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“Ir ao psicólogo não é falta de fé”; confira a entrevista com a psicóloga Mayara Silva

O Janeiro Branco é uma campanha de conscientização de saúde emocional e mental, que tem por objetivo chamar à atenção para a importância desse assunto, e estimular prevenção e cuidados.  Esse tema deve estar no topo da preocupação nacional, já que dados da OMS mostram o Brasil como sendo o país mais ansioso (18 milhões) e o quinto mais depressivo (11 milhões) no mundo, sem contar da influência da pandemia da Covid-19 sobre a população.

Diante da relevância do assunto, O Promessa Conecta entrevista a psicóloga Mayara Fernanda dos Santos Silva (CRP 10/05965). Atualmente, ela trabalha como psicóloga escolar do Colégio Intelectual Bilíngue e como psicóloga da Faculdade Cosmopolita, em Belém (PA), e faz parte da Igreja Adventista da Promessa de Águas Lindas, em Ananindeua, na região metropolitana da capital paraense.

 

Promessa Conecta. Por que temos uma grande resistência à busca de cuidado profissional, quando o assunto é saúde mental? Há uma explicação básica para isso?

Mayara Silva: Como cada sujeito é único, nós temos um leque de motivos para essa resistência. Porém, alguns pontos são mais vistos, que a gente percebe como psicóloga. Um destes, é que a terapia é um processo muito doloroso. Você vai para a sessão e a li você vai abrir a alma, com uma pessoa que você nunca viu na vida; requer também, investimento de tempo, e hoje em dia, diante da realidade em que vivemos, onde todos exigem rapidez, querem ir numa sessão e resolver sua vida inteira, e terapia é um processo.  Outro ponto que é uma barreira para a Psicologia, é a forma como essa ciência é vista pela população. O psicólogo é visto um como profissional que atua apenas em casos de saúde emocional grave, e não no tratamento preventivo.

Por último, a percepção de que ir ao psicólogo é falta de fé. Ir ao psicólogo não significa que sou menos cristão, que desacredito da oração, que não acredito em Deus, pelo contrário, assim como vou buscar uma avaliação médica quando não estou bem, da mesma forma, as minhas emoções são importantes, a minha saúde mental é importante. Esses são pontos importantes, que impedem a busca da terapia.

 

Psicóloga Mayara Silva

PC. Amizades têm seu papel numa boa saúde emocional, mas diante de uma doença dessa natureza, qual a importância de recorrer a um profissional, e como as próprias amizades podem sinalizar ao doente que é melhor buscar ajuda de um psicólogo/psiquiatra.

MS. É importante refletir que o psicólogo estuda pra isso, compreender o ser humano. A gente aplica técnicas e não apenas uma troca de conversa. É uma escuta ativa, diferenciada. A terapia é focada no paciente, um espaço reservado para falar de você. Há o sigilo e o não julgamento. O psicólogo está ali para orientar e para traçar estratégias para que o paciente possa compreender o seu caminho, nas áreas emocionais, sentimentais, de relacionamento, com o intuito de que ele possa crescer e evoluir.

Essa comparação não tem como ser feita! O amigo traz um conselho com base em sua história, mas o psicólogo trabalha com o que o paciente traz de sua vida. Isso requer tempo e investimento, que são habilidades do profissional psicólogo. Outra diferença, é que um amigo traz soluções imediatas, e nem sempre é isso que você precisa. Não existe receita pronta, até porque somos únicos!

 

PC. Quais os caminhos possíveis para viver uma vida emocional mais equilibrada?

MS. Não há “fórmula mágica”, mas alguns passos são importantes:

1. Alimentação saudável; 2.Fazer exercícios físicos;

3. Ter uma boa noite de sono – criar uma espécie de “rotina de sono”: banho quente ou frio, ouvir música, fazer alguma técnica de relaxamento, ler um livro… Isso ajuda a “pegar no sono”. Quando você não consegue dormir bem, é algo que você já deve procurar um profissional.

4. A meditação, tanto a espiritual como a meditação para melhorar o foco, ou aumentar o poder de concentração; 5. Investir em relações saudáveis e detectar as que podem ser tóxicas; 6. Verificar se o ambiente de trabalho é positivo; 7. Construir uma rotina no cotidiano; e 8. Compartilhar o que você sente, e a terapia é o espaço para isso.

 

PC. A saúde emocional na igreja ainda é tabu, mas como supera isso? Como a igreja pode ser terapêutica e quando deve encaminhar a um terapeuta?

MS. Em relação à igreja, sabemos que a orientação é muito importante. Mas é também relevante, saber quando se precisa “passar” a bola. Os profissionais estão envolvidos em uma espécie de “teia”: o psicólogo deve saber quando passar a “bola” para o psiquiatra, para um neurologista… Dessa forma, o pastor deve saber a hora de passar para o profissional de saúde. Isso se vê, quando conselhos e orações não são o bastante. A pessoa continua numa situação de sofrimento. Aí se verifica que o casal, o membro… precisam de terapia.

Esse assunto deve ser mais comentado e refletido na igreja. Ela é uma aliada da saúde emocional. Quando se fala disso nas comunidades cristãs,  o membro entenderá quando precisar de ajuda psicológica, e que se cuidar nessa área, não é falta de fé, afinal, somos seres completos: emocionais, físicos e espirituais. Quando fazemos terapia cuidamos desse ser plenamente.

 

 Saiba mais:

Instagram: @refletiir_psi

Janeiro Branco: https://janeirobranco.com.br/.

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