Filme com Demi Moore traz várias reflexões, entre elas a pergunta: quantos de nós já não fomos descartados, trocados como se fôssemos figurinhas colecionáveis?
O filme A substância chegou chutando a porta. Terror psicológico, Demi Moore no papel principal e uma crítica ácida à indústria do entretenimento. Mas e se esse filme não fosse só sobre Hollywood? E se ele fosse sobre mim e sobre você?
O que é A substância?
Demi Moore interpreta Elisabeth Sparkle, uma atriz que já teve seus dias de glória, mas agora está ficando velha. E no mundo do entretenimento, do conteúdo, envelhecer é praticamente um crime. Mas aí surge uma solução: um tratamento milagroso chamado “A Substância”, que promete devolver sua juventude. O preço? A identidade dela mesma. O resultado? Um pesadelo onde o velho é descartado sem piedade. O filme é altamente recomendado para apenas os maiores de 18 anos, ironicamente, e também os que têm forte estômago.
O filme bombou e foi indicado ao Oscar, incluindo Melhor Atriz e Melhor Roteiro Original. Mas, mais do que prêmios, ele entrega uma crítica brutal à sociedade.

Mas e se A substância for sobre a gente?
Agora se eu te disser, que a protagonista de A Substância não é só uma personagem fictícia? Ela é você. Ela sou eu. Ela é a gente vivendo uma vida cheia de likes, espectadores, mas vazia de propósito. A lógica é simples: você não é suficiente. Não agora. Mas, se você mudar um pouquinho, se adaptar um pouquinho, consumir um pouquinho mais… aí talvez seja.
Já viu isso em algum lugar? Vivemos um tempo em que as pessoas não existem mais, elas só acontecem. A relevância dura até o próximo post. O criador de conteúdo não cria mais, ele só alimenta um algoritmo que sempre pede mais. E por quê? Porque os números mandam. Porque ninguém quer desaparecer. O problema é que, quando tudo é descartável, nós também somos.
Demi Moore já foi uma das maiores estrelas de Hollywood. Hoje, volta com um filme que esfrega na cara da indústria o que ela já fez com tantas outras. O filme conta a história de uma mulher sendo substituída. Mas não é exatamente isso que acontece todos os dias, o tempo todo? Sabe o que o filme tem em comum com a indústria do entretenimento? Ambos nos fazem esquecer que estamos lidando com vidas reais. No filme, Elisabeth é trocada por uma “mais nova que ela”, na vida real, a atriz perdeu o Oscar da mesma forma, para uma mais jovem. A pergunta é: quantos de nós já não fomos descartados, trocados como se fôssemos figurinhas colecionáveis?
Não estamos falando de um filme qualquer, gente. Estamos falando de uma sociedade que troca um ídolo por outro sem parar. Estamos falando de nós! Quando você ‘curte’ a foto de alguém, você não está apenas dando atenção a uma pessoa – você está alimentando um sistema que as destrói no instante seguinte, para criar o próximo produto de consumo.
O ciclo do consumo e a Bíblia já falava disso
Nada disso é novo. O que Paulo escreveu em Efésios 4:17-19 parece uma descrição perfeita do mundo de hoje: “Não vivam mais como os gentios, na vaidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento dos seus corações.”
Parece que foi escrito ontem. O alerta de Paulo é exatamente para não reproduzirmos na roda da vida, o que os gentios (que não conhecem a Deus e a sua vida, afinal, estão obscurecidos no entendimento), fazem na vida deles. E o que eles fazem, ou, como vivem? Na vaidade da sua mente. A palavra original aqui denota futilidade, vida sem sentido, falta de propósito. É o viver apenas por viver. E mais nada. É o vazio absoluto do nada pelo nada. O que Paulo propõe como solução? Efésios 4:22-24: “Despojai-vos do velho homem, que se corrompe pelos desejos enganosos, e sede renovados no espírito da vossa mente.”
Mas o mundo não quer se renovar. O mundo quer se manter do jeito que está, só que mais jovem, mais bonito e mais engajado. Fantasiando o novo pelo velho, ou vice versa.
Sangue nas mãos de todos
E aí chega o clímax do filme. (SPOILERS A PARTIR DAQUI)
Elisabeth Sparkle explode. E o sangue dela respinga em todos. Isso é literal no filme. Mas na vida real, acontece o tempo todo.
Quantos artistas, influenciadores, criadores de conteúdo nós vimos serem engolidos e cuspidos pela máquina do entretenimento? Quantos foram esquecidos porque não performavam mais tão bem? E quantos de nós assistimos a isso acontecer, sem perceber que somos parte do problema? Aqui está a grande sacada: A Substância não é só sobre uma sociedade consumista. É sobre como nós, na nossa ânsia de consumir e ser consumidos, estamos matando tudo o que é real e genuíno.
Estamos tão imersos na cultura do ‘descartável’ que nos esquecemos de que somos humanos, e não peças de um jogo. Somos descartáveis para nós mesmos. E isso não é só triste, é devastador. A facilidade com que se cancela e se é cancelado. E nós vibramos com isso. Na verdade, o ‘e quem será a próxima vítima agora?’, é o nosso ‘modos operandi’. Inclusive religioso: Quem é o próximo herege a ser apedrejado? Quem é o próximo a ser linchado virtualmente? Tudo isso em nome da Verdade! Declaram eles. O quanto disso é o nosso prazer em substituir? Quando não nos serve, gritamos, próximo!
Se a arte imita a vida, então nossa sociedade está manchada de sangue.
Enquanto ela explode no filme, nós continuamos com os olhos vidrados na tela, com as mãos no celular, esperando mais… Mas o que estamos realmente esperando? Mais substâncias vazias?
A cruz foi A substância definitiva
E agora? A gente só aceita que vive num mundo onde todos são substituíveis? Onde nosso valor dura até a próxima trend? Ou a gente busca algo diferente? O Evangelho traz uma resposta radical: nosso valor não está no que fazemos, no que produzimos ou em como somos vistos. Ele já foi garantido na cruz.
“Vocês foram comprados por um alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu corpo.” (1 Coríntios 6:20)
Cristo não pediu que a gente se transformasse em algo novo para sermos aceitos. Ele se entregou para que a gente pudesse ser restaurado. No mundo, tudo tem um prazo de validade. No Evangelho, não. E o melhor? Não é só para alguns. É para todos.
Resumo
O filme A substância é um reflexo cruel da nossa sociedade descartável. Mas a cruz é “a substância definitiva”: nela, nosso valor não expira nunca. E o Oscar vai para…
Gustavo Rocha | Casado com Bruna e pai de Samantha e Tito; Pastor de jovens na Promessa Cosmópolis; Trabalha como produtor de conteúdo audiovisual na APC para a TV Viva Promessa; Estudou cinema e ama cinema desde criança.