Em termos amplos, a política diz respeito à vida em sociedade e à responsabilidade de cada cidadão. O “político” é aquele que se preocupa com a vida na polis (palavra grega que significa “cidade”). Na Grécia antiga, inclusive, aquelas pessoas que não demonstravam interesse pela vida pública eram consideradas idiotes, de onde deriva o termo “idiota”. O idiota era o contrário do político; era alguém preocupado apenas consigo mesmo.
Pensando na política neste sentido mais amplo, indiferença é algo que não cabe aos cristãos. Estaríamos negligenciando princípios bíblicos se fechássemos os nossos olhos para os assuntos relacionados à vida em sociedade e sobre o nosso papel como cidadãos. Paulo escreveu aos Filipenses: Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna ao evangelho de Cristo (Fp 1.27 – NVI). O apóstolo utilizou, neste texto, a palavra grega politeuomai, que diz respeito a “agir como um cidadão”. Trata-se de uma palavra da mesma família da palavra “política”.
Pensar na vida pública diz respeito a pensar também naqueles que nos representarão e que governarão nossas cidades. Como a igreja deve se comportar frente a estes assuntos? Como os cristãos individuais devem agir?
Conquanto a igreja não seja uma comunidade apolítica, visto que possui posições claras sobre como os cristãos devem se relacionar com os governantes e sobre como devem viver em sociedade, ela deve ser uma comunidade apartidária. A igreja não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro. Ela está fora deste espectro político partidário. Por isso, igrejas devem tomar muito cuidado para não serem levadas para batalhas neste campo. Tomemos cuidado para não utilizarmos a Bíblia para justificarmos nosso pertencimento a um ou outro lado político. O reino de Deus não se encaixa nestes formatos. De alguma maneira, ele é a favor e contra os dois lados, porque está acima de ambos.
Todo crente em Jesus precisa ser, também, um cidadão exemplar, que cumpre seus deveres na sociedade. Escolher seus representantes por meio do voto é um destes deveres. Na hora de escolher nossos candidatos, devemos considerar os princípios bíblicos. E os cristãos que servem em funções políticas devem ter como compromisso maior glorificarem a Deus na esfera pública. O compromisso maior que possuem – antes de ser com os interesses de seu partido e de seus partidários – é com o Senhor. Afinal de contas, nossa consciência está cativa à vontade de Deus e importa obedecê-lo (At 5.29).
Estamos nos aproximando de mais um período de eleições. É comum, quando se avizinha esta época, a polarização entre partidos políticos e candidatos. Não é incomum, também, cristãos abraçarem um lado e iniciarem uma verdadeira guerra contra quem escolheu o outro lado. Todos os que não votam como ele são vistos como “inimigos”. O que diz a Escritura, neste sentido? Quando escreveu para Tito, Paulo o orientou a respeitar o governo e suas autoridades (Tt 3.1). Ele sabe que, se as leis não forem obedecidas, a vida em sociedade se torna um caos generalizado. Na sequência, o velho apóstolo diz como os cristãos devem se relacionar com as pessoas, na esfera pública: “… não caluniem a ninguém, sejam pacíficos e amáveis e mostrem sempre verdadeira mansidão para com todos os homens” (Tt 3.2 – NVI).
Em relação aos seus pares, aos demais membros da sociedade civil, os cristãos devem viver de modo exemplar. Há, neste texto, quatro virtudes a serem cultivadas no trato com as pessoas:
1) Não caluniar ninguém, pois não devemos utilizar nossas palavras para destruir a reputação de outra pessoa;
2) Não ser dado a brigas. O texto fala sobre ser “pacífico”. No texto original, a ideia é de alguém que não provoca contendas, alguém que não se envolve em discussões que ferem as pessoas e destroem os relacionamentos;
3) sermos amáveis. A palavra grega sugere alguém que é cordato, que é gentil, que trata o outro com dignidade e respeito;
4) devemos sempre mostrar mansidão, isto é, manter nosso temperamento sob controle. Inclusive, a palavra indica uma pessoa que sempre está preparada para ir em ajuda de outros, mesmo quando estes lhe têm feito mal ou prejudicado.
Levemos a sério estes princípios da Escritura. Que o Senhor Jesus nos ajude nestes tempos difíceis em que estamos vivendo!
Pr. Eleilton Freitas – publicado na edição 77 da Revista O Clarim.
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