Para um missionário, nada é mais importante que a vida de seu semelhante
“Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.”
Lc 10:30-35
No texto narrado por Lucas vemos o Mestre explicitando o amor através de uma parábola. É interessante notar que, no contexto bíblico que antecede a parábola, o foco dos discípulos voltava-se para a obra de evangelização (Lc 10:1-20). Tudo indica que esta parábola também visava incluir o trabalho missionário como um aspecto indispensável na prática do mandamento do amor ao próximo. Sob essa perspectiva analisaremos as atitudes missionárias do bom samaritano, contextualizando-as ao nosso dever de pregar o evangelho.
Na parábola em questão, o Mestre apresenta alguém maltratado pelos horrores humanos. Um homem que durante uma viagem sofre a perda de seus recursos, de sua saúde e de sua dignidade. Semelhantemente, a bíblia apresenta um mundo salteado pelo maligno (I Jô 5:19). Na caminhada da vida, Satanás tem agido como ladrão que rouba, mata e destrói (Jo 10:10a). Muitas almas estão estendidas pela estrada. A dor dessas almas é grande, pois os ferimentos estão abertos. Elas não conseguem enxergar, o salteador lhe atingiu os olhos. Também não andam, suas pernas foram quebradas. Como a vítima da parábola, estão meio mortas. Elas precisam de ajuda. Somente alguém com sentimento missionário é capaz de perceber tais sofrimentos. Aquele episódio não estava na agenda do bom samaritano. Com certeza havia compromissos pessoais a serem cumpridos. Apesar disso, sua compaixão diante do sofrimento alheio o constrangeu a parar sua caminhada. Aquele samaritano era um exímio missionário. Para um missionário nada é mais importante que a vida de seu semelhante (Jo 15:13; Fp 2:04). Nenhuma atividade particular impede um missionário de aliviar a dor dos que sofrem. Ao olhar para as almas perdidas, o missionário se enche de íntima compaixão.
Na parábola, Jesus denuncia a hipocrisia dos religiosos. O Mestre narra a omissão de um Sacerdote e de um Levita que, mesmo vendo uma vida sucumbindo no meio da estrada, passam de largo. Aqueles homens não queriam se envolver com o problema dos outros. Em contrapartida, o bom samaritano age de uma maneira completamente diferente. Enquanto o Sacerdote e Levita se distanciam, ele se aproxima. Existia uma empatia no coração do samaritano. É possível que ele tenha se imaginado na situação daquele moribundo. Essa aproximação não se resumiu a uma piedade inativa. O missionário da parábola faz os curativos necessários, desintoxica os ferimentos, coloca o ferido em sua própria montaria, o conduz a uma estalagem e cuida dele. A vida de um missionário é uma vida de doação. O seu bem estar não é o suficiente pra lhe fazer feliz. Todo missionário sabe que o desejo de Deus é “que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”. (I Tm 2:04).
Também lhe é claro que “Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo.”(At 10:34b e 35). Diante dessa expressa vontade divina, o missionário não permanece inerte. Deus colocou em suas mãos as ferramentas necessárias para curar as feridas dos oprimidos do diabo. É missão dele “anunciar as virtudes daquele que o chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I PE 2:08b). Anunciar a virtude de Cristo de perdoar os pecados (I Jo 1:09; 2:01-02). Anunciar a virtude de Cristo de conceder o Espírito Santo (Jô 14:16; Mt 3:11). Anunciar a virtude de Cristo de curar todas as enfermidades (Is 53:04; Mt 8:16-17). Anunciar a virtude de Cristo de pôr em liberdade os cativos (Is 61:1; Jo 8:32). Anunciar a virtude de Cristo de proporcionar vida em abundância (Jo 10:10).
Na conclusão da Parábola. Jesus afirma que o samaritano passava pelo caminho com a provisão necessária para uma viagem. Ele tinha transporte, bebida, medicamento e dinheiro. Seu percurso ainda não havia acabado. Os propósitos de sua viagem ainda não tinham sido cumpridos. Não obstante, ao avistar a dor de seu próximo, o samaritano dispõe de seus recursos para ajudá-lo. Naquele momento, o amor do nosso viajante era grande demais para pensar em si. O que mais lhe importava era a recuperação do homem caído na estrada. A obra missionária é uma prioridade da igreja de Deus. A noiva do cordeiro, à semelhança do bom samaritano, deve usar o seu tempo, suas ataduras, seu óleo, seu vinho, sua montaria, seu esforço e até seu dinheiro para cumprir o Ide de Jesus. A evangelização precisa ser uma prioridade para o povo de Deus.
As palavras do Mestre nos ensinam que o bom samaritano não foi mencionado apenas para ser alvo de admiração. As atitudes do viajante de Samaria devem ser imitadas por todo aquele que declara amor ao próximo. Assim sendo devemos nos sensibilizar com o sofrimento alheio, cuidar dos aflitos e usar nossos recursos para reabilitar o caído. Que o Senhor da seara nos faça bons missionários de sua obra.
Pr. José Wilbert Magalhães é vice-superintendente na Convenção Litoral e Leste Paulista