Aquele que disse que “no mundo teríamos aflições” foi o mesmo que prometeu “estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos”
“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência. E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Romanos 5:1-5.
O apóstolo Paulo, ao escrever sua carta aos irmãos do primeiro século, que viviam oprimidos na grande cidade de Roma, capital do Império, nas suas muitas orientações pastorais, fala sobre o sofrimento. Ele inicia este capítulo, resumindo as três fases do resultado da justificação divina, nas quais, os irmãos de Roma, deveriam fortalecer sua fé. Ele ensina que primeiro: “temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. Segundo “obtivemos igualmente acesso pela fé, nesta graça a qual estamos firmes. Terceiro: “gloriemo-nos na esperança da glória de Deus”.
Estes são os frutos de nossa justificação: paz, graça e glória.
Temos paz com Deus, estamos firmes na graça e esperamos a glória futura.
Quando examinamos estes frutos mais de perto, é evidente que eles têm relação com as três fases ou tempos da nossa salvação.
Em PRIMEIRO lugar adquirimos “paz com Deus”. Fala do efeito imediato da justificação. Éramos “inimigos” de Deus (10), porém agora o perdão de Deus nos resgatou da antiga inimizade e agora estamos em paz com Ele. Assim, o efeito imediato da justificação é que a paz acabou com a inimizade entre Ele e você.
Em SEGUNDO lugar, “acesso a esta graça na qual estamos firmes”. Fala do efeito contínuo da justificação. Envolve um estado de graça no qual fomos introduzidos e no qual estamos firmes. Se nos foi permitido entrar na esfera da graça de Deus, nela também continuamos até o dia de hoje.
Em TERCEIRO lugar, “esperança da glória de Deus”. Fala do efeito final da justificação. “A glória de Deus” neste contexto significa o céu, porque no céu, Deus mesmo será revelado plenamente. Vamos ver a glória de Deus no céu e participaremos dela, pois seremos semelhantes a Cristo: “amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é”I João 3.2.
A “esperança” na qual o apóstolo aconselha os cristãos de Roma a alimentarem sua fé, diz da confiança, da expectativa, da inabalável convicção de que participarão da glória de Deus, que já deveriam, antecipadamente, regozijar-se nela, conforme tradução da BLH “portanto nos alegramos na esperança de participarmos da glória de Deus”.
Estas três fases formam um quadro equilibrado da vida cristã com relação a Deus. O que o apóstolo Paulo ensina aqui diz respeito à nossa relação com Deus, as três fases constituem um belo resumo da vida cristã: paz, graça e glória.
A palavra “paz” nos convida a olhar para trás, para a inimizade que acabou;
A palavra “graça” nos faz olhar para o Pai debaixo de cujo favor agora permanecemos;
A palavra “glória” nos estimula olharmos para adiante, para o futuro, para o nosso objetivo final, até o momento quando veremos e refletiremos a glória de Deus, que é o objetivo de nossa esperança e expectativa.
Continuemos: “E não somente isto”, diz o apóstolo Paulo no versículo 3, “mas também nos gloriemos nas próprias tribulações”.
Há paz imediata com Deus? Sim, há.
Há graça continuada na trajetória cristã? Sim, há.
Há glória nos aguardando na eternidade? Sim, certamente que há.
Porém há também sofrimento.
No sentido preciso, estes sofrimentos mencionados pelo apóstolo Paulo não se limitam exclusivamente a enfermidade, à dor, às tristezas, às aflições, mas ainda à tribulação e ao sofrimento, à pressão do mundo pagão e hostil. Toda sorte de sofrimento terreno.
Sem dúvida, o sofrimento é sempre o caminho da glória. Assim disse o Senhor Jesus Cristo após a ressurreição: “porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?”. Lucas 24.26.
O que aconteceu com Cristo, também acontece com o cristão, porque o servo não é maior que o seu Senhor. Paulo mesmo insiste neste ensinamento quando afirma que somos co-herdeiros com Cristo: “se com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados”.Rm 8.17.
Notemos com cuidado a relação entre os nossos sofrimentos presentes e a nossa glória futura. Não se trata de que os sofrimentos nos conduzem à glória. Nem que devemos nos resignar diante dos sofrimentos à expectativa da glória futura.
De acordo com o ensinamento de Paulo, existe uma estreita relação entre “sofrimento” e a “glória futura”. Segundo Paulo, os dois devem produzir “regozijo”, devemos nos gloriar tanto em um quanto no outro, devemos nos gloriar tanto com a paz, graça e glória quanto com o sofrimento.
Se “nos gloriamos” em nossa esperança da glória, do mesmo modo devemos nos gloriar em nossos sofrimentos. Tanto as tribulações presentes, quanto a glória futura são objetos de júbilo para o cristão. Como isso acontece? Como é possível nos alegrar com os nossos sofrimentos? Como podemos encontrar gozo naquilo que nos causa dor?
Os versículos de 3 a 5 explicam este paradoxo: E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência. E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
Não nos alegramos nos sofrimentos como tais, mas sim, nos benefícios que trazem como resultado. Não somos masoquistas, como aqueles a quem agrada o sofrimento. Somos cristãos e como tais percebemos o cumprimento de um propósito divino e cheio de graça através dos sofrimentos. De forma que, nossa alegria se dá diante daquilo que o sofrimento produz: o sofrimento produz paciência, experiência e esperança.
Paciência
“Sabendo que a tribulação produz a paciência”, com isto se quer dizer que o sofrimento é o que produz a mesma “paciência” de que necessitamos para suportá-lo. A paciência bíblica é um controle próprio exercido por Deus ou outorgado por Deus, em face de dificuldades e opressões que a vida trás. Não se trata de passividade. A iniciativa jaz no amor de Deus, ou jaz no amor do crente em enfrentar o mal desta maneira.
Não podemos exercitar a paciência sem sofrimento, porque sem o sofrimento não haveria necessidade de paciência. É do sofrimento que nasce a paciência. Deus é o Deus que nos proporciona uma paciência semelhante a de Cristo.
Experiência
“A paciência produz experiência”. A experiência é uma virtude cristã comprovada, algo que se encontra somente no cristão que já foi provado: “Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”.Tiago 1:12
A paciência nos faz aprovados. Aqui o apóstolo Paulo se refere à condição daquele que tem sido colocado à prova e logo foi aprovado. A palavra experiência é usada para indicar um processo legal em um tribunal, que é também a prova do resultado do julgamento, ou seja, a aprovação do caráter conforme o apóstolo Paulo testifica de si, escrevendo aos Filipenses: “e conheceis o meu caráter provado, pois serviu ao evangelho junto comigo, como filho ao pai” .Fl 2.22
Não nos chama a atenção a maturidade de um cristão que passou pelo sofrimento e saiu vencedor? O sofrimento produz paciência e a paciência é uma virtude comprovada. Só a possui quem, ao ter passado pela prova, se mantiver fiel.
Esperança
“E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Romanos 5.4 e 5. A maturidade de caráter nascida da paciência com a qual se suportou os sofrimentos no passado traz consigo a esperança de uma glória futura.
Sem dar lugar a dúvidas, o apóstolo Paulo quer dizer que o desenvolvimento e a maturidade de nosso caráter cristão evidenciam que Deus está formando e trabalhando em nós. Este fato nos dá a confiança de que Deus não abandonará a tarefa sem havê-la terminado; como o mesmo apóstolo testificou, em outra ocasião, em sua carta aos Filipenses, capítulo 1.6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou a boa obra em vós há de completa-la até ao dia de Cristo Jesus”.
Deus nos proporciona oportunidades para exercitarmos “paciência”, adquirirmos “experiência” e fortalecermos nossa “esperança” de uma pátria maior e melhor. Lembrando sempre, que durante todo o período de tribulação, durante este período terreno onde estamos sujeitos aos sofrimentos, nos recordemos que Aquele que disse que “no mundo teríamos aflições” foi o mesmo que prometeu “estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos”.
Se você estiver na prova neste exato momento, se a tribulação chegou em sua vida, com maior ou menor intensidade, com maior ou menor durabilidade, nunca se esqueça de algumas promessas divinas:
“Pode o choro durar toda uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. Salmo 30.5
“Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”.Tiago 1:12
“…fortalecei–vos no Senhor e na força do seu poder”. Efésios 6.10
E finalmente: “Muitas são as tribulações dos justos, mas o Senhor de todas os livra”. Salmo 34.19.
Bibliografia
STTOT, John. A Bíblia é para hoje – Romanos
POHL, Adolf. Carta aos Romanos – Comentário Esperança
BRUCE, F.F. Romanos: Introdução e Comentário