Bem mais que romance

Comparações e expectativas irreais podem nos impedir de reconhecer o amor verdadeiro, aquele que é demonstrado por atitudes do dia a dia

Celebrado em verso e prosa desde a antiguidade, o romance, sempre foi um tema apreciado em todos os tempos. Além da literatura, o cinema, a televisão, o teatro e a música sempre exploraram o assunto, embalando nossas fantasias e dando um colorido especial aos nossos relacionamentos. Mas foi nos últimos tempos, com o advento do mundo digital e das redes sociais, que a associação entre amor e romance tornou-se praticamente obrigatória.
Amamos histórias recheadas de romance e, de preferência, com final feliz. Embora haja homens muito românticos, parece que as mulheres são mais  fisgadas pelo tema, pois além de demonstrarem mais seus sentimentos, buscam com maior intensidade manifestações íntimas e públicas de amor.
Ocorre que a associação entre felicidade e romance está tão impregnada em nossa mente que a falta dele tem sido a razão de muitos casamentos frustrados e até desfeitos. Há mulheres que não conseguem usufruir de seus relacionamentos devido a expectativas irreais, criadas pela mídia e cobradas pela sociedade. Outras perseguem um relacionamento ideal espelhando-se em modelos de outros casais. Há também dentre elas uma queixa bem comum: a de que o romantismo do início do casamento se perdeu.
Romance é uma delícia e não há problema em buscá-lo! O erro está em achar que um relacionamento amoroso pode ser alicerçado nele: não pode! Assim como o amor pode ser expressado de formas diversas, romantismo nem sempre é sinal de amor. Tomemos como exemplo os relacionamentos abusivos, que geralmente são iniciados com sedução e mantidos com juras de amor eterno, a despeito de agressões e humilhações, tornando as pessoas cativas de uma gangorra emocional que alterna sofrimento e felicidade.
Romance sem amor é ruim; amor com romance é perfeito.  É sempre o amor  que deve prevalecer num relacionamento. Mas, o que é o amor? A mais completa expressão de amor que podemos encontrar é a que está em I Cor 13: “Quem ama é paciente e bondoso. Quem ama não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas. Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor é eterno.”(versos 4,5,6 e 8a)
Nesse texto não vemos menção ao amor eros, romântico, apaixonado, com desejo e atração física, mas sim ao amor ágape que se doa, que se entrega, que é incondicional. É esse amor que sustenta um relacionamento, porque ele “é eterno”, não sucumbe ao tempo e às circunstâncias.
Todo relacionamento passa por mudanças, por diferentes ciclos e isso é natural! Em meio ao nascimento dos filhos, situações de estresse, crises conjugais, problemas financeiros ou ao próprio envelhecimento, o amor romântico, ligado ao eros, pode esfriar.  No entanto, o amor ágape subsiste a tudo isso, até mesmo à perda da atração física.
Calma: não precisamos abrir mão do romance para ter um relacionamento feliz, mas também não precisamos ter um casamento frustrado pela falta dele. O romantismo deve ser estimulado e renovado com esforço e criatividade sempre, pois é um investimento que enriquece a relação. Mas não podemos esquecer que cada pessoa tem a sua forma peculiar de demonstrar seus sentimentos e entender isso facilita muito o relacionamento.
Assim, precisamos tomar cuidado para que comparações e expectativas românticas dos tempos de namoro não nos impeçam de reconhecer o amor verdadeiro: aquele  que não é apenas falado, cantado ou publicado; aquele que é demonstrado por atitudes do dia a dia, pela fidelidade, pelo companheirismo e pelo respeito. Por mais romântico que seja, nenhum relacionamento pode ser feliz sem isso!