Tempo para tudo – para ser curado ou morrer
“Tudo tem o seu tempo determinado”, assim começa o capítulo três do livro de Eclesiastes, escrito por Salomão, rei de Jerusalém, no décimo século antes de Cristo, tendo como um de seus propósitos refletir as experiências e desesperanças de seu autor. Desta forma, este “é o livro do homem ‘debaixo do sol’ que filosofa sobre a vida…, representa a visão do mundo de um dos mais sábios homens, que sabia da existência de um Deus Santo que julgará todas as coisas um dia”[1].
A repetição das expressões como “vaidade das vaidades”, “tudo é vaidade”, “correr atrás do vento” deixa claro que, para o “pregador” – como Salomão se auto intitula neste livro – muito de suas experiências o levou à conclusão de um vazio nas realizações. Ele se encontrava frustrado porque muito daquilo que buscou durante sua vida não tinha valor duradouro. Desta forma, este livro demonstra que “a vida vista unicamente a partir da perspectiva humana resultará em pessimismo, e oferece a esperança por meio da obediência humilde e da fidelidade a Deus até o dia do julgamento final”[2].
Certamente que a compreensão da revelação divina, que nos proporcionaram os séculos que nos separam do sábio Salomão, nos permite afirmar que há uma sabedoria acima de tudo e de todos. Podemos assegurar, sem a menor das dúvidas, que há uma eternidade para ser vivida e que Deus, com sua infinita sabedoria, governa o mundo, governa a história e governa nossas vidas. Assim o Deus de Salomão, desde sempre, sabe discernir todos os acontecimentos e seus reais propósitos, de tal modo “o conhecimento que Deus possui dá-lhe o discernimento de tudo quanto existe e que poderá vir a existir. Tendo em vista que Deus existe por si mesmo, seus conhecimentos estão além de nossa simples imaginação, são ilimitados” [3]. Esta sabedoria é sintetizada desta forma pelo salmista: “Nosso Senhor é grande, com força sem limite: nunca compreenderemos o que ele sabe e faz”[4].
Este Deus que dá sentido à vida e que é surpreendentemente sábio, cura alguns e permite que morram outros. Seria longa a lista de cristãos sinceros, que tivemos a alegria de conhecer, por pouquíssimo tempo, pois já não estão mais entre nós, dizimados por doenças terríveis. Muitos destes servos que dormem em Cristo partiram muito cedo, poderiam ter vivido conosco muitos anos ainda, entretanto, a despeito das orações e consagrações por suas curas, ela não veio. O Senhor tinha outros planos, muito mais elevados que os nossos e agora eles aguardam o dia da gloriosa manhã da ressurreição.
Quando parece que nossas orações não chegaram diante de Deus e a morte chega, quando o Senhor não cura, alguns acreditam que ele esteja imputando um juízo sobre nós, ou mesmo que as orações não foram acompanhadas de fé genuína. Há quem chega a pensar que Satanás triunfou trazendo a morte e que Deus não pode fazer nada para mudar a sorte da pessoa que tanto amamos e pela qual tanto oramos.
“Se tudo der certo, Ele é Deus, mas se não der, continua sendo Deus”
baseado em romanos 8: 18-28, John Piper faz seis afirmações sobre a questão das doenças e da morte: (1) ele lembra que o pecado submeteu nosso corpo às enfermidades e a morte, (2) em seguida recorda que “há um tempo determinado” para a nossa redenção, onde nem as enfermidades nem a morte não mais existirão; (3) que Cristo conquistou o direito de uma vida sem doenças na eternidade; (4) que Deus controla todo sofrimento para o bem de seu povo; (5) que nossas orações devem suplicar além da cura, para que tenhamos força na provação e, finalmente (6) que devemos sempre confiar no poder e na bondade de Deus a despeito dos desfechos que estes cenários possam chegar.
Gostaríamos de enfatizar duas destas afirmações, pois o Deus da Bíblia não desperdiça sofrimento do seu povo, mesmo que sejam sofrimentos terríveis, o Senhor tem o controle de tudo, tudo está em suas mãos, nada passa despercebido diante dele. Quando Ele permite que a morte alcance o cristão, devemos entender que Ele está no controle: “Saibam todos que eu, somente eu sou Deus; não há outro Deus além de mim. Eu mato e eu faço viver; eu firo e eu curo. Ninguém pode me impedir de fazer o que eu quero” (BLH, Dt 32.39).
Após entendermos que o Senhor, que tem o controle de tudo, permitiu que a morte chegasse, devemos igualmente fortalecer a nossa fé de que ele é bom, sua bondade não tem limite. Se a Ele pareceu por bem permitir que a pessoa que tanto amamos iniciasse seu repouso, devemos continuar crendo em seu amor e na sua bondade para conosco. Pode ser que nunca saibamos o verdadeiro motivo que levou o Senhor a ter optado por um fim diferente do que gostaríamos, mas a verdade é que “o Deus Eterno diz: Os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e eu não ajo como vocês. Assim como o céu está muito acima da terra, assim os meus pensamentos e as minhas ações estão muito acima dos seus” (Is 55.8,9). Se o tempo da separação chegou, o Deus soberano, bondoso e amoroso sabe o que é melhor para cada um de nós, pois “os caminhos e pensamentos de Deus, Seus desígnios e Suas operações são celestiais e estão acima dos desígnios e operações dos homens, que são apenas terrenos”.
Finalmente, como diz a canção do hino de Delino Marçal: “Se a doença vier, Ele é Deus. Se curado eu for, Ele é Deus. Se tudo der certo, Ele é Deus. Mas se não der, continua sendo Deus”.
Quando a enfermidade chegar, a igreja de Cristo deve fazer o que se espera que ela faça: “orai uns pelos outros”. Ela deve exercitar a oração, o clamor, a súplica, a crença, a perseverança, mas, se a despeito de tudo isso a cura não chegar e a morte for o fim inevitável, é Deus fazendo o que se espera que um Deus faça! Que dê a palavra final sobre os dilemas que afligem sua criação.
Como dizemos, nem sempre iremos entender o que ele faz, é por isso que vivemos pela fé! Cremos na existência dele e que tudo é governado por ele. É possível que um dia tenhamos algumas respostas! Até lá caminhemos na certeza de que ele governa tudo com graça e misericórdia, sabendo que, quanto àquele que partiu com Cristo, iremos revê-lo na grande multidão dos salvos, iremos reencontrá-lo, reconhecê-lo, abraçá-lo, festejar com ele, participaremos com ele da mesa do Senhor!
Celebraremos o final desta página da história da humanidade manchada pelo pecado! “Não vos entristeçais como os demais que não têm esperança”. Nossa história não termina aqui. A morte não tem a última palavra. O reino eterno é de Deus e do nosso Cristo! A vida será eterna! Não mais morte! Não mais dor! Há tempo para todas as coisas aqui e haverá tempo para a eternidade ali. “Consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.
Pr. Aléssio Gomes de Oliveira é responsável pela IAP em Vila Maria (São Paulo, SP).
Referências
1) Bíblia Sagrada, SCOFIELD, C.I. pg 662
2) Bíblia de Estudo de Genebra, 2ª Edição, 1984, pg 854
3) HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática, CPAD, pg134
4) A MENSAGEM, Bíblia em Linguagem Contemporânea, Salmo 147.5
5) CHAMPLIM, Russel Norman, O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Ed. Hagnos, 2003, pg 2946