Ele voa. Ele resiste a balas, a explosões, a colisões com meteoros. Ele escuta pensamentos a quilômetros de distância. Ele vê através de paredes. Ele carrega o mundo nos ombros, literalmente. Mas ele também chora. Também sofre. Também se decepciona. Também sangra… e não, não é sangue!
O Superman volta as telas, agora dirigido pelo diretor James Gunn, e mais do que ação e efeitos especiais, há um tema que grita por trás de cada cena: identidade. E aqui está o dilema que não pode ser ignorado: Se até o Superman precisa revisitar a sua identidade, quem somos nós para ignorar essa jornada?
Neste novo filme, Clark Kent não está apenas enfrentando vilões ou salvando o mundo (de novo). Ele está lidando com a decepção. Isso também não é novo, mas traz um frescor ao personagem. Desde a primeira cena, fica claro que esse “Super” é bem mais “humano”. Ele sangra logo de cara. Mas dessa vez sua fraqueza não é causada por uma pedra verde brilhante. Sua maior dor vem de algo mais íntimo, mais humano: ele se decepciona com seus pais.
O herói da cueca por cima da calça e da capa vermelha, é imbatível, é duro na queda, é super em todos os sentidos. Mas, nem mesmo ele, pode existir sem origem. Ninguém escapa de precisar olhar para sua Krypton. E é aqui que o filme nos encontra. Clark tem duas famílias. Duas origens. Uma humana e uma “Super”. Seus pais de Krypton são os quase-deuses, os geneticamente superiores. Dizem por aí, que quanto mais alto, maior a queda, não é mesmo? Sendo verdade, ninguém é preparado para levar esse “baque”. A família “Super”, não é tão “Super” assim. E mesmo sendo uma figura idealizada de perfeição, Clark precisa revisitar essa ferida. Ele precisa escavar de novo a sua origem, sua verdade, sua história. Porque ninguém, nem mesmo o Super-Homem, escapa da crise de identidade.
IDENTIDADE SE CONSTRÓI
Identidade se constrói no espelho que escolhemos. Quem é o seu modelo? Quem te ensinou a ser você? De onde você vem Clark? Isso dói bem mais que uma pedra verde. Às vezes, nossas kryptonitas não são externas, são internas. E dessas, não há como correr! Clark, com todos os seus poderes, ainda assim precisa olhar nos olhos de Jonathan e Martha para redescobrir quem ele é.
Isso é uma verdade fundamental sobre ser humano: nós somos formados pelas pessoas que nos cercam. E quando essas pessoas falham, tropeçamos juntos na dor da decepção. Mas o que o filme faz de bonito, e o que o Evangelho aprofunda ainda mais, é mostrar que não precisamos de modelos inatingíveis. Precisamos de modelos presentes, acessíveis, reais, que amem de verdade. No fundo no fundo, não importa se viemos de Krypton, ou da cidade mais remota do Brasil, precisamos de alguém que nos dê esperança. Precisamos de alguém, não precisa ser um “Super”, só precisa ser um alguém para mim. Clark se vê sendo um Super, sem ninguém.
Mas felizmente, nós podemos encontrar alguém. Quando estamos olhando para o alto e pensando, não há ninguém… sim, surge alguém! Ele não voa, não veste capa, e fala a nossa língua. Jesus é o nosso modelo de ser humano perfeito. E, diferente do que muitos pensam, sua perfeição não o afastou da nossa condição: ela o aproximou Jesus trouxe o céu até nós! (João 1:14).
UM HERÓI DE VERDADE!
Ele teve fome. Teve sede. Chorou por amigos. Suou gotas de sangue no Getsêmani. Se compadeceu de pessoas. Sentiu a frieza do medo na espinha. Sentiu a angústia da alma. Ele foi o mais próximo de Deus que é possível chegar, e ao mesmo tempo, o mais humano entre todos nós. Que coisa divina! Jesus, o verdadeiro Filho de Deus e também o verdadeiro Deus entre nós, o Emanuel, não negou a sua humanidade (Hebreus 5:7-8).
E isso é um recado direto para os “super-heróis” do nosso tempo: quanto mais santo você for, mais humano você precisa ser. Quanto mais “Superrrrrrr”, mais de carne e osso. A santidade não é sobre invulnerabilidade. É sobre compaixão, empatia, lágrimas verdadeiras e abraços reais.
Clark termina o filme de volta à sala, revendo a mensagem de seus pais. Agora não mais os Supers de Krypton, não! Agora ele olha para a terra. O homem acostumado a ser visto no céu, busca sua referência na terra. Que controverso. E ali está a chave de toda a trama: não é fugindo da decepção que reencontramos nossa identidade, mas encarando-a com maturidade.
Pessoas nos ferem, sim. Mas também são cura. Clark achou a sua. Ele se fortalece não ao evitar suas kriptonitas emocionais, mas ao resgatar seus vínculos de afeto. Esses vínculos, o aproxima do humano. Ele não precisa de pais superpoderosos. Ele precisa de pais humanos, com falhas, mas com amor, com moral, e com justiça (mesmo que falha). Modelos ideias (não perfeitos) muitas vezes estão mais perto do que imaginamos. Quer saber? Nós também precisamos.
No final, esse filme não é sobre voar. É sobre pousar. Sobre voltar para casa. Sobre olhar novamente para quem somos. E no nosso caso, essa “casa” tem um nome: a casa do Pai que nos é revelada por Jesus Cristo. Um caminho de retorno a Deus. Ele não apenas nos mostra quem Deus é, Ele também nos revela quem nós somos nele: filhos amados. E mesmo ainda com os erros, mas vivendo a verdadeira essência humana para qual fomos criados: o louvor da Sua glória e uma vida de amor e serviço ao próximo (João 14:1-7).
Se nem o Superman escapa da crise de identidade, talvez esteja na hora de você também parar, sentar, e escutar de novo a voz do Pai. Talvez assim como acontece com Clark na fortaleza da solidão, Cristo nos faça olhar para o lado. Veremos gente falha. Mas não tem problema. No fim do dia, ainda sim, é gente capaz de salvar o dia!
Texto: Gustavo Rocha | Casado com Bruna e pai de Samantha e Tito; Pastor na Promessa Bom Retiro e Marcanã, em Sumaré; Formado em Teologia Pelo CETAP e estudou Cinema e ama cinema desde criança.