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Idosos não querem só cadeira de balanço

Uma reflexão que alcança todos os pastores jubilados, suas famílias e igrejas.
Nestes últimos dias, tenho pensado na condição dos idosos. Não propriamente no físico deles que, inevitavelmente, os enfraquece, diminui o ritmo, a destreza, e acrescenta dores, mas no paradoxo que o tempo lhes impõe. Quanto mais anos uma pessoa tem, mais poderia falar, no entanto, quanto mais anos o idoso alcança, menos ele é ouvido, recebe atenção, é percebido.  Eliú em Jó 32:6-7 disse: “Eu sou de menos idade, e vós sois idosos; receei-me e temi de vos declarar a minha opinião. Dizia eu: falem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria”.
Minha esposa, uma noite, quando cheguei do trabalho me disse: “a mãe esteve reclamando”. Eu perguntei: “reclamando do quê?” Para minha surpresa e reflexão, ela respondeu: “reclamou que está velha, não consegue fazer as coisas que gostaria, não consegue viajar para rever os amigos, tem poucos com quem conversar e sente-se sozinha.” Levei um susto e confesso que pensei em acordá-la para conversarmos.
Antes de me deitar fui à sala e peguei uma revista que minha filha assina. Minha tensão aumentou, pois a matéria que li trazia a seguinte informação: “A falta de saúde mental dos idosos está diretamente ligada aos sentimentos de solidão, é o que afirma estudo realizado na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Idosos que não têm família, ou que se sentem sozinhos, apesar de terem outros por perto, tendem a ter pior saúde física e mental.” Os pesquisadores afirmam que a solidão e o isolamento podem afetar a saúde de diferentes formas, por exemplo, aumentando o estresse, reduzindo a autoestima e podendo levar à depressão” (Revista Psique, nº 73).
Não perdi tempo, no dia seguinte, parei para ouvi-la, misturando um CD de presente, com parte de meu tempo. Selamos assim a paz com o diálogo, varrendo folhas no quintal.
Tenho por certo que é agressão o ato que desata a relação entre novos e idosos. Porém, os hematomas dessa agressão localizam-se na derme do coração. Neste, somente um olhar genuinamente cristão poderá enxergar. É bem verdade que o passar do tempo encurta a passada, embaça o horizonte, distancia os sons e confunde os cheiros, mas o tempo tem muito para falar. Em Sl 71:18 lemos: “Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que tenha anunciado a tua força a esta geração, e o teu poder a todos os vindouros”.
Toda a família tem seu idoso, e na via de retorno, todo idoso tem direito a uma família. Que esta não o negligencie, sentindo-se confortável porque comprou-lhe uma cadeira de balanço, para ele ouvir o cantar dos pardais, o ladrar dos cães, restando dizer: “estou consumido Pai, não tenho mais nada para servir”. Igualmente, toda igreja tem os seus idosos, com direto à  uma igreja, que os ouça, acolha, se importem com eles e os deixem falar.  No art. 3º da Lei nº 10.741 encontramos: “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.”
“Na velhice, eles ainda produzem frutos; são sempre fortes e cheios de vida.” (Sl 92:14 – NTLH)
Ismael Pinto Narcizo é pastor na IAP em Douradina (MS).