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Hospital sim; matadouro, jamais

O abandono de pacientes à morte num hospital em Curitiba deve nos levar a refletir se somos, de fato, uma igreja terapêutica



“Eu preciso sair daqui, pois tentaram hoje me matar desligando os aparelhos”. Este foi o pedido de socorro por escrito, de uma paciente de 46 anos de idade. O episódio teria ocorrido quando a mesma estava internada na UTI de um hospital, sob os cuidados da médica Virgínia Soares de Souza. Esta foi presa sob a acusação de antecipar a morte de pacientes em estado grave. Segundo ex-funcionários do hospital, Virgínia costumava antecipar a morte de pacientes em estado grave por meio de práticas de diminuição de oxigênio, desligamento de aparelhos e “abandono” de pacientes que sofriam de parada cardíaca, segundo o Portal Terra. Chocante, não é? O que mais causa indignação é que tais mortes ocorreram num ambiente em que a vida deveria ser valorizada até o último segundo, não o contrário disso.
Se as acusações forem verdadeiras, a médica em questão infringiu não somente uma lei estabelecida pela constituição do Estado brasileiro, mas, acima de tudo, uma lei divina, cujo propósito é o de preservar a vida humana: não matarás (Êx 20:13). Esta ordem divina é, dentre outras coisas, uma prova do amor de Deus para com a humanidade. Deus valoriza o ser humano, logo, preserva a vida deste. Deus nos amou a ponto de entregar o seu Filho unigênito em nosso favor (Jo 3:16). Deus não nos deseja o mal, somente o bem. Este mandamento também expressa o desejo do Senhor de que amemo-nos uns aos outros. Se Deus valoriza a minha vida, devo imitá-lo valorizando a vida do meu próximo. Quem sou eu para ceifar a vida de outrem? Que autoridade tenho eu de faltar com o respeito e de ignorar a dignidade do outro? Deus não aprova tamanha brutalidade.
No decorrer da minha vida cristã, sempre me disseram que a igreja é um hospital onde as pessoas doentes são tratadas, e que nós, os crentes, participamos desse processo ajudando esses “pacientes espirituais” a alcançarem êxito na cura. Paulo, um mestre das Escrituras, comparou a igreja a um corpo em que os membros tanto dependem uns dos outros quanto ajudam uns aos outros (1 Co 12:12-26). Concordo veementemente com ambas as comparações relacionadas à igreja. De fato, o cabeça (Cristo) deste corpo (igreja) é perfeito, mas o corpo em si, não. Há pessoas gravemente enfermas em nosso meio. São pessoas que clamam por socorro por meio de um choro incontido, de um olhar cabisbaixo, de um semblante abatido, de um pedido de oração. Precisam de ajuda e devem recebê-la.
O problema, no entanto, é que muitos na comunidade cristã não conseguem enxergar dessa maneira e, ao invés de ajudar a resolver o problema, se tornam o problema. O resultado é o homicídio espiritual de muitos. A igreja deixa de ser um hospital e torna-se um matadouro. Pessoas estão fora da igreja porque não aguentaram o radicalismo imposto por uma minoria (ou maioria). Outros, porque ao invés de se sentir em casa, na companhia de irmãos, acabaram sendo abandonadas à margem de todos, no isolamento. Como uma ovelha longe do aprisco, continuaram perdidas e, pior, sem ninguém para resgatá-las. Penso que cada um de nós, que amamos a igreja de Cristo e o Cristo da igreja, precisamos refletir se estamos fazendo da mesma um hospital útil para a restauração de enfermos. Deus ama e quer salvar a todas as pessoas a despeito de seus problemas e pecados. Amemos, respeitemos, ajudemos uns aos outros de maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam. (1 Co 12:26)
Ms. Jailton Sousa Silva é colaborador do Departamento de Educação Cristã da IAP e congrega na IAP em Vila Augusta.

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