Ser pastor em tempos de pandemia

Ser pastor em tempos de pandemia

Em março de 2020 a pandemia de coronavírus assombrou o mundo. Ficamos todos muito assustados com as notícias de mortes e internações causadas pela COVID-19 e tivemos que ficar recolhidos em nossas casas por um bom tempo.  Esse cenário, nunca antes enfrentado por nossa geração, me levou ao seguinte questionamento: “Como a igreja irá cumprir a missão de Deus diante desse cenário caótico?” A resposta não nasceu de imediato; na verdade, os desafios desse tempo me levaram à várias reflexões e ações.

1 – Me olhando no espelho

Ao me olhar no espelho, vi minhas próprias emoções e limitações e, por conseguinte, minha fé.  Percebi que, como qualquer outro ser humano, senti medo, insegurança e total dependência dos cuidados de Deus. Cheguei à conclusão de que, assim como eu, as pessoas que pastoreio também estavam passando por algo parecido ou até pior. Com isso em mente, entendi que era extremamente importante consolidar aquilo que Deus estava falando ao meu coração. Primeiro: Ele me chamou para ser pastor nesse tempo, e me daria as estratégias para o cumprimento da missão. Em segundo lugar: me relembrou que nunca perdeu o controle do universo, inclusive da minha própria vida. Quando testei positivo para COVID-19, minha oração foi: “Deus, estou em tuas mãos”. E por fim, mesmo diante das más notícias, essa seria uma grande oportunidade de compartilhar palavras de esperança. Após ter essas estruturas consolidadas em meu coração, pude com segurança dar o segundo passo.

2 – Compartilhando esperança

Com o passar dos meses, percebi que a pandemia estava alcançando a minha família, a igreja e amigos. Minha presença nos cemitérios passou a ser rotineira; em uma semana cheguei a fazer quatro cultos fúnebres. Em março de 2021 perdi uma querida amiga, vítima da COVID-19.  Como não foi possível velar o corpo no cemitério, tomei a decisão de chamar a família e os amigos e levei-os a um lugar pouco movimentado onde pude compartilhar palavras de esperança. Disse aos presentes que Deus sempre esteve no controle da história de nossa querida amiga e que, aos olhos Dele, a morte não é derrota para os cristãos, e que um dia a veríamos novamente. Após essas palavras, vi no rosto dos presentes uma expressão de aceitação do que havia dito.

Nesse tempo, a IAP Santo Amaro criou um projeto chamado “Compartilhando esperança”, onde os membros dessa comunidade gravavam pequenos vídeos que diariamente eram divulgados no grupo de membros, alcançando até as pessoas que não tinham um relacionamento com Jesus. Como não podia haver cultos presenciais, nossa convivência era mantida por meio das mídias sociais. Assim, muitas mensagens foram compartilhadas, levando renovação através de uma única palavra, esperança.

3 – Luz, câmera, missão

Com a pandemia, tivemos que aprender a lidar com coisas novas, como câmera, iluminação, posicionamento, linguagem, atendimento virtual, etc. Chegamos à reflexão que essas eram as ferramentas que Deus permitiu para alcançar não somente os membros da igreja, mas também para o cumprimento da missão. A mensagem, antes compartilhada apenas naquela comunidade nos cultos de celebração, teve seu alcance aumentado e passou a ser vista em outros estados e países.

Como pastor, entendo que é minha a função de equipar a comunidade com ferramentas para o cumprimento da missão. E nesse tempo, com o uso da tecnologia, foi promovido na IAP Santo Amaro, treinamentos virtuais. Um deles, chamado de capacitação missional, tem como proposta refletir sobre os caminhos possíveis para que uma igreja cumpra a missão que Deus confiou a ela, sem corromper os princípios bíblicos, sendo contextualizada e relevante para as gerações.

O mais desafiador, diante da virtualidade, é o entendimento de que somos apenas servos e que devemos glorificar a Deus em todas as coisas.

 

Fabiano Souza Santana é pastor na IAP em Santo Amaro (SP)