O ser humano foi criado a “imagem e semelhança de Deus”, para refletir a Deus e a sua glória. Dentre as várias implicações disso, uma delas diz respeito a nossa capacidade de criar coisas novas. Assim como Deus, nós seres humanos somos seres inteligente e criativos. Nossa criatividade reflete a do nosso criador.
Ao longo dos tempos, o ser humano tem usado sua criatividade para criar uma porção de coisas. O avanço tecnológico é um exemplo claro disso. Quanta coisa foi inventada nos últimos tempos! Várias destas invenções vieram para facilitar e mudar radicalmente a vida das pessoas: afetam o comportamento, a cultura, jeito de ser, de viver em família, etc. Talvez por isso, a relação dos seres humanos com a tecnologia (benefícios versus perigos) é um dos temas que está em alta atualmente.
Para quem gosta do tema, de pensar em sua relação com a tecnologia e de imaginar para onde estamos indo, a série Black Mirror é um prato cheio! Com quatro temporadas já disponíveis e com a quinta prestes a ser lançada no Brasil pela Netflix, a série examina a sociedade moderna no que diz respeito ao uso da tecnologia e problematiza este relacionamento examinando alguns conceitos bem interessantes e reveladores!
Os episódios não são sequenciais. Cada episódio conta uma história diferente ligada a tecnologia. Quem já assistiu, deve ter viajado pensando num futuro, onde todos tem um implante de memória que grava tudo que os seres humanos fazem, veem e ouvem. As pessoas podem assistir quantas vezes quiserem (dando zoom nas cenas inclusive!), todos os acontecimentos de sua vida. Será que isso é bom ou ruim?
Se você é um apaixonado por Black Mirror, deve ter se perguntado se realmente será possível a existência de uma tecnologia que permite que as pessoas tenham “contato” com os mortos. Trata-se de um aplicativo que rastreia tudo o que a pessoa que morreu fazia nas redes sociais, e, por meio dos padrões de comportamento desta, possibilita àqueles que estão vivos conversem com ela. Estranho, não!? Já pensou. O pior é mesmo o que acontece quando o aplicativo é atualizado para uma versão mais recente: é de assustar!
E o episódio que mostra ser possível aos pais inserir um implante nos filhos, conectados a um dispositivo de última geração, para monitorar a localização destes e tudo o que fazem. Tudo o que os filhos “veem” é apresentado no dispositivo aos pais! O final desta história, pode não ser nada bom! Como também não é nada bom o final do episódio que fala de um sistema, no futuro, que une casais, diz quanto tempo as relações vão durar, e controla o número de relações das pessoas até o dia que elas encontrem o par perfeito. Você se lembra? Será que isso facilita ou dificulta a vida?
Pois bem, cada episódio tem uma história curiosa e intrigante, imagina algumas tecnologias e faz uma crítica a como nossa vida pode se complicar, caso a tecnologia nos domine. Mas, engana-se quem pensa que o objetivo da série é só pintar o quadro do que pode vir no futuro. A série está fazendo uma crítica ao uso que fazemos atualmente da tecnologia. Esse é o grande objetivo. Infelizmente, para muita gente a tecnologia se tornou uma droga que gera dependência e está destruindo suas vidas sem que percebam.
Muitos de nós estão realmente acorrentados ao “espelho negro” (Black Mirror) suspensos nas paredes, na palma da mão, em frente aos olhos: a fria e brilhante tela de nossas TV’s, Smartphones, computadores, tablets e outros. Este uso pode ser nocivo, caso não cuidemos. Podemos ser levados a paranoias e a ações detestáveis. A série mostra o lado obscuro da humanidade e o que ela poderia fazer, caso existissem mesmos as tecnologias nela apresentadas. E o pior é que os seres humanos já fazem tudo isso, em alguma medida, com aquilo que já possuem.
Um pouco de nossa maldade fica exposta na série, junto com a nossa facilidade de criar deuses, de direcionar o nosso coração para as coisas. Isso acontece porque um dia nos afastamos do criador. O pecado nos afetou. Nossa “imagem e semelhança” foi distorcida e não refletimos mais a glória de Deus. A única maneira de voltar para rota é reconhecendo nossa pecaminosidade (Rm 3:9-20) e passar a viver para aquele que nos criou, que por nós morreu e ressuscitou (2 Co 5:16-17). Só assim, não seremos dominados pelo “espelho negro” e conseguiremos viver neste tempo com sabedoria (Ef 5:15-18), refletindo como um espelho vivo, a glória do Senhor (2 Co 3:18).
Pr. Eleilton Freitas | Mestre em Teologia, Diretor da Editora Promessa e Vice-Presidente da Igreja Adventista da Promessa