“O sentido da vida: a mensagem de Eclesiastes e Cantares” é o tema da nova série de Lições Bíblicas de número 335 para estudos na Escola Bíblica, nas Igrejas Adventistas da Promessa, no 2º trimestre de 2021 (abril a junho). Nada mais propício de se pensar, diante do mais delicado e crítico momento da pandemia para muitos países, como o Brasil, em que o número diário de mortos, passou de 4 mil.
No meio desse cenário desolador, a nova série de estudos se propõe a trazer um bálsamo de esperança e tocar, no meio da “tempestade”, temas como: o sentido da vida, o prazer, a morte, a fé que convive com tragédias, o casamento etc. Nessa entrevista ao Promessistas.org, o secretário da Editora Promessa, doutorando em Filosofia pela PUC-São Paulo, presbítero na Promessa em Santana e um dos editores da série de lições, Kassio Passos Lopes, conta como os dois livros de sabedoria bíblica podem dar rumo à vida, mesmo em meio ao caos que vivemos.
Promessistas.org: A pandemia tirou o sentido da vida de muitos. Como a nova série de lições pode ajudar na redescoberta de sentido?
Pb. Kassio Passos Lopes: “Momentos de intenso sofrimento, como a pandemia que vivemos, normalmente nos levam a questionar o sentido da vida, pois, por vezes, irrefletidamente, tornamos o gozar de boa saúde, o prazer do entretenimento, a realização profissional, a aquisição de bens ou consumo de produtos, os planos de viagem e os relacionamentos amorosos como razões para nosso viver, isto é, motivos pelos quais nos levantamos todos os dias para trabalhar, estudar, ganhar dinheiro. Contudo, quando tudo isso nos é tirado, como acontece em uma quarentena, nos vemos desnudos daquilo que era, ainda que implicitamente, a razão de vivermos.
Eclesiastes explora precisamente o erro de tomar trabalho, saúde, empreendimentos, dinheiro, entretenimento, prazeres dos mais diversos, como objetivos últimos de nossa existência. Primeiro, porque eles não satisfazem de modo pleno um coração que anseia pelo que é eterno; segundo, porque, em uma vida fugaz como a nossa, eles são transitórios e não podemos nos agarrar a eles para sempre – eles são, na linguagem do sábio de Eclesiastes, hebel, ou seja, vaidade.
Assim, Eclesiastes, especialmente neste tempo de pandemia, nos faz olhar acima do sol, para aquele que nos criou e que controla o tempo e encontrar nele o sentido de nossas vidas. Eclesiastes é um salva-vidas, ainda numa pandemia dessas. Ele pode trazer o verdadeiro sentido da existência para as pessoas que perderam o motivo pelo qual viver”.
Qual o maior desafio de escrever sobre Eclesiastes e Cantares para os dias de hoje?
Pb. Kassio: “O maior desafio de escrever sobre Eclesiastes e Cantares é mostrar Deus como o sentido para a vida. Deve-se fugir da busca desenfreada de prazeres. Deve-se fugir também, da via dos ascetas, dos legalistas, dos ativistas que não param por um segundo ou dos workaholics (que só pensam no trabalho) e dos avarentos, que idolatram tanto o dinheiro que se privam das coisas boas para não perder seu acúmulo monetário.
Eclesiastes e Cantares, contudo, nos apontam uma terceira via. Ela nos mostra que, se o sentido da vida está em nosso Criador, não devemos fazer dos prazeres deste mundo o motivo de nossa existência. Não precisamos idolatrar os prazeres da vida nem nos privar deles, mas podemos desfrutá-los com intensidade e temor, diante de Deus. Abordar esse assunto é um desafio porque, normalmente, vivemos em extremos.
Eclesiastes mostra um homem que reflete diversas partes de sua vida; um mau humor é visto. Como as inquietações de Salomão se relacionam com as nossas?
Pb. Kassio: “O prefácio ou a introdução de Eclesiastes é a chave para entender do que o livro trata. O sábio explora a resposta para a seguinte questão: A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e, afinal, que vantagem leva em tudo isso? (Ec 1:3). O termo “vantagem” ou “proveito” (como a Almeida Revista e Corrigida traduz) é a palavra hebraica yitrôn, que era um termo comercial, trazendo a ideia de “lucro”. A expressão alude ao mundo de negócios da época, em que um comerciante avaliava o lucro de uma negociação e determinava se valia a pena, se fazia sentido ou não.
O pregador está avaliando a vida, se ela faz sentido, buscando determinar qual a razão de tudo o que fazemos neste mundo. Isso faz do livro de Eclesiastes um tratado sobre a vida. Nós nos identificamos com Salomão, pois também nos questionamos, por vezes, se aquilo que fazemos tem algum sentido, se valem a pena nossos esforços nesta vida, e pensar dói, pois leva-nos a quebrar nossas ilusões (de que teremos saúde para sempre, de que teremos longevidade, de que nada de ruim pode nos acontecer, de que teremos alegria o tempo todo etc.) e os falsos deuses que, por vezes, construímos em nosso coração (o sexo, o dinheiro, o trabalho, as posses e os bens, os prazeres etc.).
O aparente mau humor de Eclesiastes vem daí, de uma seriedade em analisar a vida como ela é, desconstruindo ilusões e ídolos de nosso coração, algo extremamente doloroso. O sábio faz isso para que olhemos acima dos céus e O encontremos, e, à luz de sua sabedoria, vivamos neste mundo marcado pela queda adâmica, isto é, pela morte, pelo sofrimento, pela injustiça, pela efemeridade, mas com contentamento, alegria e temor a Deus, aguardando pela eternidade”.
Os princípios de Cantares podem ajudar a salvar muitos casamentos?
Pb. Kassio: “O livro de Cantares celebra o amor romântico entre um homem e uma mulher, mostrando a conjugalidade como uma fonte de deleite e prazer que devem ser desfrutados. Temos aqui uma teologia bíblica do amor. Sendo a Bíblia o manual do criador para a sua criatura, por que ele não dedicaria um livro inteiro a essa área tão especial da vida humana?
A sexualidade e o desejo sexual no seio matrimonial são tratados de maneira muito desinibida e sem bloqueios: o autor mostra que devem ser considerados extremamente naturais e prazerosos, bênçãos de Deus para os seres humanos que ele criou. Por que razão, por vezes, há receio de tratar desse assunto na igreja? Afinal de contas, quem criou o sexo? Quem fez o casamento? Quem idealizou o amor romântico entre o esposo e a esposa, que devem ser uma só carne? A resposta é Deus.
Promiscuidade e erotização desregrada não passam de distorções pecaminosas da prazerosa vida sexual e romântica que Deus criou no princípio, a fim de proporcionar prazer dentro da relação conjugal. Longe de condenar, a Bíblia sacraliza o amor entre e um homem e uma mulher, mostrando-o como dádiva divina em Cântico dos cânticos. Mas, por muito tempo, o livro foi interpretado apenas como uma alegoria do amor de Deus (o esposo) por Israel (sua noiva), ou do amor de Jesus por sua igreja, e a dimensão tão importante da vida humana, que é tratada no livro dos Cânticos, acabou obscurecida.
Também, por muito tempo, uma filosofia dualista e ascética, que vê o ser humano cindido entre corpo e alma – sendo o corpo essencialmente mau e a alma essencialmente boa –, exerceu influência na cristandade e em sua ideia de espiritualidade, fazendo com que muitos cristãos entendessem que os prazeres do corpo (comer, beber, ter relações sexuais etc.) deveriam ser regrados, a fim de que se santificasse a alma, o elemento bom do ser humano. Ainda encontramos reminiscências desta equivocada teologia dualista, quando vemos pessoas dizendo que as coisas espirituais nada têm a ver com o corpo.
Cantares nos livra dessa visão equivocada, mostrando a legitimidade de nos deleitarmos nos prazeres do corpo e do amor conjugal, criados por Deus. Sendo assim, o livro de Cantares pode motivar os casais a repensar, em seu diálogo, o tempo em que desfrutam das bênçãos da vida a dois; pode entusiasmar os casais a buscar uma relação mais amorosa, a procurar a satisfação mútua, a alegria recíproca, a resgatar o romantismo perdido e a viver a sexualidade como presente de Deus para nós. Sem dúvida, se levarmos a sério a sabedoria deste livro, nossos casamentos serão abençoados pelo bondoso Criador”.
Saiba mais sobre as Lições Bíblicas: https://promessistas.org/licoes-biblicas/o-sentido-da-vida/;
Assinaturas: https://editorapromessa.com.br/produto/licoes-biblicas-edicao-335/.
Por: Ministério de Comunicação.