Identidade promessista – II

Valorizando nossa história como povo de Deus

A Igreja Adventista da Promessa (IAP) nasceu em 1932, na cidade de Paulista (PE). Com 83 anos de história, nossa caminhada conflui-se com a caminhada do povo de Deus em todos os tempos. Não somos uma “anomalia” no Corpo de Cristo, pois consideramos a história dos cristãos antes de nós como nossa história, afinal, antes de existirmos como denominação, houve quase dois mil anos de cristianismo vividos, sem contar com a historia de nossos irmãos do Antigo Testamento.
Sem dúvida, não nos seria sábio jogarmos fora tantos anos de andança com Deus. Por isso, desde o início da IAP, procuramos fugir do sectarismo (exclusivismo), mesmo que, de alguma forma, lutamos sempre contra este sentimento que surgiu no decorrer de nossa vida denominacional. Sem dúvida, não somos a única igreja verdadeira, mas somos parte da igreja presente em todo mundo: aquela composta por todos os cristãos, de todos os tempos e lugares, formada por judeus e gentios; de todas as raças, povos, línguas e nações, que um dia estará junto com o Cordeiro (Ap 7.9).
Cremos que Deus tem levantado homens e mulheres leais a sua Palavra, mesmo depois da morte dos Apóstolos. Basta folhearmos as páginas do nosso livro de história denominacional, “Marcos que Pontilham o Caminho”1, e percebermos nosso alinhamento com a História Cristã, mostrando que não a desprezamos: Irineu, Tertuliano, Agostinho, Lutero etc. Movimentos como  Quakers, Metodistas, Rua Azuza etc. Ainda que reconheçamos momentos de desvio na Igreja Cristã, longe de nós nos considerarmos “o único povo de Deus na Terra”, como disse nosso fundador, o Pr. João Augusto da Silveira, mas certamente pertencemos a esse povo.
Isso não tira nossa peculiaridade e importância, mas enfatiza nossa consciência de que pertencemos à Igreja de nosso Senhor, aquela comunidade formada pelo Espírito no dia de Pentecostes; cuja regra de fé e prática é a Bíblia, a qual tentamos seguir em todo nosso discurso e vida. Somos, então, parte dos cristãos verdadeiros: aqueles que têm a fé em Cristo e guardam seus mandamentos (Ap 14:12).
O que podemos dizer é que Deus nos chamou para servi-lo de maneira peculiar e zelosa, levar sua Palavra para o Brasil e a partir do Brasil. Louvamos a Deus que nos tem sustentado até aqui e nos feito reconhecer que somos parte de seu povo. A IAP:
“(…) tem uma importante missão a cumprir: ‘cultivar e expor todos os ensinamentos bíblicos, e não somente aqueles que dizem respeito ao perdão e à justificação pela fé, mas também os que se referem à doutrina do batismo no Espírito Santo, os dons espirituais, e à vigência da lei moral dos dez mandamentos, entre outras, igualmente importantes para a edificação daquele que crê. Este deve ter sido o propósito de Deus, ao conceder ao Pr. João Augusto da Silveira a bênção do batismo no Espírito Santo.”2
Como cristãos promessistas, valorizemos a História do Cristianismo, aprendamos com seus acertos e erros, sem esquecermos as peculiaridades de nosso chamado como denominação, cumprindo a missão para a qual fomos chamados.
 
Andrei Sampaio Soares congrega na IAP em Vila Medeiros (SP) e é colaborador do Departamento de Educação Cristã da IAP

Identidade Promessista – I

Promessistas: nem adventistas, nem assembleianos

Inicio uma série de textos sobre a identidade dos Adventistas da Promessa. Amo a denominação da qual faço parte e desejo compartilhar com meus leitores a minha percepção (não doutrinária) desta “Nordestina” de 83 anos.
 
O que de melhor há no “Sétimo Dia” e na “Assembleia de Deus”
Começo perguntando: que cara tem a Igreja Adventista da Promessa? Alguns já disseram que somos uma junção do que há de melhor nos adventistas do Sétimo Dia e o que há de melhor nos assembleianos. Do Sétimo Dia teríamos “herdado”: a) os mandamentos de Deus, com destaque para o sábado, a abstinência de certos tipos de alimentos; b) o ardor doutrinário; c) A ênfase na Volta de Cristo. Já da Assembleia de Deus “herdamos”: a) o “fogo do Espírito”: b) a manifestação de dons espirituais: com ênfase em línguas e cura; c) a “exuberância” na oração.
 
O que de pior há no “Sétimo Dia” e na “Assembleia de Deus”   
Há os que pensam o contrário. Na verdade, dizem, somos a junção, resultando no pior das duas denominações. Para estes, herdamos dos adventistas: a) a prepotente visão de que somos “o único povo de Deus na Terra”; e b) o legalismo. Já dos assembleianos, teríamos “herdado”: a) o improviso litúrgico; b) a “censura” no porte e na conduta cristã (com ênfase na proibição de calças e adornos, restritivamente para as mulheres).
 
Nossa diferença com o “Sétimo Dia”
Já temos mais de 80 anos, e se pensarmos, já temos – e sempre tivemos –  muitas diferenças destas duas denominações. De fato, elas nos influenciaram, tanto no nosso nome como em nosso comportamento. Acredito que podemos entender que somos diferentes da Igreja Adventista, e não sugiro com isso como um “ódio ao adventismo”, nem proponho a mudança de nosso nome, porém, não há como aceitarmos o rótulo, depois de 83 anos de história, de que ainda somos “adventistas” como nossos irmãos.
Basta lembrarmos que não temos nenhum compromisso com algumas doutrinas: a) os escritos de Ellen White; b) não cremos na doutrina do “santuário celestial”, um “remendo” mal feito, para o equívoco da tentativa de agendamento da volta de Jesus para 1844; c) o despojamento de que somos a “única igreja verdadeira”. Isso fica evidente nas palavras do Pr. João Augusto da Silveira, nosso fundador:
 “O nosso título denominacional traduz justamente o que nós cremos a respeito de títulos de igrejas. ‘Universal assembleia’¹, estas duas palavras, as encontramos na epístola aos Hebreus 12:23, e cremos que elas nos falam de uma única igreja de Jesus Cristo na terra, não cremos que ela tem referência a nenhuma das denominações existentes, e nem mesmo a nós que a adaptamos como um título, mas antes que ela diz respeito a totalidade dos cristãos em Jesus Cristo de todas as denominações, os quais têm andado em sinceridade de coração, na luz que têm recebido.²
Além de outras diferenças: d) a abstinência para nós é uma questão da soberania divina (a visão adventista é uma espécie de “reforma de saúde”); e) não cremos que Miguel é Jesus (Hb 1).
Vejam quantas diferenças, muito mais que as “línguas estranhas”.
 

Nossa diferença com a “Assembleia de Deus”
Quando penso em nossa “face assembleiana”, acredito estarmos distantes deles também. A) “Nosso pentecostalismo” é equilibrado, conquanto haja alguns extremos em alguns lugares, mas, no geral, não acreditamos em descontrole espiritual (perda da consciência durante a manifestação do dom de línguas, profecia e etc.); B)  não acreditamos que perdemos nossa personalidade quando Deus nos usa; C) não cremos no cair no Espírito; D) não adotamos cultos intermináveis (embora nem todos assembleianos sejam assim) E) não cremos no arrebatamento secreto da igreja; F) não cremos no inferno presente e eterno (porém na punição aniquilacionista no “lago de fogo”).
 
Promessista, povo que caminha
Nesta caminhada de mais de 80 anos não andamos para nos tornarmos uma mistura de doutrinas, como se fôssemos uma “babel convertida”. Nossa identidade tem caminhado para uma nova face que, queira o Senhor, nos ajude a parecer mais com Cristo, resultado da obra do Espírito Santo, o qual tem operado desde o início dos promessistas. Inclusive sem descartar a boas influências que as duas denominações trouxeram a nós.
Nossa caminhada teológica (estudar não é pecado), nossa ênfase na Graça e o aperfeiçoamento doutrinário está nos direcionando para que sejamos, como sempre fomos e cada vez mais, a igreja da Palavra. Buscamos cada vez mais conhecer ao Senhor (Os 6.3) e crescer na sua graça (2Pe 3.18), aprimorando nosso conhecimento na salvação pela graça, sem perder o fervor espiritual e o zelo pela Lei de Deus. Lutando para que, como promessistas que somos, contribuamos à  Igreja de Cristo na tarefa que nos foi confiada.
Andrei Sampaio Soares congrega na IAP em Vila Medeiros (SP) e é colaborador do Departamento de Educação Cristã da IAP
 
1 O primeiro nome da Igreja Adventista da Promessa foi: “Universal Assembleia dos Adventistas da Promessa”.
2 SILVEIRA, Augusto da. NOSSO NOME DENOMINACIONAL. Disponível in: http://portaliap.com.br/2012/05/iap-80-anos-2/> Acessado: 26/03/2015.