O consumismo nos empurra para o supérfluo e desnecessário, fazendo-nos vítimas da competitividade
“Para quem está de barriga cheia, o mel mais doce não tem valor mas para quem está morrendo de fome, qualquer sobra de comida é deliciosa”.
Sou do tempo que pizza era comida de rico. Na minha infância, pizza era sempre feita em casa, jamais encomendada, ir numa pizzaria nem pensar. E a pizza feita em casa se resumia a um ou dois eventos no ano. Enfim, um acontecimento!
Tudo mudou. Em praticamente todas as classes sociais vive-se de festa em festa. Pizza é só mais um item no cardápio do entretenimento. Tem também hambúrguer, temaki, pastel, churrasco, fondue, sorvete, esfiha, tapioca, churros, quindim, rodízios, hot dog, comida caseira, pratos italianos, portugueses, japoneses etc. E tudo ali, a um toque do telefone, a um click do computador ou a um girar de chave no carro para ir até o endereço desejado.
Assim, o que era um acontecimento aguardado com salivas provocadoras no apetite – caso daquela pizza semestral – tornou-se trivialidade de todo final de semana. A quinta-feira chega acompanhada por perguntas. O que vamos fazer neste final de semana? Aonde vamos? Quem vai? Vai a galera toda? Precisamos fazer alguma coisa!…
Festas que passam a ser triviais deixam de ser festas. Caem na rotina normal. Começa então a procura por mais e mais sabores e emoções que preencham exigências insaciáveis por mais e mais entretenimento. Afinal, vivemos no tempo de uma geração hiperativa, antenada e conectada a tudo, aparentemente tendo tudo a mão, porém constantemente insatisfeita, incompleta, cansada.
Este é um dos maiores perigos do nosso tempo, achar que tudo vai bem, que tudo está bom como está e se deixar prender num ciclo interminável de eventos e atividades que ocupam todo o nosso tempo, passando a falsa impressão de realização e de bom conteúdo, quando, na verdade, está se produzindo um número crescente de corações vazios e fracos. Fracos para reagir, romper o ciclo e buscar uma nova fonte de alimento para a alma.
Voltando à humilde pizza de ontem e às múltiplas variedades gastronômicas de hoje. Assim como todas as tecnologias atuais frustraram nossa expectativa quanto a termos mais tempo disponível, a multiplicidade de alimento para o corpo e entretenimento para a cabeça apenas iludem a satisfação, pois geram mais e mais insatisfação.
Fome é o resultado inesperado, afinal, com tanta oferta, quem imaginaria uma geração sofrendo de fome? Ela cresce e mata milhões todos os dias no mundo inteiro. Não só no físico, mas também na alma. Pois a fome de esperança, de sentido e de vida vai matando aos poucos. Pessoas depressivas, estressadas, no limite, são mais comuns do que imaginamos.
Embora esta geração goste de exibir e ostentar suas pequenas e mais banais conquistas, a fome de propósito aumenta. Apenas como um exemplo dentre tantos, multidões de jovens da classe média, com pai, mãe, faculdade, bens e recursos, estão se atolando no álcool, nas drogas, nas mais variadas possibilidades de fantasias sexuais, na pornografia. E cada vez mais famintos, vão consumindo estes tipos de alimentos que só fazem aumentar a fome que é provocada por vidas cada vez mais vazias.
São fomes que as pessoas não gostam de admitir. São fomes latentes. São fomes que se deixam enganar pelas falsas promessas dos alimentos em forma de prazeres e entretenimentos que garantem dar realização. São fomes invisíveis, porém reais e presentes nos anseios de toda uma geração sem rumo. E presa. E enganada. E escrava de um ciclo aparentemente inocente. Um ciclo do qual a maioria não consegue sair por conta de uma única, e ironicamente verdadeira, explicação: Não tenho tempo… e não tenho tempo devido a minha agenda totalmente tomada por festas, festas e festas…
Esta geração precisa de um banquete. Sinto que ele está chegando. E sinto por causa da evidente fome que paira no ar. E este banquete eu e você podemos oferecer. Pelo menos é o que diz Provérbios 27:7, na tradução da Bíblia Viva: “Para quem está de barriga cheia, o mel mais doce não tem valor mas para quem está morrendo de fome, qualquer sobra de comida é deliciosa”.
Entendeu porque afirmei que eu e você podemos oferecer este banquete? Porque Provérbios afirma que, para um faminto, qualquer sobra de comida é um prato delicioso. Ou seja, desculpas como “não sei falar” e “conheço muito pouco de Bíblia” não encaixam no quadro atual. Você, do jeito que você é e com o conhecimento que tem, pode ser usado neste tempo para alimentar a fome de alguém. E alimentar com uma comida deliciosa, enquanto reparte com um ou vários Aquele que lhe alimentou e sempre lhe alimentará, Cristo, o pão vivo que desceu do céu.
Já ataquei, literalmente, sobras de comida da minha casa que foram um banquete para mim, tamanha a fome que eu estava. Para além deste tipo de banquete, necessário, pertinente e urgente, teremos, sim, um banquete inimaginável pelas cabeças mais criativas de Hollywood. Nos assentaremos à mesa com Cristo, com os apóstolos, com os profetas e com os salvos nEle de todas as eras. Sinto que este banquete se aproxima a cada dia de nós. Sinto que ainda existem muitos lugares nesta mesa coberta com a toalha da Graça. Por que sinto? Simples, todos os dias, em cada jornal e telejornal, em cada shopping, em cada praça, em cada campo de guerra, em cada marcha social, em cada bar, em cada prostíbulo, em cada plantão médico e em cada notícia urgente, vejo como síntese de toda a massa de informação apenas uma palavra: Fome.
Pr. Edmilson Mendes congrega na IAP em Pq. Itália (Campinas) e integra o Departamento Ministerial – Convenção Paulista e Geral.