Não fuja do refúgio

Pela justiça da cruz, não precisamos mais ter medo, como se Deus fosse um inimigo vindo nos destruir

“E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.” (Gn 3:8-10).
Estava lendo o texto acima e refleti: quando o homem caiu, ele estava do lado de lá do evento do calvário. Estava, portanto, sem cruz ou, pelo menos, sem a consciência dela. O estado do pecado, somado à ignorância acerca da cruz, fez do homem um ser decaído e tolo. Ao ouvir os passos de Deus, ele achou que poderia esconder-se (v.8). A mente passou por um retardamento absurdo. Então, ele e sua mulher, agora distantes – pois é isso que o pecado causa, um distanciamento abissal – concluem, com base em pressupostos meramente humanos, que podem se esconder de Deus. O homem se esqueceu, ao que parece, de quem era Deus. Esqueceu-se de sua soberania concluindo que algum lugar poderia ser um eficaz refúgio dele. Vejam só que absurdo, refugiar-se de Deus, não mais em Deus.
Apesar disso, foi-lhe possível ouvir o Criador falar, chamando-lhe pelo nome. Aquela voz, outrora desejável, tornou-se terrível, amedrontadora. Nada havia mudado em Deus, ele é perfeito e não muda. Tiago disse que, no Pai das luzes (em Deus), não há mudança nem sombra de variação (Tg 1.17).
O Senhor, portanto, era o mesmo dos encontros agradáveis de todos os dias. O problema é que o homem não era mais o mesmo. Teve sua humanidade manchada pelo pecado da rebelião. Adão, quem sabe, concluiu que era seu fim, escondeu-se de Deus porque achou que o encontro com ele seria desastroso. Mas, ao ouvir sua sentença, bem como a de sua mulher, não obstante estivessem com o raciocínio afetado pelo pecado, foi possível ter um lampejo de esperança, pois apesar de um dia retornar ao pó, ele ainda veria sua mulher dar à luz filhos. Tal esperança ganha um tom especial ao ouvir Deus declarar, na condenação da serpente, que esta teria sua cabeça duramente golpeada pela semente da mulher.
A cruz cumpriu cabalmente esta promessa, e mais do que isso, ela nos redimiu de toda a culpa e nos salvou do pecado que causava separação do Criador (Cl 1.20; 2.14 e 15). Hoje nos refugiamos, não de Deus, mas em Deus, pois ele é o Deus da cruz. Hoje podemos ter esperança, pois Jesus é a esperança, a cruz é a esperança. Por meio da cruz, vemos não um Deus assustador, ela nos faz enxergá-lo melhor.
Pela justiça da cruz, não precisamos mais ter medo, como se Deus fosse um inimigo vindo ao nosso encontro para nos destruir. À sombra da cruz estamos resguardados, protegidos, estamos a salvos. Salvos da condenação e da ira vindoura. Pela justiça da cruz hoje nos refugiamos nele, e não dele. Jamais seria possível escondermo-nos de Deus (Sl 139.7-12). Sem cruz não há salvação, portanto o perigo não é a proximidade de Deus, mas o distanciamento dele. Por essa razão, não fuja do Criador, aproxime-se, com lamentos, com prantos, com arrependimento e você encontrará misericórdia, salvação e refúgio (Tg 4.8-10).
Não precisamos mais ser servos do pecado, fomos libertos dele. Entretanto, como ainda não fomos salvos da presença do pecado ainda há a possibilidade de tropeço. Porém, se isso vier a acontecer, não corramos dele, mas para ele. Por Cristo, pelos méritos dele, pela cruz, Deus, graciosamente, nos receberá. Temos um advogado junto ao Pai, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda maldade, injustiça ou pecado (1 Jo 2.1).
Deus ainda caminha em mossa direção. Por enquanto, para salvar a humanidade que caiu e procura se esconder dele de diversas maneiras, negando, inclusive, que ele exista. Você não precisa fazer isso. Não fuja do refúgio, o perigo está lá fora, onde se pensa está seguro e bem abrigado. Corramos para o Criador, somente nele há perdão, salvação e segurança. Amém.

Será que estou morto?

Embora todos temam a morte, muitos estão nela, sem perceberem

Possivelmente, você já se deparou com a seguinte pergunta: “Você tem medo da morte?” Esse questionamento é, por si só, impactante. Viver é bom e prazeroso. É na vida que mentalizamos os nossos maiores sonhos, aquilo que almejamos acontecer em nossa história. Mas a morte é horrível. Ela é medonha e interrompe qualquer sonho de um futuro promissor, nesta realidade.
Contudo, torna-se necessário atentarmos para uma importante verdade: muitos, por mais que tenham medo da morte, já estão mortos. “Como pode ser isso?”, alguém pode perguntar. Obviamente, estamos nos referindo à morte espiritual. Logo, têm todo sentido as palavras de Paulo: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados (Ef 2:1 – grifo meu). É isso que somos ao nascer: mortos! À semelhança do filho perdido mencionado numa parábola contada por Jesus, muitos estão mortos (cf. Lc 15:24). O clamor do apóstolo ainda é possível de se ouvir nos dias de hoje: Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?  (Rm 7:24). Paulo está se referindo à natureza pecaminosa que faz parte de todo ser humano. Essa natureza o estava maltratando, pois diversas vezes, levava-o a fazer coisas que ele aborrecia e a deixar de fazer o que aprovava (Rm 7:15).
Se nascemos mortos, necessariamente devemos nascer de novo. Isso não significa dizer que a natureza pecaminosa que há em nós nos deixará. Porém, ela não mais nos dominará. O que Jesus disse a Nicodemos é extensivo a todos: …se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (Jo 3:3). Assim, os “mortos não vêem, isto é, eles não vêem o Reino de Deus como um desejo supremo. Parece-lhes algo tolo, mítico ou maçante. Por isso, não podem ‘entrar no Reino de Deus’ (3.5)”, escreve John Piper, no livro “O que Jesus Espera de Seus Seguidores: mandamentos de Jesus ao mundo.”
Será que estou morto? Esta pergunta deve ser feita por cada pessoa. Todos precisam refleti sobre ela. Se a resposta for positiva, o que fazer? Paulo disse: Ele vos deu vida… (Ef 2:1). Ele quem? Deus! Este, por intermédio da morte de Cristo, nos faz nascer de novo e nos torna novas criaturas (2 Co 5:17). Portanto, o melhor a fazer é correr para os seus braços. Ele nos dá nova vida!
Ms. Jailton Sousa Silva é colaborador do Departamento de Educação Cristã da Igreja Adventista da Promessa, em São Paulo (SP).