Ficamos aprisionados pelo raciocínio mundano travestido de religiosidade ativista – a maior infidelidade que o povo de Deus pode cometer!
A palavra infidelidade causa calafrios a todos: homens e mulheres, namorados, noivos ou cônjuges. Passam pelas mentes inúmeras possibilidades, sempre revestidas pelo medo como emoção principal: medo de ser traído, medo de ser traído novamente, medo de trair novamente, medo da exposição pública, medo de Deus. Mas, também aparecem a raiva, a tristeza, a frustração, a insegurança, o desprezo, os ciúmes, a soberba, a solidão, a auto piedade, dentre tantas outras possibilidades dolorosas e desagradáveis para ambas as partes envolvidas.
A infidelidade nos relacionamentos é um dos eventos mais antigos da história do ser humano e, também, o mais caótico em suas consequências… A meu ver, também é o evento menos compreendido e o mais tratado indevidamente, sobretudo no meio cristão, pois, comumente, o “infiel” é visto como o grande e único vilão da história… A minha experiência no acompanhamento de indivíduos e casais, mostra que não é bem assim… Não se trata de vítima e vilão. Nem tão pouco se trata de um problema limitado ao casal. Família e igreja também têm participação, admitindo ou não!
Forçamos o jovem seminarista a casar logo para ter “carreira de pastor”; proibimos a vivência da sexualidade antes do matrimônio, mas não ensinamos a lidar com ela; não impedimos pessoas de casarem por mera carência porque há risco de perder o membro da igreja; estamos cheios de atividades e não sobra tempo para cuidar das pessoas; não acompanhamos casais desde o namoro porque romanceamos a juventude e a paixão; evitamos tratar os problemas do próprio casamento por orgulho de admitir que líderes também sejam imperfeitos; exigimos dedicação sobre-humana dos líderes, afastando-os de suas famílias e exigimos que tenham famílias exemplares. E ainda colocamos tudo na conta de Deus… ou do diabo. Tudo isso também é infidelidade, participação no pecado. Infidelidade à aliança estabelecida com Deus acima de tudo. Afinal, a questão não é achar culpados e sim assumir responsabilidades Uma parte do corpo adoecida significa que todo o corpo está afetado… Não levamos isso a sério.
Preocupados com as aparências, negociamos a qualidade pela quantidade de membros ou de líderes nas igrejas, o que é incompatível com os valores do Reino de Deus. Deixamo-nos aprisionar pelo raciocínio mundano travestido de religiosidade ativista – a maior infidelidade que o povo de Deus pode cometer!
Felizmente a misericórdia divina renova-se a cada manhã e sempre há tempo de arrepender-se e alinhar-se ao Reino. Que a nossa meta de 2020 seja acima de tudo viver diariamente a sinceridade ao dizer: “Vê se em minha conduta algo te ofende, e dirige-me pelo caminho reto” (Sl 139.24).