Água que dá vida

Ele está a ajudar um dos pedreiros
São precisamente 13h30
O sol arde como pimenta indiana
Tem nas mãos duas canecas de plástico duro
Cheias de água limpa
– É para beber?
– Sim!
Bernardo vira uma das canecas na boca
Bebe com gana, com vontade
Água do poço de Nataleia
O líquido desliza pelo peito a molhar a camisa surrada
– Isso é água boa, pastor! Água que dá vida!
– Graças a Deus!

Não só para os pobres

O Evangelho  não vê classes sociais
O Evangelho não vê classes econômicas
O Evangelho não vê classes étnicas
O Evangelho é para todos
São 21h40 do dia 05 de fevereiro
Estamos reunidos a cantar a Deus
Com a família mais rica de Malema
Têm profundo respeito pelos pastores da IAP
Por isso ouvem o Evangelho, cantado e falado
Um dos momentos sublimes da missão
O Espírito Santo age com poder
Não se interessa apenas pelos pobres
 
 
O sanfoneiro
Casa de barro e palha
Quase em frente à IAP em Nataleia
A depender do dia, o viajante era atraído pela música
O Sr. Nacuco e seu acordeon
A tocar sozinho no serrado africano
Mas agora o músico cego já não mais toca
Seu precioso instrumento quebrou
Pois os ouvidos estão mais pobres
A alma, menos sensível
E os viajantes procuraram por um som que sumiu

A cozinha


Um balde de zinco
Um corte no lado, outro no fundo
Lenha e fogo
O fogão está pronto
Arroz, feijão, sardinha, salsicha e tomate
Nosso almoço está pronto
“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”
 
 
A visita do prefeito
 04 de fevereiro
O prefeito de Malema surpreende
Chega para visitar as obras que IAP está realizando
O poço, a construção da igreja, a horta…
Conversa com os pastores
Volta agradecido por tudo que viu
Mas consciente está de que tudo o que viu
Só é possível por causa de Jesus
 
Pr. José Lima

Orem com urgência

Há seis dias em Malema
Necessidade urgente de dois poços
Contato todos os dias com a empresa
Ontem, a notícia: a empresa está impossibilitada
Crianças, idosos, jovens e adultos
Tomando água suja
Estamos a buscar novas alternativas
Mas parece não haver opções
Todavia, já vimos Deus fazer proezas por aqui
Por isso, pedimos: orem, orem, orem…
 
 
Açúcar no bolso
Na pensão de Malema
Estou a doar1 kgde açúcar para um rapaz
O plástico rasga e um pouco do pó precioso se derrama
Cem gramas no bagageiro do carro
Peço ao moço da limpeza que me ajude
Ele se abaixa e usa as mãos
O açúcar desliza suavemente ao bolso de sua bata de trabalho
– É muito açúcar, senhor, não se pode perder…
Ele se foi e eu fiquei ali a pensar
– Cem gramas de açúcar, meu Deus…
 
 
Dijap na chuva
Estamos na estrada de volta à vila de Malema
Acabamos de servir almoço para os trabalhadores
Estão a construir a igreja e a horta comunitária
Uma chuva forte cai
À nossa frente, um bolo de crianças
Com um plástico a cobri-las da tempestade
Todas da IAP em Nataleia
Se divertindo na chuva
– Oi!
– Oiiiiiiiii!
Subitamente, a Dsa. Scheila saca um sabonete
– Eiiiiii… É isso, é isso, é isso…
PUlação, gritaria, festa…
Quinze crianças a se banharem na estrada
 
 
Pr. José Lima
 
 
 
 

Sem sonhos, sem alvos

Me aproximo do Pr. de Nataleia
– Pastor, tá tudo bem com sua esposa?
– Está…
– Desculpe, é que ela está extremamente magra
– É… é que este é período de chuva
– … Período de chuva… me explique, por favor
– É tempo de plantar, não colhemos, ela tem fome, pastor.
Eles quase não têm sementes
Eles não têm visão de armazenar, nem onde, nem o que
Tudo é apenas “hoje”
Não há sonhos, objetivos, alvos, amanhã
A média de vida é de 45 anos
 
 

O caminhoneiro e as crianças

Estou na vila de Malema
Comprando cimento e ferro
Mais de dez crianças a comer bolinhos fritos
Escoradas à sombra de um muro
– Todas comeram?, pergunta o caminhoneiro
– Simmmmmmm! Obrigado!
Ele as viu com fome, parou e alimentou-as
A vendedora de bolinhos, de oito anos, está realizada
Fez um grande negócio!
 
 
Pr. José Lima
 
 

Sábado

Estamos rumo á igreja em Nataleia
Felizes por encontrar o povo de Deus
Adorar a Deus com música africana
Que privilégio!
Idosos, adultos, jovens e crianças a cantar
Um coral na igrejinha, em meio à plantação
É sábado!
Deus seja engrandecido!
 
 
 
 
Um banquete espiritual
É sábado, dia do Senhor!
Dia de descanso, de adoração, de deleite
Dia de posse do Pr. Almir e Dsa. Scheila
Vão assumir mais uma parte do trabalho de Jesus
Agora no sul de Moçambique, em Nataleia
A igreja de barro e palha é baixa e pequena
Muita gente para pouco espaço, então…
Plásticos debaixo das mangueiras
Tábuas da construção ao chão
Num instante, uma congregação a céu aberto
Começa a Escola Bíblica, derrama-se a sabedoria de Cristo
Começa o culto, explode o poder de Deus
Música, música espiritual
Um “coral” africano de arrepiar
Alegria, muita alegria
Crianças, jovens e adultos a dançar com decência e ordem
Almir e Scheila empossados
A igreja não resiste:  entrega-se à celebração
Um por um, a abraçar o casal missionário
E nós, a olhar e chorar ante essa maravilha divina
Quem tem méritos para estar aqui e viver isso?
“Oh, Senhor, que não nos falte a tua graça”.

A juíza de Malema

Um casamento na vila onde estamos
Uma cerimônia sofisticada para os padrões locais
Somos chamados para conhecer as autoridades presentes
Oficial de Justiça, a Juíza da Província, o homem mais abastado…
Dra Iracema, a juíza, recebeu O Doutrinal
Sua gratidão nos constrangeu
Deseja nos receber em seu gabinete
Está surpresa com a missão da IAP
O evangelho não vê classes sociais
É para todos
 
 
Apoio do prefeito
Sexta-feira, 01 de fevereiro, 9h00
– Sejam bem-vindos, senhores!
– Com licença
Estamos no gabinete do administrador do Distrito de Malema
Sr. Dauda Mussa, é o “prefeito”
Ele precisa saber quem somos e o que fazemos
Surpreende-se com o Plantando Esperança
Surpreende-se com a Igreja Adventista da Promessa
Ouviu que tudo só é possível por causa de Jesus
– Parabéns! Fiquem à vontade na Província. Estão em casa
 
 
Apoio da polícia
Após os acertos preliminares, entramos na sala
O sub-comandante da polícia, Sr. Vitorino, à nossa frente
Explicamo-lhe a missão, sempre mencionando Jesus
– Eu estava a vos notar, indo e vindo no carro
-É, todos os dias são árduos para nós
Contamo-lhe sobre alguns empecilhos
– Qualquer problema, nos procurem, pastores
– Que bom ouvir isso do Senhor
– Oooo… Não tem problema. Tem nosso total apoio
– Muito obrigado
Sabemos que em todas essas coisas tem a mão protetora de Deus
 
Pr. José Lima

Chuva, montanhas e nuvens

Chuva, muita chuva
A noite inteira de chuva grossa
05h20, estamos na estrada
Rumo a Nataleia
As torrentes se foram e o cenário da manhã é deslumbrante
As nuvens brancas e gigantes são como monstros de neve
Elas abraçam as altas e imensas montanhas, como a namorar
Enrolaram-se, deram um laço nos grandes picos
Estão bem perto da terra como querendo tocar em nós
Trazendo um frio inacreditável no serrado africano
“Deus é Senhor da natureza”.
 
 
Intervenção divina
 
Tudo preparado para a construção da IAP em Nataleia
Materiais, trabalhadores, alimentação…
A comunidade decidira que a vida se daria em redor do poço
Como em torno do rio
Antes, subitamente, a notícia: “o filho não permite a construção em redor do poço”
Situação inesperada e de difícil solução
Em Moçambique, a liderança familiar é um misto patriarcal / tribal
Uma decisão de ontem pode ser outra amanhã, conforme os interesses
“Se tem homem branco, tem muito dinheiro”
O filho da senhora do terreno quer um valor difícil de operar
Vinte e quatro horas de apreensão
Centenas de crianças, dezenas de idosos, muitos adultos inseguros
Vêem suas esperanças se desvanecendo
Joelhos no chão, conversa franca com Deus, choro e clamor
Conversa espiritual com a comunidade
No dia seguinte, a notícia abençoada: “Podem construir!”
E sem uso de nenhum centavo
Festa, alegria, júbilo!
Eles sabem que o homem jamais cederia
Eles sabem que Deus interviu na mente dele.
Eles acreditam e afirmam: “Foi um milagre de Deus!”
 
 
Doeu na alma
Em junho de 2012 ela foi alvo de uma destas singelas “crônicas”
Menina humilde, coração alegre
Ela vibrou quando ouviu sobre o Projeto Plantando Esperança
Agora está triste, quieta, cabeça baixa…
– Oi, Maria (nome fictício)
– Oi
– Tudo bem?
Silêncio
– Você está indo à escola?
– Não
– Posso saber por que?
– Humm… dinheiro…
– Não teve como pagar, é isso?
– É…
Mas não é. Porém, ela não é mentirosa
No caso dela, a verdade é difícil de ser expressada
Quando uma criança é violentada, a alma morre
Agora está recebendo carinho, atenção, orientação
Vai voltar a estudar
Vai voltar a ser feliz
Porque o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo que crê.
 
 
Os meninos na ponte
São cinco metros de altura
Uns estão de calção, outros do jeito que nasceram
“Um, dois, três, iaaaaa…”
Os corpinhos se soltam no ar a se encontrar com a água
Água corrente, mas poluída, contaminada
Em um minuto, estão em cima da ponte outra vez
Um vai e vem sem fim
Única alegria, única diversão.
 
 
 
Dona Alda
Ela merece ser mencionada, conhecida
Não é exagero dizer que ela é como um anjo de Deus para nós
Em todas as dificuldades, dona Alda “mexe os pauzinhos”
As portas se abrem quando ela faz uma ligação, um contato
Ela é pessoa ativa do Plantando Esperança
Deus a usa de forma especial, singular
Ela tem profundo respeito pelo trabalho que a IAP faz
Ela é a mulher mais abastada de Malema
Mas não se exibe, não é esnobe
Vive a nos ajudar a ajudar os desvalidos
Ela merece a oração dos promessistas
 
 
 
 

A vida depois do poço


O poço de Nataleia foi furado em junho de 2012
Nunca mais as pessoas tomaram água contaminada
O banho, o lavar roupas, o fazer comida, tudo mudou
A barriga das crianças voltou a tamanhos normais
Os olhos foram perdendo a coloração amarelada
As irmãs, ah, as irmãs… estão felizes!
A busca desgastante de água no rio em Nataleia ficou para trás
Elas sorriem, elas cantam, elas dançam
Querem, mas não sabem o que fazer para agradecer
E nós? Não sabemos o que fazer com tanta emoção
“Obrigado, Jesus. Bendito seja o teu nome”
 
 
O menino e a boleia
 Todos os dias, ele nos espera na estrada
A 2 kmde Nataleia
Sua alegria é andar “na buleia” (cabine do carro)
São seis horas da manhã
De longe, o avistamos a sorrir, dando sinal com as mãos
– Olá, Jakson!
– Bom dia!
– Quer boleia?
– Sim!
O menino entra no carro, radiante
– Quantos anos você tem?
– Não sei
A maioria dos moçambicanos não sabe o dia e ano em que nasceram
– A vó disse para eu pedir açúcar
– Ta bom, a gente traz um quilo para sua avó
– “É” três quilos
– Para quê sua avó quer3 kgde açúcar?
– Para trabalhar na plantação
– Não entendi, Jakson
– É para comer com mapira e ter força
Por falta de recursos, eles misturam açúcar com mapira (grãos de pouco valor nutritivo)
É a saída que alguns encontram para manter um pouco de vigor físico
 
 
 
 
 
Osmar, in memorian
 Em dezembro de 2011, ele nos comoveu
Calção e camisa azul, os dois braços descansavam na barriga grande
Em junho de 2012, ele nos consternou
Um lado de seu corpo estava paralisado
Agora ele nos fez chorar de saudade
Osmar era um menino de seis anos de idade
Foi vítima da imensa fragilidade social
Bactérias, vírus, micróbio, fome…
Está dormindo em Cristo
A IAP está aqui para tentar evitar tragédias assim
E, sobretudo, salvar vidas para o reino de Cristo
“Esse projeto salvará as futuras gerações” – Faustino, pastor moçambicano
 
 Pr. José Lima

O vendedor de lenha


Estrada enlameada
O vendedor de lenha empurra a bicicleta na ladeira
Um feixe robusto de galhos secos
Paramos o carro a seu lado
– Boa tarde! Você vende essa lenha?
– Sim!
– Quanto custa?
– Cem meticais! (R$ 6,60)
O vendedor põe humildemente a lenha no carro
Ele iria empurrar a bicicleta por25 km
“às vezes, ninguém compra e eu trago de volta”
– Quem são seus pais?
– Só tenho mãe. Tenho também irmãos.
Nos contou que o dinheiro da lenha é para dar de comer à mãe e aos irmãos
Demos-lhe 250 meticais (R$ 16,60)
– Obrigado, papa!
Não o fizemos por pena.
Precisamos de lenha para fazer nosso jantar
E o lenhador voltou radiante

 

Pescoços e bicicletas


Pescoços e bicicletas
 Sacos de carvão
Sacos de manga
Feixes de lenha
Tudo o que se possa vender e trocar se vê
Nas cabeças e pescoços rígidos
Nas bicicletas de pneus baixos
Nos passos lentos ao chão
Nas pedaladas cansadas
Nas estradas sem fim
Na esperança de uma vida melhor
 
Beleza teimosa
Apesar da chuva que
Destrói e mata
Apesar da malária e da cólera virulentas
Apesar da pobreza impiedosa
Apesar da desesperança
A chuva esverdeia as pradarias
As nuvens carregadas beijam os montes
As flores colorem e acalmam a alma
As crianças correm na chuva e se banham nas poças
E os viajantes
Desfrutam dessa beleza teimosa
 
A menina da pasta azul
 
São 7h30
Ela vê nosso carro e pisa firme
Tem medo de homens brancos
Braço esquerdo a apertar a pasta azul
Dentro estão caderno, lápis e borracha
São cinco quilômetros até a escola
Tem apenas cinco anos
Ta chovendo e, para seus padrões, frio
A menininha africana está só na estrada
E é linda
 
 Bolos
 
Não, não falo de trigo, nem fermento
Não falo de festas de aniversário
Não falo de brigadeiros salivantes
Falo de crianças juntas na beira da estrada
São vistas aos montes
Coladinhas uma nas outras, se aquecendo do frio
Bolos de crianças
 

Impedidos pelo Espírito Santo



Na direção do Espírito Santo
 
 
Ah, que segurança!
Que alívio!
Ter provas concretas de que Deus está com você.
O dia programado para ir à Malema era um
É lá que mais se precisa de socorro
Mas, circunstâncias em Nampula nos impediram
Hoje, a notícia do mecânico profissional: se tivessem tomado a estrada, o motor teria estourado e…
Carro cheio de mantimentos
Carro cheio de ferramentas e produtos para construção
“A integridade física de vocês poderia estar seriamente comprometida”
Porém, ouso dizer como Paulo em Atos 16: o Espírito Santo nos impediu…
Está na direção da árdua e perigosa missão
Agora temos um carro a mais, com motorista, doado pela locadora
Para compensar o transtorno
Planejamos fazer um curso bíblico com o motorista
“Esse Espírito Santo!”
 
 
 
Rumo a Malema
 
Quatro horas da manhã
Tanque de água e mangueira
Martelo, serrote, alicate e prego
Carros lotados
Estamos na estrada
Comida para 20 dias
Construção de templo
Construção de hortas
Poços artesianos
Crianças na escola
Aulas da Fatap
Proclamação a não salvos
Socorro aos aflitos
Trabalho duro em Malema
“Para isso fostes chamados
 
 
Pr. José Lima

Uniforme das 134 crianças é garantido, graças a Deus!

Compra arriscada
 
É lá que tudo acontece
A feira é o grande lugar de encontro dos moçambicanos
Milhares de produtos no chão, sempre no chão
Homens e mulheres em negócios
Mas há muitos à espreita, com coração perverso
“Pastor, se vêem que você é de fora logo pensam em dinheiro, e aí…”
Mas não tem jeito: os produtos que queremos só tem lá
E o valor é considerável
Por precaução, vão apenas três: Osmar, Almir e Marcelino
Ficamos em oração
Cinco horas depois, o alívio: eles voltaram em paz
O uniforme das 134 crianças está garantido!
 
 
Pr. José Lima