Quando a “nova” e a “antiga” Igreja se unem em prol do crescimento, Deus age poderosamente no meio dela.
Vivemos num mundo cada vez mais fragmentado, onde as gerações parecem falar línguas diferentes e viver em realidades paralelas. Sob este prisma, a Igreja emerge como um espaço de encontro e reconciliação espirituais. E, visando o crescimento orgânico e salutar, a revitalização intergeracional se torna uma necessidade, com o objetivo de apresentar uma expressão profunda do evangelho que nos chama à unidade nas gerações vindouras. Afinal, é na profundidade desses relacionamentos entre diferentes idades que descobrimos a beleza multigeracional do corpo de Cristo.
Não há como negar que existe uma riqueza incomparável em observar os mais experientes na fé compartilhando suas jornadas com os mais jovens. Esses homens e mulheres que caminham com Deus há décadas, carregam consigo as marcas da fidelidade através de diferentes gerações. Suas histórias são testemunhos vivos de que a graça de Deus os sustenta em todas as circunstâncias. Eles oferecem à geração mais jovem a sabedoria que vem do conhecimento das Escrituras e da aplicação prática dessa Palavra ao longo de muitos anos.
Os cristãos mais maduros, via de regra, possuem a capacidade singular de discernir entre o que é essencial e eterno, e o que é cultural e temporário. Esta percepção é importante para discipular em amor e cuidado os mais jovens, que muitas vezes encontram desafios para serem autênticos na fé e relevantes culturalmente. Através do exemplo, os veteranos na fé podem demonstrar que é possível se manter fiéis na Sã Doutrina ao mesmo tempo em que se contextualizam diante das mudanças, tal como Paulo fez ao se fazer “tudo para com todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1 Coríntios 9:22b).
Por outro lado, a nova geração traz consigo um conhecimento tecnológico e social muito diferente. Em trinta anos, muita coisa mudou, embora a Palavra seja eterna e imutável, mas ainda assim se renovando a cada dia. Os questionamentos da juventude, sua familiaridade com a cultura atual e sua habilidade natural com as novas tecnologias devem ser lidas como presente para a Igreja, pois desafiam a comunicar a fé de maneira criativa e relevante, sem comprometer o conteúdo do evangelho.
Assim como Paulo observou atentamente o “altar ao Deus Desconhecido” (Atos 17:23b) em Atenas, os jovens, através de seus conhecimentos da Palavra de Deus e contemporâneo, ajudam a Igreja a identificar os “altares” contemporâneos onde o evangelho precisa ser proclamado.
UM ENCONTRO POSSÍVEL
O Espírito Santo age quando estas gerações se encontram, não com propósito de julgamento, competição ou sem confronto na Palavra, mas em genuína mutualidade. Quando a geração mais antiga se dispõem a aprender sobre os novos contextos e desafios que os jovens enfrentam, e quando os jovens se abrem para receber a sabedoria dos que já percorreram caminhos semelhantes, algo transformador ocorre. A Igreja deixa de ser um campo de batalha geracional e torna-se uma comunidade de aprendizado mútuo onde todos são simultaneamente professores e alunos. A experiência dos anciãos e a ousadia da juventude são valores essenciais para o crescimento da Igreja de Cristo.
Pioneiros e neófitos precisam andar juntos, e isto pode ocorrer nos momentos mais simples, como quando uma avó ora com um adolescente; quando um idoso compartilha suas experiências com um grupo de jovens líderes; um ordenado maduro ensina o voluntariado e o serviço cristão à juventude. São nestes momentos que o amor transcende as barreiras geracionais e revela a unidade do Espírito dentro do Corpo.
Não podemos desprezar a espiritualidade que emerge destes relacionamentos. A combinação da profundidade teológica com a relevância contextual, a sabedoria experiencial com o vigor idealista, a estabilidade da tradição com a ousadia da inovação, produz uma Igreja que honra seu passado sem ficar presa a ele, que abraça o presente sem idolatrá-lo, e que se prepara para o futuro sem ansiedade, se tornando Casa de Paz.
Quando gerações diferentes servem juntas, adoram juntas e aprendem juntas, elas se tornam instrumentos do poder reconciliador e transformador do evangelho. Num mundo dividido, a Igreja se mostra como uma comunidade onde todas as idades encontram valor e propósito. Esta unidade fortalece a Igreja internamente e aumenta significativamente seu testemunho perante o mundo.
Que possamos cultivar intencionalmente estes espaços de encontro intergeracional. Que nossas Igrejas sejam lugares onde os cabelos grisalhos e os cortes mais modernos convivam em harmonia. Que a experiência pioneira e a energia da juventude se complementem. Que todas as gerações descubram que, juntas, formam um belo Corpo, o verdadeiro e unido Corpo de Cristo.
Nesta jornada de mútua descoberta e aprendizado, experimentaremos de maneira profunda a verdade de que, em Cristo, não há velho ou novo, mas todos são um – um corpo intergeracional, firmado na Sã Doutrina, unificado em fé, que reflete a imagem do Deus que resgata, reconcilia, une e capacita todas as pessoas em Seu amor.
Bruno Freitas Martins Costa | Presbítero da Primeira Igreja Adventista da Promessa em Manaus (AM), líder do Ministério de Comunicação da Convenção Amazônica, Bacharel em Direito pela Faculdade La Salle Manaus e graduando em Teologia pelo Centro Universitário Unifatecie.










