o versículo-chave da carta aos Romanos. Nele, Paulo anuncia o tema da carta: “a justiça de Deus”. O termo “justiça” (e variações como justo, justificação e justificado) é usado mais de 60 vezes nesta carta. A justiça de Deus é revelada no evangelho, pois, pela morte de Cristo, Deus revelou sua justiça ao punir o pecado e, na ressurreição de Cristo, revelou sua justiça ao oferecer a salvação ao pecador.

O dilema: “como é possível um Deus santo perdoar pecadores e, ainda assim, permanecer santo?”, é solucionado no evangelho. Pela morte de Jesus Cristo, Deus pode ser “justo e o justificador” (Rm 3:26). Precisamos crer e receber em nossa vida a transformação causada no Salvador.

“A mensagem está bem perto; está em seus lábios e em seu coração. E essa mensagem é a mesma que anunciamos a respeito da fé: se você declarar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dos mortos, será salvo. Pois é crendo de coração que você é declarado justo e é declarando com a boca que você é salvo”. (Rm 10:8-10)

Faça isso agora mesmo, diga de todo o seu coração:  ̶  “Jesus Cristo é o único Senhor em quem confio a minha vida!” O evangelho revela uma justificação pela fé. No Antigo Testamento, a justificação dava-se pelas obras, mas o pecador logo descobria que não era capaz de obedecer à Lei de Deus nem de preencher todos os requisitos justos. Aqui, Paulo faz referência a Habacuque 2:4: “mas o justo viverá pela sua fé”.

Esse versículo é citado três vezes no Novo Testamento: Romanos 1:17; Gálatas 3:11 e Hebreus 10:38: Romanos explica “o justo”; Gálatas explica “viverá” e Hebreus explica “pela fé”. Encontramos mais de 60 referências à fé ou à incredulidade em Romanos.

Ao estudar Romanos, entramos em um tribunal. Primeiro, Paulo chama judeus e gentios a depor e os declara culpados diante de Deus. Em seguida, explica o plano maravilhoso de salvação que Deus oferece a justificação pela fé. Nesse ponto, refuta seus acusadores e defende a salvação divina.

Mas alguém pode afirmar: “Esse plano de salvação será um incentivo para as pessoas pecarem!” – “É contrário à Lei de Deus!”. Mas Paulo contesta essas declarações explicando de que maneira o cristão pode ter vitória, liberdade e segurança em sua carta.

Você e eu só podermos ser livres do pecado e estarmos seguros se abraçarmos a mensagem poderosa do Evangelho. Para tanto, precisamos compreendê-la muito bem e centrarmos nossa vida segundo a fé.

 

A SALVAÇÃO MEDIANTE A FÉ, ENCORAJA A VIDA À CENTRALIDADE DO EVANGELHO

Mas o que é o Evangelho? Não é tão simples responder a essa pergunta como podemos imaginar. O evangelho é uma mensagem sobre como fomos resgatados de um perigo. O próprio termo evangelho tem origem em uma notícia sobre um fato já ocorrido e capaz de transformar a existência. Apesar de não sermos salvos pelas obras e nem podemos comprar nossa salvação, como defendia Lutero e os demais reformadores, uma vez salvos pelo sacrifício de Cristo, somos transformados para viver uma vida consagrada:

Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens e ensinando-nos para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos neste mundo de maneira sóbria, justa e piedosa, aguardando a bendita esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, que se entregou a si mesmo por nós para remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo seu, consagrado às boas obras” (2:11-14).

 

O evangelho era identificado com um carpinteiro judeu pobre que foi crucificado. Os romanos não cultivavam qualquer apreciação especial pelos judeus, e a crucificação era a forma de execução mais desprezível, reservada a criminosos. Por que deveriam crer num judeu que havia sido crucificado?

Roma era uma cidade altiva, e o evangelho vinha de Jerusalém, a capital de uma das nações minúsculas que Roma havia conquistado. Os cristãos daquela época não faziam parte da elite da sociedade; eram pessoas comuns e, até mesmo, escravos. Roma teve muitos grandes filósofos e filosofias; por que dar atenção ao que era considerado fábula sobre um judeu que ressuscitou dentre os mortos? (cf. 1 Co 1:18-25).

Pelas razões que Paulo apresentou na sequência do texto, como vimos. O Evangelho é poder de Deus para salvar da condenação eterna todas pessoas que creem em sua mensagem.

Quais impedimentos você encontra para viver uma vida encorajada pelo evangelho? O que impede as pessoas do bairro e cidade de crerem no Evangelho? Para Paulo nada poderia impedir os romanos poderosos de crerem, por isso ele iria até lá para anunciar este evangelho (1:15).

Não é de se admirar que Paulo não se envergonhasse: levaria à cidade corrompida de Roma a única mensagem com poder para transformar a vida dos seres humanos! O apóstolo já tinha visto o evangelho operando em cidades perversas como Corinto e Éfeso e estava convicto de que também agiria em Roma.

O evangelho transformara a própria vida dele, e Paulo sabia que as boas novas eram capazes de transformar a vida de outros. Quando cremos na mensagem do evangelho, somos justificados, salvos pela graça, agora a cada dia vamos sendo transformados à medida que nos aprofundamos no evangelho, crescendo na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.

Uma vez salvos mediante a fé somos encorajados pelas Escrituras a termo nossa vida centrada no Evangelho. Mas existem dois grandes inimigos do evangelho que precisamos ter cautela para que não sejamos impedidos, são dois extremos que exterminam nossa vida pela fé: A religião e a irreligião ou o legalismo (salvação pelas obras) e o antinomismo (cristianismo sem obediência). Estes dois inimigos são dois erros que devemos evitar. Se pendermos para um deles produzimos morte em nossa fé.

O evangelho é a boa notícia de que Deus imputou sua salvação em nós, por meio de Cristo, para nos levar a um relacionamento restaurado com ele e, por fim, destruir todos os efeitos do pecado no mundo. (Tiago 2:14-26)

 

CONCUSÃO: Lutero, de início, não podia compreender como a “justiça de Deus se revela no evangelho” (“visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”. (Rm 1:17). Para ele, a justiça de Deus só poderia condenar o homem, não salvá-lo. Tal justiça não seria “boas novas” (evangelho). Só quando compreendeu que a justiça de que Paulo fala nesse texto não é o atributo pelo qual Deus retribui a cada um conforme os seus méritos (o que implicaria em condenação para o homem), mas o modo como Ele justifica o homem em Cristo, é que a luz raiou em seu coração e a verdade aflorou em sua mente. Tornou-se, então, um homem livre, confiante e certo do perdão dos seus pecados. Compreendeu o evangelho!

            A reforma não foi principalmente um movimento negativo, um distanciamento de Roma; foi um movimento positivo, um mover-se em direção ao Evangelho. E mover-se em direção ao evangelho significa descobrir o cristianismo original, bíblico, apostólico, que àquela altura estava enterrado debaixo de séculos de tradições humanas.

É isso que mantém a validade da Reforma nos dias de hoje, pois a igreja deve estar sempre reformando e chegando mais perto do evangelho, afinal: “A Igreja reformada e sempre reformando de acordo com a palavra de Deus”. A reforma não pode acabar, deve ser uma bandeira evangélica, carregada com humildade e firmeza.

 

Texto: Pr. Mateus Silva de Almeida | Teólogo, Secretário da Convenção Paulista e Pastor da Promessa Esperança, em Jundiaí (SP). 

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