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Cuidando da infância: o papel da Igreja em um mundo apressado

A adultização é uma onda preocupante que tem roubado a beleza e a segurança da infância no Brasil, ao induzir e atribuir a crianças responsabilidades e características de adultos. Diante deste cenário, a igreja é chamada a ser um agente de transformação, com a missão urgente de compreender e combater essa chaga.

O que é Adultização e Como Ela se Manifesta?

A adultização é a imposição de um fardo que rouba a essência e a inocência da infância, fazendo com que nossas crianças pulem etapas importantes de seu crescimento. Esse processo se manifesta de forma sutil e alarmante em nosso meio: na erotização precoce (com músicas, danças e roupas inapropriadas); no consumismo que as empurra para um estilo de vida adulto; no excesso de responsabilidades (sejam acadêmicas ou de trabalho); e na exposição digital sem limites. A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, por exemplo, revela que 93% das crianças e adolescentes estão na internet, o que as torna ainda mais vulneráveis a essa realidade.

As causas dessa adultização são diversas: desde a influência de aspectos culturais, sociais e midiáticos, passando pelo papel dos influenciadores digitais, até a sobrecarga das próprias famílias. As consequências, porém, são devastadoras, causando ansiedade, depressão, dificuldades de socialização, perda da criatividade e, nos casos mais graves, expondo-as a riscos como a sexualização precoce e o abuso.

Nosso modelo de crescimento: Cristo

Em nossa missão como igreja, somos convocados a proteger e nutrir o desenvolvimento integral das crianças. A própria vida de Jesus é o nosso modelo. O evangelho de Lucas nos mostra que Ele crescia “em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lucas 2:52).

Neste versículo, encontramos a receita para um crescimento equilibrado, que inclui as dimensões: Mental (Sabedoria), Física (Estatura), Espiritual (Graça para com Deus) e Social (Graça para com os homens).

Jesus nos mostrou que não podemos pular etapas. A ciência, por meio da Neurociência e da Psicologia, ecoa essa verdade: a criança “não é um adulto em miniatura”. Seu cérebro, suas emoções e sua capacidade de entender o mundo estão em pleno desenvolvimento, percorrendo um longo processo de maturação, com diferentes áreas se desenvolvendo em ritmos distintos e cada etapa precisa ser vivida e respeitada pelos cuidadores.

Jesus não só viveu isso, mas também nos ordenou: “deixai vir a mim os pequeninos” (Mateus 19:14), validando a importância da infância, chamando-nos a protegê-la.

 

A Igreja como Agente de Transformação

Diante do cenário de adultização, a igreja é chamada a ser um farol de esperança e um agente ativo na proteção da infância. Somos convocados a agir e isso se manifesta em ações concretas:

Ensino e conscientização: A igreja é o espaço ideal para instruir pais e líderes sobre o desenvolvimento saudável, por meio de palestras e grupos de estudo. É aqui que podemos aprender a importância de promover o brincar, o uso saudável da tecnologia e a dialogar com os filhos à luz da Palavra.

Celebrando a criança: O Ministério de Crianças e Adolescentes (MCA) deve ser um ambiente intencionalmente planejado para que a criança possa ser criança. Isso inclui ensino bíblico adequado à idade, espaço para o lúdico, com músicas e jogos, e um ambiente seguro onde os pequenos podem se expressar sem medo.

FortaleceR as Famílias: Nenhuma família deve caminhar sozinha. Como comunidade, podemos criar uma rede de apoio para que as famílias compartilhem suas lutas e vitórias, fortalecendo-as para resistir às pressões culturais.

ValorizaR Cada Fase: Nossa igreja deve ser um lugar onde a criança é celebrada em sua fase única. Isso significa ter paciência com a agitação dos pequenos e criar oportunidades adequadas para cada idade.

 

Vamos juntos nessa missão de ensinar e proteger:

Aos pais: Observem seus filhos. Eles têm tempo para brincar? Os conteúdos a que são expostos são adequados? Busquem sabedoria em Deus para guiá-los no ritmo certo.

Aos líderes: Continuem a se capacitar e a buscar entendimento sobre as fases do desenvolvimento infantil para ensinar a Palavra de forma eficaz e amorosa.

Que sejamos uma igreja que acolhe o barulho e a energia das crianças, que encoraja e celebra cada passo do seu crescimento. Ao resgatarmos o valor da infância, não apenas criamos crianças mais saudáveis, mas honramos o plano de Deus para a família.

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Provérbios 22:6)

Valquíria Ramos  | Serve a Deus na Promessa Peri, é líder do Ministério de Crianças e Adolescentes da Convenção Geral, Psicopedagoga clínica e institucional, tecnicista em Ciência da Felicidade e pós-graduanda em Neurociência.

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