A eleição das inimizades

As brigas na família, no trabalho e entre amigos, por conta de política, não valem a pena
“Meu sonho é ver os políticos brigando pelo povo com a mesma força que o povo briga por eles nas redes sociais.” Essa frase, cuja autoria é desconhecida, foi compartilhada diversas vezes na internet no período de eleições. Ela traz um desabafo diante das centenas de publicações e comentários que tomaram as redes sociais nas últimas semanas.
A questão em torno da frase não é nem o fato de que muitas pessoas se posicionaram e expuseram sua preferência e seu voto, mas a dificuldade em se lidar com o posicionamento de pessoas com preferências diferentes das suas.
Em um texto publicado no Facebook e intitulado A verdade e as verdades, o pastor Ed René Kivitz, da Igreja Batista da Água Branca, analisa essa bagunça de verdades e argumentos na internet:
“A convivência com esse tipo de ressonância nas mídias sociais me ensinou pelo menos quatro coisas: existe sempre alguém que comenta o que acredita que você diz, não necessariamente o que você diz; existe sempre alguém que diz o que quer, independentemente do que você diz; existe sempre alguém que interpreta as coisas que você compartilha a partir dos conceitos e preconceitos que tem a seu respeito, e inclusive distorce o que você diz; e, principalmente, o que desejo enfatizar, existe sempre alguém que trata você como equivocado, ignorante, não inteligente, e acredita possuir a verdade indubitável e incontestável.”
O debate e a discussão saudáveis nas redes sociais, salas de aula e nas famílias são positivos e ajudam a esclarecer ideias. Analisar o cenário político sob outros pontos de vista, discordar de opiniões e argumentar, desde que seja mantido o respeito, enriquece a conversa.
Mas quando os debates entre os próprios políticos são cheios de acusações, ironias e ofensas, e vazios de respeito e de propostas concretas, o povo tende a seguir o mesmo comportamento.
Fake news do partido X, meias verdades do candidato Y, textos fora do contexto, acusações e notícias de corrupção foram amplamente divulgados. Exposição de projetos, propostas e soluções reais foram pouco vistas.
O fato é que vivemos em uma democracia e cada eleitor é livre para definir seu voto no candidato que julgar melhor. As brigas na família, no trabalho e entre amigos, por conta de política, não valem a pena. Acabamos nos indispondo  com pessoas queridas por divergência de opinião sobre algo que todos queremos que dê certo: o bom governo da nossa nação.
Deus nos ensina que sempre devemos orar por aqueles que estão no poder. “Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade” (1 Tm 2.1-2).
Independente dos resultados, devemos nos unir para manter viva a esperança de que nosso país tem solução.
 
Juliana Coelho, jornalista. Publicado originalmente na revista Dialogo, da IAP em Vila Maria (São Paulo, SP).