Devemos agir, denunciando abusos que comprovadamente saibamos. E precisamos também orar pelas crianças, adolescentes, mães que já foram vítimas, para que sejam tratadas em suas emoções pelo Espírito Santo e por um profissional qualificado.
No mundo em que vivemos, neste século pós-moderno, vemos se agigantar a violência de todo o tipo cometida contra meninos e meninas. Essa dura realidade precisa ser combatida com nossa conscientização e denúncia, para que os sistemas públicos tomem medidas cabíveis quanto aos infratores. As agressões cometidas assumem várias formas, e hoje, 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o Promessistas.org destaca a matéria da Edição 78 da Revista O Clarim (conheça a última edição da revista aqui), que abordou a conscientização e combate de toda e qualquer violação contra crianças e adolescentes.
VIOLÊNCIAS DE TODOS OS TIPOS
As violências cometidas contra este público, podem ser são classificadas como:
– Institucional: configura o tipo sofrido em órgãos públicos e governamentais.
– Violência psicológica: pode ser todas estas ou, especificamente, aquela que oprime e desonra a dignidade da pessoa humana.
Violência sexual: contra crianças e adolescentes “é um termo genérico que se subdivide em duas modalidades principais: abuso sexual e exploração sexual.” (LANGBERG, 2022).
Diversos autores descrevem o “abuso sexual” como a forma de violência que acontece dentro do ambiente doméstico ou fora dele, mas sem a conotação da compra de sexo, podendo o agressor ser pessoa conhecida ou desconhecida da vítima.
Segundo o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, o fenômeno consiste em uma relação adultocêntrica e marcada pela relação desigual de poder, na qual o adulto domina a criança e/ou adolescente, se apropriando e anulando suas vontades, tratando-os não como sujeitos de direitos, mas sim como objetos que dão prazer e alívio sexual.
Lamentavelmente, a cena a seguir acontece em muitas casas por este nosso país. Um avô de 50 anos, divorciado, aposentado por invalidez, reside com a filha e a neta. A filha sai todos os dias para trabalhar e deixa a neta de quatro anos aos seus cuidados. O avô a leva e busca na escola. Ao chegar em casa, dá banho e alimenta a criança. Um dia, no momento do banho, ele começa a tocar nas partes íntimas da criança e tem desejos sexuais imorais. Ele passa a estimular os órgãos da criança como um ser adulto e sente prazer com esse toque.
Na escola, quando a professora utiliza a cartilha sobre abuso sexual (por exemplo: Segredo, Segredíssimo, de Odívia Barros), a criança inocentemente comenta que o vovô mexe em suas partes íntimas e faz cosquinha, mas todas as vezes diz que não pode contar para ninguém porque se não, ela não ganha doces… O vovô está muito enganado quanto ao corpo de sua neta. Ainda que seja inválido pela lei, isso não lhe dá o direito de manipular o corpo da neta e de nenhuma outra mulher. O adulto perverso precisa ser submetido à disciplina e ao tratamento, assim como a vítima deve ser acompanhada por equipe multiprofissional.
Princípios que orientam a proteção
O art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei nº 8.069/90), assegurado pelo art. 227 da Constituição Federal de 1988, aponta que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito: à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. O Estatuto ainda garante que crianças e adolescentes devem ser protegidos de toda forma de: negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento, ou seja, ainda não atingiram a maturidade de uma pessoa adulta, nem fisicamente e nem psicologicamente. Vale o mesmo para a sua sexualidade, que também não deve ser tratada como a sexualidade de uma pessoa adulta. Eles precisam ser protegidos integralmente, ou seja, a proteção de crianças e adolescentes precisa ocorrer em todos os aspectos da vida. Não basta, por exemplo, garantir a alimentação. É necessário garantir também a saúde, a educação, a segurança e todos os direitos.
Estratégicas que atuam como prevenção
Diante desse cenário, muitos se perguntam como prevenir situações que coloquem os menores em risco. Segundo o site Bebê Abril, seguem quatro propostas que ajudam a minimizar os riscos no âmbito familiar:
1. A educação sexual não é só sobre órgãos sexuais: Segundo Fernanda Teles, psicóloga e educadora parental, os pais precisam orientar sobre a função de cada membro e de que maneira devem conservar o seu corpo. Os pais cristãos, podem ensinar, inclusive, com base na Bíblia, orientando que nosso corpo é templo do Espírito Santo (1 Co 3.16-17).
2. Ensine quem pode tocar o corpo: Para que fique claro para a criança quem pode ou não tocar as suas partes íntimas, é essencial que os pais citem exemplos concretos. A psicóloga pontua que é importante dizer, por exemplo, que pais e avós podem cuidar de suas partes íntimas para higienizá-las. Mas no caso do exemplo acima, aquele avô ultrapassou esse ensinamento, então, muito cuidado ao ensinar ou indicar quais pessoas manipulam o corpo da criança. Talvez seja importante explicar que, ao tocar no corpo, esse adulto não pode fazer nenhum movimento a mais do que banhar ou limpar e não pode oferecer nada em troca. Somente o básico, nada de cócegas ou algo parecido.
3. Não duvide da criança: É preciso que ela se sinta validada ao falar. Sabemos que a criança aumenta ou inventa histórias, mas ela também omite, esconde, protege os adultos. Por isso, mesmo que tenha ganhos secundários, preste atenção ao que ela diz mas não a induza a nada.
4. “Não” é não!: Ainda na infância, é importante que a criança cresça com a consciência de que o seu “não” tem poder. Isso significa que, em um ato de respeito a ela, é imprescindível que os pais não a obriguem a trocar nenhum tipo de carinho com um adulto que ela não queira.
POSSÍVEIS SINAIS DE VIOLÊNCIA SEXUAL
Não é possível descrever todas as mudanças que podem acontecer no comportamento da criança / adolescente que está sofrendo violência sexual. Porém, o site Childhood Brasil fornece algumas pistas: mudanças de comportamento, proximidades excessivas, comportamentos infantis repentinos, silêncio predominante, mudanças de hábito súbitas, comportamentos sexuais (brincadeiras com as partes íntimas, querer ver a genitália do outro, masturbação excessiva, etc.), traumatismos físicos (marcas de agressão, partes íntimas machucadas, não permitir que sejam lavadas as partes íntimas), enfermidades psicossomáticas seguidas, negligência consigo e com o outro, baixa frequência escolar e desinteresse escolar.
Lembre-se que a criança ou adolescente não são culpados, mas sim vítimas, e precisam do acolhimento da família, da escola e também de acompanhamento psicológico.
Como agir
Se você tiver suspeita ou conhecimento de alguma criança ou adolescente que esteja sofrendo violência, a sua atitude deve ser denunciar! Isso pode ajudar meninas e meninos que estejam em situação de risco. As denúncias podem ser feitas a qualquer uma dessas instituições:
• Conselho Tutelar da sua cidade;
• Disque 100 (por telefone ou pelo e-mail disquedenuncia@sedh.gov.br) – canal gratuito e anônimo;
• Escola, com os professores, orientadores ou diretores;
• Delegacias especializadas ou comuns;
• Polícia Militar, Polícia Federal ou Polícia Rodoviária Federal;
• Número 190;
• Casos de pornografia na internet: denuncie em www.disque100.gov.br.
Precisamos denunciar e orar!
Não basta nos sentir impotentes ou enojadas. Devemos agir, denunciando abusos que comprovadamente saibamos. E precisamos também orar pelas crianças, adolescentes, mães que já foram vítimas, para que sejam tratadas em suas emoções pelo Espírito Santo e por um profissional qualificado.
Conteúdo especial de:
Elza Satiko | Psicóloga jurídica e forense, Mestre em Direitos da Personalidade, psicoterapeuta de casal e família, especialista em depoimento de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. É membro da IAP em Cariovaldo Ferreira (Maringá – PR).
Revista O CLARIM “Cactos de Estimação”. Edição 78. São Paulo: Ministério de Mulheres da Igreja Adventista da Promessa, p.
Editado por: APC Jornalismo
Referências
ALLENDER, D. Lágrimas secretas: cura para as vítimas de abuso sexual na infância. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.
ARCARI, C. Pipo e Fifi – Ensinando proteção contra a violência sexual na infância. Cartilha. Disponível em: https://bebe.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/4-livros-importantes-para-alertar-criancas-sobre-o-que-e-abuso-infantil/. Acesso em: 18 jun. 2022.
AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. A. Telecurso de Especialização na Área da Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes. São Paulo: Lacri/USP, 2000.
BARROS, O. Segredo segredíssimo. Disponível em: https://bebe.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/4-livros-importantes-para-alertar-criancas-sobre-o-que-e-abuso-infantil/. Acesso em: 18 jun. 2022.
CHILDHOOD BRASIL. 10 maneiras de identificar possíveis sinais de abuso sexual infanto-juvenil. Disponível em: https://www.childhood.org.br/10-maneiras-de-identificar-possiveis-sinais-de-abuso-sexual-infanto-juvenil. Acesso em: 18 jun. 2022.
COMITÊ NACIONAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA. Campanha de Prevenção à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes – Cartilha Educativa Disponível em: https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/sedh/cartilha_educativa.pdf. Acesso em: 18 jun. 2022.
LANGBERG, D. M. Abuso sexual: aconselhando vítimas. Curitiba: Esperança, 2002.
MENDONÇA, R. Meu corpo, meu corpinho! Cartilha física e site. Disponível em: https://bebe.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/4-livros-importantes-para-alertar-criancas-sobre-o-que-e-abuso-infantil/. Acesso em: 18 jun. 2022.
TAUBMAN, A. V. Não me toque, seu boboca! Cartilha. https://bebe.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/4-livros-importantes-para-alertar-criancas-sobre-o-que-e-abuso-infantil/. Acesso em: 18 jun. 2022.