Ela tinha um brilho intenso e diferente no olhar quando lhe perguntaram: “Porque, apesar de tudo, você ainda está com ele?” E ela respondeu sem hesitar: “No momento em que o conheci, percebi que não poderia mais viver sem ele! Eu realmente não consigo!”.
Quem não viveu esta euforia romântica quando encontrou seu primeiro amor, especialmente na adolescência? Uma sensação muito forte de que a nossa vida realmente perderia o sentido se não tivéssemos a pessoa amada ao nosso lado?
No entanto, quando uma mulher madura e experiente se dispõe a passar por cima de sérias falhas de caráter do companheiro, porque não consegue deixá-lo, alguma coisa está fora do eixo!
Provavelmente, conhecemos ou sabemos de alguém que é capaz de cumprir exigências absurdas, e até submeter-se ao abuso físico e psicológico, para evitar o término de um relacionamento.
Muitos de nós já tivemos em algum momento da vida uma amizade “sufocante”, que exigia exclusividade, atenção total e aprovação absoluta. Aquela pessoa que parecia não ser capaz de resolver seus problemas sem a nossa ajuda, necessitando de apoio e conselhos continuamente, até para escolher uma roupa ou decidir sobre sua carreira.
Também não é raro nos depararmos com pessoas que exibem tudo o que fazem nas redes sociais, ficando extremamente frustradas e ressentidas quando não recebem os likes que esperam ou são alvo de alguma crítica.
Esta submissão passiva às vontades do outro, a dificuldade para tomar decisões sozinha e a extrema necessidade de aprovação social são algumas das características da pessoa emocionalmente dependente. Ela geralmente vive de acordo com os desejos dos outros, para ter a garantia de que não será abandonada. Está sempre esperando que chegue alguém que lhe entenda por completo, o parceiro ideal, a amiga perfeita.
Isso a torna extremamente vulnerável a relacionamentos abusivos com pessoas que se aproveitam de sua fragilidade. Muitas vezes não percebe os abusos físicos e verbais que sofre ou até valoriza o controle e os ciúmes doentios como expressões de amor. Se, por alguma razão, questiona as atitudes da pessoa amada, é facilmente convencida a permanecer no relacionamento por promessas vazias de mudança.
Quais são as causas?
Embora não sejam as únicas, as mulheres são as maiores vítimas da dependência emocional, o que parece ter estreita relação com fatores culturais.
A mulher aprende desde cedo que deve colocar os outros em primeiro lugar. Começa na casa dos pais, assumindo mais tarefas e responsabilidades do que os filhos homens. Na idade adulta, abre mão de suas necessidades e vontades pelos filhos e pelo casamento. Quando seus pais envelhecem, geralmente cabe a ela o papel de assisti-los. Acostumadas com a ideia de que a mulher deve sempre estar pronta para servir, algumas acabam levando este modelo de conduta para sua vida afetiva.
É óbvio que nem todas as mulheres, que abrem mão de algo em função de um amor, são emocionalmente dependentes. Ter um relacionamento que busca a satisfação do outro e não somente a sua é uma forma madura e cristã de amar, pois o amor verdadeiro é capaz de se doar e se sacrificar pelo outro (1 Co 13).O problema ocorre quando as mulheres fazem de um relacionamento o centro de suas vidas, ignorando suas próprias necessidades, dispondo-se a suportar humilhações, vícios e graves falhas de caráter para não ficarem sozinhas.
Outro fator que pode contribuir para o desenvolvimento de uma conduta dependente é o ambiente onde a pessoa cresceu. Segundo Gary Collins (2004), pais ausentes, negligentes ou excessivamente rígidos e incapazes de demonstrar afeto estão, geralmente, na história de vida de quem sofre de dependência emocional.
Uma pessoa que não foi amada nem aprendeu a amar de forma saudável pode repetir o mesmo comportamento com o parceiro, procurando dar a ele mais do que lhe é pedido, esperando receber em troca o carinho de que necessita.
Por outro lado, pais que fazem tudo pelos filhos, que os protegem demais e que não os ensinam a ter responsabilidades, podem passar a informação de que o filho é incapaz de tomar decisões e agir sozinho, gerando um adulto inseguro e dependente.
Também há evidências de que a baixa autoestima está na base de comportamentos dependentes, em boa parte dos casos. Pessoas que não reconhecem o seu valor são propensas a colocar os outros em primeiro lugar e a sacrificar sua felicidade pessoal pela dos outros.
De acordo com Collins (2004): “Uma boa dose de autoestima nos dá a confiança necessária para cultivar relacionamentos profundos. Por outro lado, baixa autoestima faz com que a pessoa se sinta fraca e tímida. Isto resulta em uma tendência ao retraimento, algumas vezes acompanhada de excessiva dependência”.
Quem tem a autoestima extremamente baixa, no fundo não acredita que mereça ser feliz. Torna-se dependente do parceiro, e mesmo quando esta relação traz sofrimento, não consegue abrir mão dela porque não acredita ser capaz de viver um relacionamento satisfatório.
A necessidade de autoafirmação pode acabar sufocando o parceiro com excesso de cobranças, levando a sucessivos fracassos amorosos, alimentando ainda mais a insegurança e o comportamento dependente.
Como superar?
Todos nós temos carências, vazios, mas não podemos esperar que os outros venham suprir essas lacunas emocionais! O primeiro passo para superar a dependência emocional é admitir sua existência e decidir fazer algo a respeito.
Para tanto, é preciso abandonar a ideia romântica de que amor é sinônimo de sofrimento, pois geralmente a pessoa que tenta nos convencer disso não está disposta a dar a sua cota de sacrifício pelo relacionamento. Quem nos ama de verdade vai fazer de tudo para nos ver felizes, jamais para nos machucar e entristecer.
Também é essencial desenvolver a autoestima, aprender a lidar com a crítica e a rejeição, lembrando que Deus nos ama e nos valoriza, a despeito de nossas imperfeições. Ele nos fez com capacidade para cuidarmos de nós mesmas e com características peculiares que nos tornam capazes de atrair e cultivar relacionamentos sinceros, nos quais não precisamos abrir mão da nossa individualidade, da aceitação e do respeito.
Para quem sofre de dependência emocional parece mais fácil viver à sombra dos outros, buscando uma felicidade que vem de fora. No entanto, a verdadeira segurança afetiva vem de dentro de nós, quando cultivamos o respeito pessoal e decidimos assumir o controle de nossas vidas.
No entanto, o passo mais importante para que isso aconteça é aprender a confiar em Deus e desenvolver um relacionamento íntimo com Ele, crendo que só Ele nos ama de forma perfeita e somente nele nossos vazios são preenchidos.
Romi Campos Schneider de Aquino, mãe do Henrique e do Davi, é psicóloga, auxilia seu marido Luciano no pastorado das Igrejas Adventistas da Promessa de Ana Terra e Monte Castelo, em Colombo -PR e integra a equipe do Ministério Vida Pastoral Geral da IAP.
*texto publicado na edição 67 da revista O Clarim (jul a dez/ 2016)
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