Skip to content

Protagonismo feminino na Bíblia | Por Celia Beltran

Protagonismo feminino na Bíblia | Por Celia Beltran

A narrativa bíblica revela que as mulheres desempenharam papel de destaque na história do povo de Deus

 

Ao longo do tempo, a Bíblia tem sido acusada de tratar as mulheres com  discriminação, opressão e injustiça. Uma análise superficial dos registros históricos de Israel pode levar a esta compreensão. Isso pode acontecer quando lemos os textos bíblicos com os óculos do nosso tempo e da nossa cultura ocidental.

No entanto, uma análise minuciosa dos textos bíblicos revela que as mulheres desempenharam um papel de destaque em todos os eventos importantes da história do povo de Deus. Desde a criação do mundo, passando pela formação do povo escolhido, sua preservação, conquista da Terra Prometida, período dos juízes, estabelecimento do Reino de Israel, sua divisão, período do exílio, genealogia e ministério de Jesus, sua morte e ressurreição, e na formação da igreja primitiva. Em todas essas ocasiões, a participação das mulheres foi de  extrema importância.

LEIA MAIS: “A Mulher na Missão”: Promessistas.org prepara série de conteúdos especiais

 

As representantes femininas escolhidas para serem incluídas na Bíblia deixaram lições inestimáveis, contribuindo significativamente para a formação do povo de Israel e para toda a humanidade. Essas mulheres foram retratadas como personagens complexas e com papéis essenciais, permitindo-nos aprendizados que perduram até os dias de hoje.

Muitas marcaram suas gerações em um mundo dominado por homens e mostraram que Deus usa quem Ele quer para cumprir seus propósitos. Vale refletir sobre algumas delas.

 

A primeira mulher, Eva, foi criada com o propósito original de ser a companheira e auxiliar do homem na administração do Jardim do Éden e se tornou a mãe de toda a humanidade, a geradora da vida. Ao ser enganada pela serpente e desobedecer a Deus, ela recebeu a punição, mas também recebeu a promessa de que um descendente seu iria ferir a cabeça da serpente. Essa promessa revelou o plano de Salvação desde os tempos do Éden: uma mulher, descendente de Eva, daria à luz ao Filho de Deus, que restauraria o relacionamento entre Deus e a humanidade, além de derrotar Satanás de uma vez por todas. Tal promessa representou a esperança para a redenção da humanidade e a sua restauração perante Deus.

 

Mulheres que não se intimidaram

As quatro matriarcas: Sara, Rebeca, Raquel e Lia são frequentemente vistas como coadjuvantes de seus maridos, mas suas histórias revelam um destacado protagonismo. As quatro tinham características comuns: mulheres de temperamento forte, belas, oriundas da cultura e religião mesopotâmica, mas adaptaram-se à religião de seus maridos, desempenhando seus papéis de esposa e não se intimidaram diante de situações complicadas. A importância delas também é evidenciada pelo fato de Deus se dirigir a Sara em duas ocasiões (Gn 17.15-16; 18.9-15) e a Rebeca em uma ocasião (Gn 25.21-23).

Dentre os juízes mencionados na Bíblia, uma mulher se destaca: a profetisa Débora (Jz 4.4). Ela foi a única a exercer um papel judicial, procurada para resolver questões legais e fazer previsões. Entre os profetas do Antigo Testamento, cinco são mulheres: Débora, Miriã (Ex15.20), Hulda (2 Rs 22.14), Noadia (Ne 6.14) e uma profetiza anônima (Is 8.3).

Destacamos ainda a rainha Ester, também conhecida como Hadassa, uma órfã que possuía uma beleza notável (Et 2.7). Sua vida deu uma reviravolta quando se casou com o rei persa Assuero (Et 4.13; 5.1-5). No entanto, em determinado momento, foi usada por Deus para salvar seu povo da extinção.

 

Jesus ignorou as barreiras sociais

 

Ao entrarmos nas páginas do Novo Testamento, o evangelho de Mateus inicia seu relato com a genealogia de Jesus indicando sua descendência a partir de Davi e Abraão. Curiosamente, sua genealogia inclui cinco mulheres, sendo três delas estrangeiras casadas com israelitas: Tamar (Gn 38), Raabe (Js 2,6), Rute, Bate-seba (2 Sm 11-12, I Rs 11.31, 2.13-19, I Cr 3.5) e Maria (Lc 1.26-38, 1:39-56, 2.1-7, 2.21-38, 2.41-52, 4.16-30, 8.19-21). Ao estudar cuidadosamente suas histórias, vê-se que todas se mostraram corajosas, destemidas e prontas para levar sua missão adiante, apesar das oposições. Jesus demonstrou coragem quando ignorou as barreiras sociais existentes e exerceu um ministério pessoal junto às mulheres.

Na origem do cristianismo, as mulheres desempenharam um papel significativo nas primeiras comunidades cristãs. Embora a maioria das posições de liderança oficial fosse ocupada por homens, a igreja contava com diversas mulheres evangelistas atuantes, como Lídia (Atos 16.14, 40) e Priscila. Esta última tinha um conhecimento tão profundo das Escrituras que colaborava com seu esposo no ensino de outros pregadores (Atos 18.26).

A luta pelo reconhecimento público da atuação das mulheres na igreja e na sociedade continua sendo um desafio significativo. Mulheres cristãs ainda enfrentam questionamentos sobre sua capacidade para liderar uma comunidade. O ensinamento do apóstolo Paulo em Gálatas 3.27-28, que afirma que, após o batismo, não há diferença entre os gêneros diante de Deus, nem sempre é praticado.  A voz das mulheres da Bíblia ainda ecoa e espera apenas por uma oportunidade para ser ouvida.

 

Texto por: Celia Beltran | é missionária e Líder da Secretaria de Escola Bíblica da Convenção Geral, tendo sido Diretora do Cetap (Centro de Estudos Teológicos da Igreja Adventista da Promessa).

O texto foi originalmente publicado na Revista O Clarim, nº 80, na sessão Papo de Mulher.

 

Referências

COLEMAN, William. Manual dos tempos e costumes bíblicos. Venda Nova: Editora Betânia, 1991.

CUNNINGHAM, L. Por que não elas? Venda Nova: Editora Betânia, 2004.

EMMERSON, G. I. Mulheres no Israel Antigo. São Paulo: Paulus, 1995.

JUCKSCH, A. Legado de Mulheres da Bíblia. Curitiba: Encontro Publicações, 2010.

Notícias