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Espíritos em prisão

A imortalidade não é inerente ao homem, mas adquirida
Por João Augusto da Silveira (In memorian)
Não há nada mais forte, mais concludente, e mais esmagador, dizem os imortalistas, [isto é, os que acreditam que os seres humanos possuem uma alma imortal], contra a doutrina da mortalidade da alma pregada por nós, do que o texto de 1 Pedro 3:19-20: no qual foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais, noutro tempo, foram rebeldes, quando a paciência de Deus esperava, enquanto a arca era construída nos dias de Noé; poucas pessoas, isto é, oito,  salvaram-se nela por meio da água.

Para nós, os mortalistas [isto é, os que acreditam que o ser humano não tem uma alma imortal], que não damos créditos à mentira pregada pela serpente no jardim do Éden: “Certamente não morrerás”, o verso em questão, cuidadosamente examinado à luz da palavra de Deus, nada encerra no que os imortalistas querem conferir. O argumento que tiram dos versos citados é que Jesus, entre a sua ressurreição e ascensão ao Pai, foi e pregou aos espíritos em prisão, isto é, aos espíritos dos que ouviram a pregação de Noé, mas que não se arrependeram, e que ficaram presos em determinado lugar, esperando outra oportunidade para serem salvos; oportunidade esta que encontraram pela pregação de Cristo, em pessoa, antes da sua volta ao céu. Dizem: “Como os mortalistas podem explicar a pregação de Jesus aos espíritos em prisão, quando eles afirmam que o homem não tem espírito imortal, sendo que o versículo nos diz que estes espíritos estavam encerrados desde dois mil anos, aproximadamente, de Noé à ressurreição de Cristo – e, portanto, imortais”?
Respondemos que, se o argumento tirado do verso em apreço, constitui uma verdade em favor da doutrina da imortalidade incondicional, ou seja, de que cada pessoa possui um espírito ou alma imortal, as Escrituras Sagradas teriam de colidir entre si, pois afirma-nos categoricamente que só Deus é o que possui a imortalidade: Aquele que tem, Ele só a imortalidade e habita na luz inacessível… (1 Tm 6:16).
A imortalidade não é inerente ao homem, mas aderente, adquirida – prova isso o fato de que Deus, considerando acerca da queda do homem, disse: Eis que o homem é como um de nós [em que?] sabendo o bem e o mal, agora, pois, para que ele não estenda a mão e tome, também, da árvore da vida, e coma e viva eternamente – no que era diferente da Trindade – O Senhor pois o enviou para fora do jardim do Éden para lavrar a terra de que fora formado: E havendo lançado o homem pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, para guardar o caminho da vida (Gn 3:22-23).
Aqui perguntamos: como se explica o fato de Deus lançar fora o homem do jardim, privando-o da imortalidade que lhe era condicional, mediante o comer da árvore da vida, para não viver eternamente, se Deus ao criá-lo o dotou de um espírito ou alma imortal, que vive eternamente? Não seria classificar Deus de incoerente, se isso fosse verdade? Não zombaria o mesmo homem, lá fora do jardim, do próprio Deus, por esta incoerência do Criador?
Passemos a considerar, agora, os versos de 1 Pedro 3:19-20, e vejamos se os espíritos em prisão, de que nos fala o apóstolo, eram os espíritos dos que, nas águas do dilúvio, pereceram em virtude da rejeição da mensagem de Noé, atinente ao dilúvio, ou se foram os próprios homens com quem O meu Espírito não contenderá [lutará ou pelejará] para sempre (Gn 6:3). Este texto mostra que o Espírito de Deus entrou a contender com aquela geração, dando-lhe um tempo de graça para que se arrependessem, tempo este que foi de cento e vinte longos anos (Gn 6:3).
Comparando Gênesis 6:3 com 1 Pedro 1:9-11 fica esclarecido que o Espírito de Cristo estava nos profetas anunciando a salvação das almas (v.9), o que Noé, profeta daquela geração – pregoeiro da justiça (2 Pd 2:5), deu pelo Espírito de Cristo a mensagem aos espíritos em prisão – homens presos em delitos e pecados -, tal como Jesus encontrou o próprio povo judeu e encontrará o mundo descuidado em sua segunda vinda (Mt 24:36-39). Compare ainda as passagens seguintes, com as que acima já foram citadas (Hb 1:1; 2 Co 5:18-20). Foi isto que o Espírito de Deus fez por meio de Noé, e continua fazendo com os “espíritos em prisão” [homens presos em delitos e pecados] que continuam, como os daquela geração, rejeitando o doce convite da mensagem da graça ao mundo.
Eis o que nos instrui a palavra de Deus quanto à questão dos espíritos em prisão de que nos fala o apóstolo Pedro. Entretanto, se os nossos amigos imortalistas não a creem, em nada altera a verdade, antes os põem em maior embaraço, pois dão asas assim ao espiritismo, que sustenta a existência dos espíritos dos que faleceram, e que para os tais existe outra oportunidade, e reforçam ainda a doutrina católica, de uma possível salvação das almas do purgatório, em detrimento da doutrina protestante, que ensina uma única oportunidade baseada em Hebreus 9:27. Nós, os Adventistas da Promessa, não nos afastaremos desta doutrina, para negar a importância da segunda vinda, e a ressurreição dos mortos nele, em sua vinda, necessidade esta que deixa de existir, se os mortos podem ir a Deus antes destes importantes acontecimentos.
(Texto extraído de “O Restaurador”, nº 56, de Junho de 1945, p. 2-3).
 
 

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