No Dia Mundial da Saúde Mental, 10 de outubro, Ivany Oliveira fala sobre a importância de se falar sobre doenças emocionais e suicídio na família e na igreja.
Hoje, 10 de outubro, é comemorado o Dia Mundial da Saúde Mental. A data foi criada a 30 anos atrás, em 1992, pela Federação Mundial da Saúde Mental. Várias situações, relacionadas à questão da mente e das emoções, são colocadas nesse dia – depressão, bipolaridade, estresses e etc. A Psicanalista Ivany Oliveira, que foi entrevistada pelo Promessistas.org, falou sobre a importância do cuidado mental. “Assim como qualquer doença, as emocionais também são frutos do pecado original, cometido no Jardim do Éden. Mas continuam sendo patologias. Não são castigos individuais de Deus para pecados específicos.”
Nesta entrevista, Ivany tratou também sobre a questão do suicídio, para além do Setembro Amarelo, e como a igreja e a família, podem ser ambientes de cuidado e acolhimento diante dos sinais que uma pessoa dá. “A prevenção deve começar em casa, em diálogos, aconselhamentos com filhos, conversa aberta com os pais; coletivamente, aconselho líderes de igreja a ter um olhar mais atento a esse tema, criar um projeto de prevenção, talvez uma palestra sobre valorização da vida a cada 3 meses”, declarou.
A entrevistada, Ivany Oliveira, é formada em Psicanálise pela Faculdade Gaio; em Teologia, pela Fatap (Hoje Cetap); e está cursando Pedagogia pela Faculdade Imes. Ela Congrega na Igreja Adventista da Promessa de São Cristóvão, em Sergipe, e colabora no MJ Geral, como Coordenadora de Ministérios do Campo, e é esposa do Pr. Robson. A seguir, leia a íntegra da entrevista.
Promessistas.org: Por que é necessário falar de suicídio na igreja? Pergunto isso, pelo estigma criado em torno do assunto (é um tabu social também) e, por muitas vezes, ele ser tratado apenas no prisma ‘se é pecado ou não’. Deve-se debater o assunto para além disso?
Ivany Oliveira: “É fato que por muitos anos assuntos como depressão, síndrome do pânico, ansiedade e suicídio, foram evitados na igreja. Até mesmo demonizados, nunca tratados como patologias fisiológicas. Mas pela Graça de Deus, esse entendimento vem sendo dissipado, e é importante que, a igreja tenha a preocupação de tratar o assunto da forma mais coerente possível. Claro que assim como qualquer doença, as emocionais também são frutos do pecado original, cometido no Jardim do Éden. Mas continuam sendo patologias. Não são castigos individuais de Deus para pecados específicos. Assim, o que leva uma pessoa a cometer suicídio deve ser tratado como Patologia. Para isso, a igreja deve ter um olhar de preocupação e afeto com as pessoas, sendo atenta, observadora, ajudando a detectar emoções prejudiciais, e agindo com empatia”.
Promessistas.org: Qual caminho, uma pessoa que não tem formação e nem prática clínica, na área da Psiquiatria, pode apontar para uma pessoa que sinaliza que o suícido é uma via a ser considerada em sua existência?
Ivany Oliveira: “Primeiro, é vencer o sentimento de impotência que surge ao descobrir que alguém está idealizando o ato de suicídio. Depois é entender que existem diversas formas de ajudar essa pessoa. Comece conversando, procurando saber como ela está, como está se sentindo. Ao ouvir os relatos, não dê palpites, indicando soluções simples como se fosse fácil demais resolver tudo; não ria de situações, nem reprima o choro. Deixe a pessoa à vontade em seu desabafo.
Coisas que parecem bobas para nós, é vista, interpretada de outra forma por quem está emocionalmente abalado. Imprescindível informar sobre ajuda profissional. Se a pessoa deixar claro que está disposta ao suicídio, nunca a deixe sozinha, entre em contato com os serviços mentais, eles saberão a melhor forma de mantê-la segura. Caso não se sinta capaz de fazer um acompanhamento dessa pessoa, passe o caso para alguém competente: um pastor, líder de ministério, familiar. Indique o CVV – 188. O atendimento é sigiloso, seguro e preventivo”.
Promessistas.org: Muitos questionam, se a reflexão em apenas um mês é suficiente para a conscientização do suícidio, e certamente não, em sua avaliação, como o cristão de forma individual, e coletiva (igreja), pode tocar ao longo do ano sobre a temática?
Ivany Oliveira: “Em se tratando especificamente dos cristãos, a prevenção deve começar em casa, em diálogos, aconselhamentos com filhos, conversa aberta com os pais. Trocas de afetividade, companheirismo. Conversar com amigos, estar atento aos sinais e seguir os passos já citados.
Coletivamente, aconselho líderes de igreja a ter um olhar mais atento a esse tema, criar um projeto de prevenção, talvez uma palestra sobre valorização da vida a cada 3 meses, abordando a importância que cada um tem, apontando propósitos, razões reais para se viver, cultivando a esperança de algo maior, relembrando a razão da fé, em parcerias com profissionais da área (psicólogos, psicanalistas, psiquiatras); profissionais com disposição para atendimentos sociais, levando em consideração as condições financeiras das pessoas que estão sendo acompanhadas.
Criar momentos de comunhão, onde as pessoas tenham oportunidade de conversar umas com as outras, além de outras atividades. Acompanhamento das famílias e conhecimento de suas realidades com projetos e propostas específicas para melhoria na qualidade de vida física, emocional e espiritual”.
Promessistas.org: Segundo dados da OMS, no Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, e jovens de 15 a 29 anos, morrem devido ao suicídio. Como abordar para esse público, a necessidade de cuidados à saúde mental?
Ivany Oliveira: “A acessibilidade hoje é muito fácil. Conseguimos atingir números gigantescos de pessoas que nem temos contato físico. Então, usar ferramentas conhecidas de cada grupo para incentivar a mudança de hábitos, a melhoria na qualidade de vida e a aceitação de si, são fundamentais. Use o espaço da igreja para promover incentivos. A saúde mental é cultivada a partir da mudança de mente, do cultivo de hábitos saudáveis, como os exercícios físicos, reeducação alimentar, relações estruturadas, sejam familiares, de namoro ou amizade.
É importante também falar sobre saúde sexual, uma vez que está intimamente ligada às emoções. Incentivar a relação presencial entre as pessoas, o autoconhecimento, atribuições de responsabilidade e check-ups médicos. Ferramentas como a mídia, as redes sociais. A igreja pode aproveitar encontros de jovens, retiros, noites de bate papo, encontros de mulheres/homens, etc”.
Promessistas.org: “Como você vê que uma teologia bíblica, que considera a experiência do sofrimento, como algo que atinge pessoas que creem em Deus, sem que isso signifique que Deus não as ama, pode ajudar na prevenção do suicidio e/ou doenças emocionais?”
Ivany Oliveira: “Deus nos ama independente de qualquer coisa. A Bíblia nos revela que Deus em seu infinito amor, cuida de cada um de nós. Porém, lidamos com a realidade do pecado e seus malefícios. Não é maldade de Deus, deixar que o sofrimento nos atinja, é consequência de uma escolha feita pelo ser humano, a desobediência. As doenças fazem parte desse mal gerado pelo pecado. No entanto, a Bíblia também revela que tudo isso terá um fim, daí a motivação para viver essa vida em Esperança da vida futura.
O suicídio é uma resposta ao desespero, então pode ser evitado pelo cultivo da fé, da esperança, do amor dos irmãos, que é mandamento de Deus, pois Ele em sua infinita sabedoria, sabe da nossa necessidade de ser abraçado, beijado, amado. Quando uma pessoa se sente segura e confiante, ela busca forças para continuar. Até que Cristo volte, teremos aflições, dores, sofrimentos, perdas, choros. Ter pessoas ao nosso lado faz diferença pra superar tudo isso.
Meu conselho, enquanto cristã é que mantenham o foco em Cristo, na sua volta, pois brevemente os céus se abrirão, veremos o redentor em grande glória. Céus e terra passarão, seremos perfeitamente restaurados a um corpo que jamais adoecerá, todos os motivos de dor e sofrimento deixarão de existir, a morte será exterminada e tudo o que restará será VIDA ETERNA!”
Por: Ministério de Comunicação.