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“Joelho de ouro” na São Silvestre

Depois de um grave acidente, Deus me restaurou para correr
Por peraltice, em 1997, me acidentei com uma tonelada de chapa de aço na empresa de meu pai. Na época eu estava com 19 anos e tinha acabado de passar para o 2º ano da faculdade. O acidente foi mais que terrível e, felizmente, não lesei nada mais que “partes moles” (ligamentos, tendões e meniscos) de meu joelho direito, além de me livrar de uma hemorragia interna, porque havia travado o sangue na safena (uma veia importante da perna).
A primeira cirurgia foi na semana seguinte, depois a segunda em 2000, para uma pequena correção, mas durante esta, apareceram algumas complicações. Em 2001, foram mais duas, já com um médico especializado em joelhos (eu conto como duas, mas o ortopedista me informou que foi uma cirurgia em dois tempos, com intervalo de um mês). Para piorar, durante a fisioterapia, eu simplesmente perdi toda a correção ao tropeçar num buraco, em uma das calçadas do centro de São Paulo. Em 2002, fui submetida à quinta cirurgia, com milhões de recomendações. Em 2004, surgiu a notícia da sexta operação, foi quando perguntei ao médico se, além da cirurgia, existiria outra possibilidade. A resposta foi que eu seria uma aluna com frequência permanente numa academia, e que salto alto e exercícios de impactos estariam excluídos da minha vida.
Demorei para tomar a decisão, porém, em 2005, matriculei-me na academia  onde estou até hoje. Depois desta atitude vieram os desafios. Um deles é que sempre fui obesa e não ligava para isso, queria apenas evitar mais uma cirurgia e acabar com as constantes dores no joelho. Na academia, consegui fortalecer muito o joelho e me livrei da suposta sétima cirurgia. Quando o médico me deu esta feliz notícia, voltei a perguntar sobre meus sonhos, se já poderia usar salto alto e correr. Infelizmente, a resposta do médico foi que eu não tinha um joelho bom para isso, além de que, para correr, eu teria que deixar de ser obesa. Confesso que sai chateada da consulta, naquele dia.
Continuei firme na academia e, pela imensa vontade de correr, iniciei treinos com um personal trainer, compartilhando com ele os meus desafios e alvos. Foi muito difícil dar os primeiros passos caminhando numa esteira, mas depois de algumas insistências, eu já estava trotando.
Em janeiro de 2010, quando vi uma reportagem sobre os últimos colocados da São Silvestre, tomei como meta enfrentá-la, em dezembro de 2010. Conversei com minha família e com o treinador, e todos concordaram. Fui conversar com o ortopedista, que ficou muito surpreso com a decisão e passou-me recomendações e tarefas para executar durante o ano. Nutricionista, endocrinologista e personal trainer foram sugeridos para o tratamento.
Por alguns anos, eu lutei para perder peso e, com uma meta, consegui perder exatos 17 quilos, juntamente com o “massacre” na academia. Muitas vezes, pensei em desistir porque já não tinha mais fôlego para os treinos, ainda bem que eu tinha uma  equipe dando-me força nesses momentos.
Realizei provas de corridas de rua, que foram utilizadas como treino para ter um bom desempenho na São Silvestre.
Finalmente chegou dia e, enquanto eu esperava a largada, meditei nas mudanças ocorridas em minha vida: antes do acidente, era obesa e sedentária e depois estava ali, pronta para cumprir a meta do ano e me tornei corredora de rua, de coração, corpo e alma. Consegui completar a prova em 2h02, com muita felicidade e emoção, graças a Deus!
Atualmente sou uma pessoa adepta de corridas de rua e já me organizei para um ano de 2011 cheio de provas de corrida, incluindo minha primeira meia-maratona, se Deus me permitir.
Minha mente, que sempre se ocupava com a frase: “não posso fazer nada de atividade física, pois tenho um ‘joelho de cristal’”, agora, por graça divina, foi mudada. Antes, era joelho de cristal, mas agora Deus me deu um joelho de ouro.
Kenia Benocci de Macedo, membro da IAP em Vila Maria (SP)