Desafiados, mas não vencidos!

Quando lidamos com uma doença emocional dentro de casa não podemos entrar em desespero, precisamos buscar soluções
Quando temos um bebê, nossa casa e nossa vida se enchem de alegria. Trabalhamos para que cresça e se desenvolva com saúde, inteligência e integridade. Depositamos nele nossos sonhos e expectativas de realização, buscando de todas as formas protegê-lo de perigos como a violência, a criminalidade e as drogas. Contamos com os perigos que vem de fora, mas não imaginamos que em algum momento poderemos ter que protegê-lo dele mesmo, de um inimigo que vem de dentro: as doenças emocionais.
Uma depressão, por exemplo, pode desenvolver-se silenciosamente ao longo de anos sem que consigamos percebê-la, confundindo os sinais com características próprias da personalidade ou do desenvolvimento. Assim, podemos entender a insegurança e o retraimento como algo “herdado” de um dos pais; a ansiedade e o isolamento como próprios da adolescência.  Os sinais podem ser tão sutis e passar despercebidos até mesmo para pais mais atentos. No entanto, quando uma doença emocional já está instalada, torna-se muito mais difícil lidar com ela, pois em casos extremos até o suicídio pode parecer escape para uma dor insuportável.
Nessas horas é fácil sermos tomados pela negação, uma atitude quase inconsciente de não enxergar situações que parecem sem saída.   É quando a percepção fica obscurecida pela fuga de uma realidade dolorosa que precisa ser olhada de frente. Mas também não adianta procurar em nossas falhas a causa para o sofrimento, porque não existe uma resposta completa. Culpa e autopunição não mudam o passado e ainda tiram a energia e a lucidez necessárias para encontrar saída. Por mais que sejamos inundados pelo sentimento de impotência, quando acontece com um filho, não podemos entrar em desespero, precisamos buscar soluções!
Embora nosso emocional fique abalado, a primeira coisa que devemos fazer é focar nos sentimentos da pessoa doente e não nos nossos. Pensar que o filho é ingrato, que não leva em conta nossos sentimentos, que não confia em nós ou em Deus não ajuda em nada.  Não é sobre como as coisas são, é sobre como ele as vê.  É preciso vencer o impulso de dar conselhos e a tentação de censurar, pois críticas só pioram o sentimento de culpa e incompetência da pessoa.  A ferramenta mais preciosa que temos nessas horas são os ouvidos e não a boca.
Além de ouvir sem julgar, é preciso ter consciência de que enfrentar uma depressão ou intenção suicida dentro de casa não significa que sejamos maus pais, negligentes ou pouco cristãos.  Doenças emocionais são “doenças”, que assim como as demais podem acometer qualquer pessoa, mesmo numa família de líderes ou pastores.  Admitir que somos limitados e que precisamos de ajuda é admitir a nossa humanidade e dependência de Deus. É entender que Ele tem formas diferentes de agir e é soberano para operar um milagre direto, ou por meio de profissionais habilitados, como médicos, psicólogos e mesmo remédios, se for necessário.  Assim como procuramos um cardiologista quando há problema com nosso coração, devemos procurar um especialista em emoções quando temos problemas nessa área.
Mas antes que venha o pior, nós pais podemos fazer muito, principalmente se estivermos atentos a pequenos sinais que surgem no dia a dia. A tristeza, por exemplo, faz parte da vida, mas uma criança triste por semanas precisa ser olhada com cuidado; ela pode ser naturalmente insegura, mas entrar em desespero diante de uma prova escolar ou uma simples escolha do dia a dia, não é normal.  Da mesma forma, quando um adolescente se isola, chora por motivos banais ou subitamente começa a ir mal na escola, não podemos ver nisso simples “mimimi” da idade ou preguiça. Assim como por trás de um olhar perdido pode haver um grande vazio emocional, mangas longas em dias de calor podem esconder automutilações.
É claro que precisamos tomar cuidado para não ver em tudo um distúrbio, mas se sinais aparecerem não precisamos esconder a realidade de nós mesmos e nem dos outros. Pelo contrário, devemos fortalecer o diálogo em casa, sem acusações ou julgamentos, buscar apoio na família, na igreja e em profissionais especializados, mas, sobretudo, saber que não estamos sozinhos nesta luta. O Senhor está conosco em todos os momentos e por mais sombrio que nos pareça o agora, há saída, refrigério e alegria no futuro!

Depressão

A síndrome dos dias cinzentos

Sabe aqueles dias em que tudo amanhece cinza? O sol brilha na janela, mas o seu mundo está cinza? Esses dias existem e são mais comuns do que se possa imaginar. São dias crueis, difíceis e dolorosos. São dias de lágrimas, tristeza e profunda dor. Esses tais “dias cinzentos” são uma expressão da incapacidade humana de lidar com os revezes da vida de forma equilibrada e bem sucedida. São dias em que a fé balança, os princípios aprendidos durante toda a vida ficam em segundo plano e tudo que se enxerga são problemas, dificuldades, confusão mental e angústia.
Esses dias podem ser um episódio perdido em meio a dias ensolarados e felizes. E quando isso acontece, não geram maiores prejuízos, pois são passageiros e logo são superados. Basta uma boa noite de sono, um jantar com amigos, uma conversa com o marido / esposa ou qualquer outra atividade que produza prazer para que esse dia cinzento termine e o sol volte a brilhar com força total nos dias seguintes. Por vezes, o problema causador não foi nem resolvido, mas o indivíduo consegue olhar para ele sob outro prisma e aquilo já não causa mal algum.
O problema surge quando esses dias cinzentos tornam-se a rotina da vida humana, em uma sequência de dias em que o sol não brilha e a tristeza é a tônica das atividades. Quando nos deparamos com essas situações estamos diante de um quadro depressivo. Estamos diante do mal do século (ou talvez do milênio?) que tem acometido milhares e milhares de pessoas, sem escolher entre classes sociais, religiões, etnias, cores de pele ou gostos musicais. A depressão tira as cores da existência e tudo passa a ser visto em preto e branco, como nas antigas televisões dos nossos avós. As flores não têm cores. As refeições não têm gosto. As companhias não tem sentido. A vida perde a graça. E o suicídio passa a ser uma opção frequente.
Sim! Precisamos falar disso! Para quem está passando por problemas depressivos, a vida não tem tanta importância assim e, por mais que aos olhos de todas as outras pessoas isso seja impossível, para ele a morte é uma solução dos problemas. Todos veem como uma fuga, e talvez seja, mas para ele é a solução de todos os seus problemas. Afinal, para quem vive entristecido, morrer não deve ser tão ruim, não é mesmo? Não podemos fugir desta realidade e precisamos tratá-la com a devida seriedade, sem diminuir e sem superlativar sua importância. Devemos observar as pessoas com mais atenção e empatia, com mais amor e cuidado e apresentar a elas o lado bom da vida. Pintar as cores que foram apagadas e devolver sabores que foram suprimidos. Colocar alegria onde só há tristeza e colocar sentido onde não há direção.
Personagens bíblicos importantes, como Davi e Elias, passaram por quadros depressivos. Homens de Deus, cheios do Espírito Santo, com a vida em ordem perante Deus entraram em depressão. Homens que foram poderosamente usados por Ele não souberam lidar com suas próprias dores e fraquezas e esconderam-se em cavernas, assim como muitos de nós fazemos hoje. O fato é que Deus não os deixou lá para sempre. Em algum momento, a cura e a restauração vieram; tanto para um quanto para outro. Assim como pode – e há de vir – para cada um de nós que tem passado por isso.
Um poeta brasileiro canta com muita segurança os seguintes versos:
“Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei”
E ele tem razão, pois a própria Bíblia confirma esta verdade, por meio do salmista que cantava e registrou o seguinte verso no Salmo de número 30, verso 5:
“Pois a sua ira só dura um instante, mas o seu favor dura a vida toda;
o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria.”
Nossa oração é no sentido de que todas as pessoas que porventura estejam passando por uma fase de dias cinzentos possam encontrar esperança e ânimo. Que as palavras do salmista revigorem sua alma, que as esperanças sejam restauradas por meio dos exemplos bíblicos apresentados e que a cura que provém do Altíssimo seja derramada sobre todos os corações angustiados.

Ms. Eric de Moura congrega na IAP em Jardim Maringá (Mauá).