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Ecos de Wittenberg

Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.
Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé. (Romanos 1.16-17)

De um lado, um sistema religioso falido, frio, maquiavélico, manipulador, preocupado com o poder terreno e lucro financeiro.
Do outro lado, um Deus acolhedor, justo, juiz, revelador, disposto a ir de encontro aos corações sedentos.
Antecedendo a Reforma Protestante ocorrida em 31 de outubro de 1517, tivemos na história mundial alguns incidentes, com participação de pessoas que ansiavam por Deus. João Huss disse: “Podem matar o ganso (na sua língua huss é ganso) mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar”. Cento e dois anos depois de João Huss expirar na fogueira, “o cisne” afixou, na porta da Igreja em Wittenberg as suas 95 teses contras as indulgências, ato que gerou a Reforma Protestante.
Calcula-se que pelo menos um milhão de albigenses foram mortos na França, a fim de cumprir a ordem do papa Wyclif, “A Estrela da Alva da Reforma”, morto na fogueira na Boêmia. Jerônimo de Praga: erudito que sofrera o mesmo suplício cantando hinos nas chamas até o último suspiro. João Wessália: preso por ensinar a salvação pela graça, morto quatro anos antes do nascimento de Martinho Lutero. Na Itália, 15 anos depois de Lutero, nasce Savonarola, homem dedicado a Deus e fiel pregador da Palavra, homem de oração e contemplação, foi enforcado e seu corpo reduzido a cinzas por ordem da Igreja Romana. Em tempos assim, nasceu Martinho Lutero. Sua família era pobre. Dizia ele: “Sou filho de componeses; meu pai, meu avô e meu bisavô eram verdadeiros componeses”. A isso, acrescentava: “Há tanta razão para vangloriarmo-nos de nossa ascendência, quanto há para o diabo se orgulhar da sua linhagem angélica.”
Por pensamento assim, vemos que estaríamos diante de uma pessoa que não era soberba, orgulhosa, insensata. A história nos relata que, em determinados momentos para estudar, Martinho Lutero esmolava, dependo da caridade alheia, até ser adotado, na cidade que estudava, por D.Úrsula Cota.
A alma de Lutero suspirava por Deus: “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (Salmos 42:1-2).
Vários acontecimentos o influenciaram a entrar para a vida monástica, fato que entristeceu profundamente seu pai, que se tornara um abastado comerciante, que desejava que seu filho fosse um eminente advogado.
Quando pode ler a Bíblia completa, exclamou: “Oh! se a Providência me desse um livro como este, só para mim!” Mais tarde, ganhou uma Bíblia para a sua imensa alegria. Pela leitura das Escrituras, seu coração começou a perceber a luz e a sua alma, a sentir ainda mais sede de Deus.
Quando visitou Roma, ajoelhado para pagar penitência, o Senhor falou ao seu coração: “o justo viverá da fé”. Imediatamente, Martinho Lutero se levantou e os ecos da sua crença, vindos de Wittenberg, alcançariam corações sedentos pelo evangelho em todo o mundo e ainda hoje, aqui e agora, pois corações sedentos precisam de confissão relevante. As boas novas do evangelho vêm preencher a lacuna existente nos nossos corações.
Há um poder advindo do Evangelho de Cristo, este poder é o “verbo que se fez carne e habitou entre nós e vimos Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheia de graça e verdade.” Este poder é a Palavra de Deus personificada, palpável, não são fábulas artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a Sua majestade (II Pedro 1.16). Eu preciso confessar para você, eu preciso pregar,…pois aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação (I Co 1.21). O meu coração ferve com palavras boas, falo do que tenho feito no tocante ao meu rei; a minha língua é a pena de um destro escritor (Sl 45.1).
É relevante dizer com um santo entusiasmo incontido que pregamos a Cristo, poder de Deus e Sabedoria de Deus (I Co 1.24 – b). Como Paulo, não se envergonhe do evangelho, centralize seu coração nesta verdade incontestável, segura, real pela qual Martinho Lutero arriscou a morrer, sendo salvo por misericórdia divina. Você crê? “Se creres, verá a glória de Deus”. Se você crer, viverá uma vida digna do evangelho, mudada e moldada nos padrões divinos.
Quando Martinho Lutero creu, entendeu que a salvação é por fé unicamente na pessoa de Cristo, ele começou a praticar o evangelho com uma firme decisão de não voltar atrás, mesmo com as perseguições que poderiam custar a sua vida. Ele disse: “Ainda que haja em Worms tantos demônios quantas sejam as telhas nos telhados, confiando em Deus, eu aí entrarei.”
A história relata que, ao avistar as torres das Igrejas de Worms, levantou-se na carroça em que viajava e cantou o seu hino mais famoso da Reforma: “Ein Feste Berg” (“Castelo Forte”), considerado o maior hino do maior homem do maior período da História da Alemanha, palavras de James Moffat. “A Marselhesa da Reforma”, só na língua inglesa, teve pelo menos 63 traduções deste hino, ele também está no nosso Brado de Júbilo, número 128.
Deus levantou um jovem estudante, que tinha sede das suas palavras e um temor imenso, inicialmente por medo, depois por temor do inferno e, finalmente, por amor arraigado no seu coração pelo simples privilégio que teve ao encontrar a Bíblia Sagrada e saborear sua leitura.
Aos 24 anos, foi ordenado sacerdote. Aos 25 anos, em 1508, era professor de Teologia na Universidade de Wittenberg. Desafiou a infalibilidade e a autoridade papal. Pregava que todo mundo devia ler a Bíblia. Traduziu a Bíblia ao povo alemão, pois as que existiam eram em forma de alemão latinizado que o povo não compreendia, pois era um agregado de dialetos. Ele a simplificou para o uso dos mais humildes. Estimulou o canto congregacional, que praticava com sua família nos cultos domésticos.
Num contexto religioso que vivemos de exploração da fé, num país que se vangloria pelo aumento do número de evangélicos, a reforma espiritual é necessária, pois falta fé confissional, sobra fé superficial, há muita fé de carismas, falta fé de caráter.
Hoje, ao relembrar os ecos de Wittenberg, é também o dia do basta de viver uma vida aquém do evangelho, é o momento de voltamos ao evangelho puro e límpido que a Bíblia diz: “Poder de Deus para todo aquele que crê”.
Lutero tinha o costume de orar horas a fio, profetizava, evangelizava, falava em línguas e interpretava, com muito entusiasmo deu continuidade à revelação bíblica que recebeu. Hoje é contigo, comigo, conosco: fazer valer o evangelho, poder de Deus para a salvação de todo o que crê.
Que tal começamos com pequenas coisas? “… porque, quem despreza o dia das coisas pequenas?” (Zc 4:10). A Reforma, que necessitamos hoje, ainda se inicia pela Palavra de Deus. Em vez de termos classes vazias nas Escolas Bíblicas sabatinas, que tal participarmos mais pontualmente do estudo na Escola Bíblica? Que tal ministrar um estudo bíblico a alguém? Por que não participar de um grupo de comunhão familiar ?
As 95 teses (ou defesas do evangelho) fixadas na Igreja de Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517, ecoam hoje no amor pelo evangelho, que transforma, limpa, cura e nos faz cidadãos do céu. Cabe uma reflexão: estamos vivendo este Evangelho, poder de Deus para salvação de todo o que crê?
Pr. Omar Figueiredo dos Santos é responsável pelas IAPs em Jardim Paineira e Itaquera, na Convenção Paulistana Leste.
Referências
Bíblia Sagrada Plenitude
Herois da Fé – Orlando Boyer –Editora CPAD
Se os Hinos Falassem – Volume I – Editora JUERP

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