Skip to content

Dia Mundial do Combate ao Suicídio: “Se tem vida tem esperança!”

Não existe uma receita simples quando o assunto é a dor que dá a pessoa o desejo de morrer, o assunto é sério, urgente, trata-se de saúde pública, e não deve ser tratado de qualquer jeito.

“Se tem vida, tem jeito”, a frase não é minha, é de uma psicóloga famosa, (minha xará): Karina Fukumitsu, doutora, palestrante, escritora e suicidóloga. Sua vida é dedicada ao ensino sobre o tema, e quão profunda são as palavras da frase: “Se tem vida, tem jeito”. O assunto parece esgotado, repetitivo, porém, ainda assim, o Ministério da Saúde, a OMS (Organização Mundial de Saúde), a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), o CFM (Conselho Federal de Medicina), o CFP (Conselho Federal de Psicologia), e tantos outros órgãos e/ou associações, bem como as mídias estão empenhadas todos os anos a dedicar o mês de setembro, especialmente o dia 10 desse mês, “Dia Mundial do Combate ao Suicídio”, para intensificar a conscientização da sociedade.

 

Mas o que é o suicídio? Segundo a OMS o “comportamento suicida” é todo o ato em que uma pessoa causa lesão em si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato (WHO, 2014).  É considerado uma doença, um fenômeno de acordo com CID-10 (Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição) que apresenta diversas classificações para o suicídio, como por exemplo, a automutilação através de vários instrumentos ou a autointoxicação em diversas maneiras. Na verdade, há uma lista para classificar cada ato que uma pessoa pode cometer ao tentar tirar a própria vida.

 

Agora, com a pandemia, o crescimento acelerado e incontrolável de pessoas com depressão é imenso, uma das principais causadoras do fenômeno, que pode ser considerado uma epidemia. Humberto Corrêa, médico, professor titular da UFMG e presidente das Associações Brasileira e Latino Americana de Prevenção do Suicídio, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, diz que “na nossa sociedade, o descaso pela saúde mental é muito maior do que em outros países”. Em uma entrevista ao Jornal Hoje em Dia, o profissional alertou sobre o alto crescimento tanto da depressão, como do transtorno de ansiedade e uso de substâncias. Os dados alarmantes mostram que a temática precisa ser tratada de forma urgente.

 

A cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida no mundo. No Brasil, a cada 46 minutos uma pessoa comete suicídio, e o perfil da maioria das vítimas em nosso país tem idade entre 10 e 29 anos, segundo o Ministério da saúde, com dados atualizados até 2019. Veja que os números começam a se aplicar desde a infância, ou seja, o mal acomete até mesmo as crianças. Independente do sexo, da etnia, profissão, idade ou religião, o suicídio pode acometer qualquer pessoa. Pode estar associado a um distúrbio mental transtorno de personalidade, a perdas, uso de drogas, questões financeiras, depressão. Infelizmente os números só aumentam a cada ano, e durante a pandemia, os casos relacionados a doenças mentais estão se multiplicando. Por isso, se trata de uma questão de saúde pública.

 

Mas o que nós, como crentes em Cristo, temos a ver com isso? No que isto me diz respeito? Diz muito meu amigo (a). Como salvos, sabemos que Jesus Cristo é o Criador da vida, e o suicídio passa uma mensagem contrária sobre a vida doada por Deus, para o ser humano, onde se resolve um problema acabando, extirpando o folego de vida. Porém, veja que Ele dá, então, pela lógica, somente Ele poderia tirar. Porém, o ser humano foi criado e regenerado, pela graça de Deus, para exercer seu livre arbítrio, e faz uso dele subtraindo, inclusive, o que foi soprado em nós, criaturas pelo Deus eterno. Concebidos em pecado fomos, por isso, um corpo corruptível possuímos. No entanto, e também por esta razão é tão necessário cuidar desse corpo, em todas as áreas e por que não da saúde mental?

 

Como prevenir

Infelizmente, vemos muito preconceito ainda, quando o assunto é autocuidado, e, se tratando do suicídio, o melhor caminho é a prevenção. Nesse quesito, a igreja tem muito a contribuir para com a sociedade. Em primeiro lugar, com a ajuda que vem do alto, buscando a sabedoria de Deus para saber como ajudar e sempre intercedendo com amor. Em segundo lugar, pedindo ajuda de profissionais da área, como por exemplo, dentro da atenção primária, onde os profissionais, desde a recepção, estão preparados para lidar com uma queixa dessa magnitude.

 

Como igreja, podemos abrir as portas dos nossos prédios, para que os profissionais ocupem o espaço local e promova palestras, reuniões, grupos de apoio, fazendo parcerias para que os profissionais possam atender na igreja, ou ajudar aos irmãos a procurarem ajuda nos CAP’s (Centro de Atenção Psicossocial), podem procurar informações sobre os atendimentos gratuitos em clínicas de faculdades, e profissionais que trabalham de forma voluntaria, entre outras opções.

 

Deixo meu apelo aos irmãos que são psicólogos para que abram espaço em suas agendas e ajudem a igreja, se colocando à disposição. Aliás, como em algumas esferas da Igreja Adventista da Promessa, vêm fazendo. As demandas aumentaram durante a pandemia, porém a igreja de Cristo necessita da consciência da responsabilidade social que possuímos como profissionais na área da saúde mental, esse chamado a prevenção com relação ao suicídio é urgente, e você pode ser usado por Deus nesse chamado junto a igreja.

 

Dentre os órgãos responsáveis para procurar ajuda, o mais famoso é o CVV onde a pessoa liga no 188 e é atendido por um voluntario capacitado a ouvir, há também algumas prefeituras que abrem espaços para escuta terapêutica, é possível encontrar as informações no site da prefeitura de sua cidade, para saber se há esta opção disponível. Também é possível acompanhar lives e vídeos em diversas páginas e perfis nas redes sociais de profissionais que estão se engajando nesta campanha, como por exemplo a suicidóloga citada no início.

 

Muitos são os mecanismos de ajuda, porém, não nos esqueçamos que Aquele que nos deu a vida, entende mais do que nós sobre toda e qualquer dor, e muitas são as demonstrações nas Escrituras, como por exemplo, quando Cristo chorou pela morte de seu amigo Lázaro. Ou quando ele disse: “Minha alma está triste até a morte” (Mt 26:38). Ele entende de dores, entende sobre os seres humanos porque se fez um de nós. Muitos são os ouvidos humanos para lhe ouvir, todavia, a melhor escuta ainda pertence a Ele. Acredito com meu coração que Ele tem um olhar especial para quem se dispõe a ouvir por ser Ele especialista nesse assunto.

 

Não existe uma receita simples quando o assunto é a dor que dá a pessoa o desejo de morrer, o assunto é sério, urgente, trata-se de saúde pública, e não deve ser tratado de qualquer jeito. Jesus pode e usa profissionais, Ele está disponível, e quer que sua igreja sirva a sociedade com tudo o que puder, inclusive promovendo a saúde mental.

 

Se você que está lendo esse texto está em uma situação demasiadamente triste e quer muito chorar, quando começa a chorar sente que quer chorar por um longo tempo, não vê sentido em coisas que antes via, seu apetite mudou, ou está acontecendo alguma outra coisa no campo emocional de sua vida, procure ajuda, fale com seu pastor ou com alguém a sua volta, peça ajuda e cuide de si! Não é egoísmo, é autocuidado. E o sábio já havia dito bem antes de ser escrito aqui, “Para aquele que está entre os vivos há esperança” (Eclesiastes 9:4a).

 

O que não fazer

– Não poste em redes sociais “Se precisar pode me chamar para conversar” ou “Estou disposto a ouvir”. Como citado, estamos falando da saúde do outro. Somente profissionais da psicologia podem exercer escuta empática? Não! Porém, profissionais da atenção primária, por exemplo, que não são psicólogos, recebem treinamento, são profissionais da saúde e são capacitados para isso. No CVV a maioria dos voluntários não são psicólogos, porém recebem um curso de capacitação para o atendimento, não emitem opinião sobre o que ouvem e atendem sob sigilo. Mas não pode postar sobre a escuta nas redes sociais, de jeito nenhum? Primeiro, por favor, se pergunte: “Eu quero mesmo fazer isso?” “Eu posso fazer isso com muita dedicação, se alguém me procurar?” “Estou mesmo disposto a ouvir sem dar minhas opiniões pessoais sobre o que quer que qualquer pessoa possa me falar?” Lhe recomendo que ao invés de postar sobre você escutar, por que não postar sobre os órgãos de saúde capacitados? Ou posts de algum profissional da área com dicas e textos?

 

– Você suspeita de alguém que quer tirar a própria vida? Não tome uma atitude na qual vá ferir a pessoa, peça a sabedoria do Alto e ajuda alguém, tente respeitar com muita afeição a privacidade da pessoa, sempre demonstrando amor, carinho e cuidado com o espaço dela. Trata-se da vida dessa pessoa e não da sua. Portanto, muitos cuidados são necessários, tente se aproximar ao máximo, demonstre o quanto essa pessoa é importante para você, e por mais que você a escute, oriente-a a procurar uma ajuda profissional.

 

– Conhece alguém que está se automutilando?

As dicas aqui são as mesmas acima, enfatize sempre o quanto essa pessoa é importante e ajude-a a procurar auxílio profissional. Caso você presencie algo, tente impedir essa pessoa de pegar algo cortante e ligue imediatamente para a polícia.

 

– Não recomende remédios ou produtos calmantes.

A receita de medicações é competência apenas médica. Mas nem produtos naturais? Se realmente quer recomendar algo, chame a pessoa para tomar um bom chá. Vai resolver o problema? Não, mas pode ser uma abertura para que a pessoa lhe ouça quando for recomendar uma ajuda profissional.

 

– Não poste fotos, não divulgue imagens inapropriadas sobre suicídio e nunca diga que é “frescura”, ou “falta de fé”, ou que a pessoa quer chamar a atenção. O próprio Jesus expressou seu sofrimento.

 

Lembre-se: “se tem vida tem jeito” ou “se tem vida tem esperança!”. Esperança de que todo o sofrimento acabará quando Cristo voltar, viveremos, então, sem morte e sem dor para sempre, viveremos com Ele eternamente! Mas até lá, dediquemos a nossa vida a ajudar quem está sofrendo e o façamos de forma correta, com a ajuda de Deus.

 

Sites para Pesquisas

http://www.saude.ba.gov.br/2020/09/10/oms-alerta-suicidio-e-a-3a-causa-de-morte-de-jovens-brasileiros-entre-15-e-29-anos/

https://www.saude.sc.gov.br/index.php/documentos/atencao-basica/saude-mental/protocolos-da-raps/9202-risco-de-suicidio/file

https://cid10.com.br/

https://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/en/suicideprev_phc_port.pdf

https://www.karinafukumitsu.com.br/about

https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/72-dos-adolescentes-sentiram-necessidade-de-pedir-ajuda-durante-pandemia

https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/72-dos-adolescentes-sentiram-necessidade-de-pedir-ajuda-durante-pandemia

 

Por: Karina M L de Almeida | Esposa do Mateus S de Almeida pastor das igrejas de Itatiba e Bragança; Mãe do Estevão (8 anos) e Jessé (4 anos); Tecnóloga empresarial e Estudante de Psicologia 10 semestre pela Universidade Padre Anchieta.

Notícias