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Terra: uma irmã, por vezes, hostil!


O tsunami no Japão nos faz lembrar que, um dia, a hostilidade da “irmã natureza” dará lugar ao ambiente amistoso de novos céus e nova terra
“Albert Einstein fez, certa vez, a mais importante pergunta de todas: ‘O universo é um lugar amistoso?’* Há quem diga que sim. E há base para se afirmar isso. A terra é o único planeta do nosso sistema solar que oferece condições climáticas e orgânicas necessárias para a existência dos seres humanos. O que nos leva a entender que este planeta fora criado especialmente para abrigar a nossa espécie. As evidências disso estão por toda parte.

Por exemplo, “se a lua estivesse mais próxima da Terra, resultaria em marés enormes, que fluiriam sobre a terra nas planícies e provocariam erosões nas montanhas (e com os continentes nivelados, calcula-se numa estimativa, que a água cobriria a terra na altura de 24135 km)” *. E “se ela girasse mais lentamente em torno do seu próprio eixo, toda a vida morreria na hora, ou por congelamento à noite por falta de calor do sol, ou por excesso de calor durante o dia” *. Isso prova que este planeta foi minuciosamente arquitetado e milimetricamente criado para nos receber e nos abrigar.  De fato, a terra é como uma mãe que afaga seus filhos no abrigo de seus ternos braços. Não é a toa que alguns ambientalistas a chamam, apaixonadamente, de “Mãe Terra”.
Mas, falando nisso, de onde será que eles tiraram essa idéia de chamá-la de “mãe”? Da Bíblia é que não foi! As Escrituras Sagradas apresentarem a terra não como nossa mãe – como o fazem os ambientalistas –, mas como nossa irmã. Isso mesmo, afinal de contas, temos o mesmo pai: o Criador. Para G. K. Chesterton, o ponto principal do cristianismo era a afirmação de que “a natureza não é nossa mãe: ela é nossa irmã”*.  Somos gerados a partir da ação amorosa e criativa de Deus. Aliás, por sermos irmãos, na queda, a terra teve o mesmo destino que o nosso: a corrupção.
O apóstolo Paulo, ao escrever aos romanos, diz que a natureza, juntamente com toda a humanidade, encontra-se em um estado de “escravidão e decadência” (Rm 8.20 NVI). Quando caímos, ela também caiu conosco. Desde lá, as coisas não foram mais as mesmas. Em nossa alma, nasceu o mal, com todas as suas tristes nuanças e em nossa “irmã natureza”, coitada, os “espinhos e ervas daninha” (Gn 3.18 NVI). A harmonia do Éden deu lugar à desarmonia do cosmo. Ela nem é sempre hostil, é verdade. Pra sermos honestos, em sua maioria, nós é que somos. Mesmo assim, às vezes ela se revolta, mostrando toda sua força e fúria indócil.

A catástrofe natural que ocorreu no dia 11 de março de 2011 no Japão é prova de que a terra é uma irmã, por vezes, hostil. Desta vez, não fomos diretamente responsáveis pela tragédia, pelo menos é o que dizem os especialistas.  O tsunami, bem como o terremoto que o provocou, foi considerado um evento “normal”, pelo fato de ter sido desencadeado por um fenômeno natural, como é o movimento das placas tectônicas. Ainda assim, a incrível força com que ele varreu o litoral do país e a inexplicável violência com que matou milhares de pessoas nos faz lembrar o quanto a natureza pode ser agressiva. A verdade é que não sabemos o que dizer diante de desastres naturais como este. Não podemos emitir juízos, tão pouco explicar sistematicamente o evento e suas causas. As perguntas certamente surgem em nossas mentes, como de costume.
Entretanto, nestes momentos devemos seguir o exemplo do Jesus. Ele também presenciou uma tragédia natural enquanto esteve aqui na terra. Um acontecimento inesperado surpreendeu a todos em Jerusalém: uma torre em um bairro da cidade caiu – provavelmente por causas naturais, como fortes ventos – deixando 18o mortos (Lc 13.4). Jesus não afirmou ser Deus o culpado pelo incidente, assim como não explicou a todos o “porquê” das tragédias naturais. Isso nos ensina que diante das calamidades é preciso confiar no caráter do bom Deus e não ficarmos afoitos por encontrar culpados ou respostas. Resta-nos solidarizar com as vítimas de enchentes, tufões, tsunamis, terremotos ou tornados sem a mínima pretensão de oferecer uma explicação plausível. Os japoneses não precisam de respostas neste momento, mas de conforto e afeto humano. É isso que nós, cristãos, devemos oferecer a eles.

Ainda assim, mesmo que nos falte resposta para a tragédia natural do Japão, resta-nos, contudo, uma viva esperança: um dia, as tragédias e as catástrofes naturais terão um fim! Que os que sofrem por esta tragédia saibam disso! Quando Jesus voltar, a hostilidade de nossa velha “irmã natureza” dará lugar ao ambiente amistoso de novos céus e nova terra. “Pois a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.21). Até lá, que Deus nos ajude!
Kassio F. P. Lopes é missionário em Corumbá (MS).

1- Philip Yancey. Alma Sobrevivente. Sou Cristão, Apesar da Igreja. Ed. Mundo Cristão, 2004, p. 56.
3- Idem.
4- G. K. Chesterton. Ortodoxia. Ed. Mundo Cristão, São Paulo 2008, p. 185.

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