Filhos õrfãos de pais vivos – como é possível isso?
Assista a este interessante Papo de Discípulo, com a psicóloga Rubenita.
Filhos õrfãos de pais vivos – como é possível isso?
Assista a este interessante Papo de Discípulo, com a psicóloga Rubenita.
Quando lidamos com uma doença emocional dentro de casa não podemos entrar em desespero, precisamos buscar soluções
Quando temos um bebê, nossa casa e nossa vida se enchem de alegria. Trabalhamos para que cresça e se desenvolva com saúde, inteligência e integridade. Depositamos nele nossos sonhos e expectativas de realização, buscando de todas as formas protegê-lo de perigos como a violência, a criminalidade e as drogas. Contamos com os perigos que vem de fora, mas não imaginamos que em algum momento poderemos ter que protegê-lo dele mesmo, de um inimigo que vem de dentro: as doenças emocionais.
Uma depressão, por exemplo, pode desenvolver-se silenciosamente ao longo de anos sem que consigamos percebê-la, confundindo os sinais com características próprias da personalidade ou do desenvolvimento. Assim, podemos entender a insegurança e o retraimento como algo “herdado” de um dos pais; a ansiedade e o isolamento como próprios da adolescência. Os sinais podem ser tão sutis e passar despercebidos até mesmo para pais mais atentos. No entanto, quando uma doença emocional já está instalada, torna-se muito mais difícil lidar com ela, pois em casos extremos até o suicídio pode parecer escape para uma dor insuportável.
Nessas horas é fácil sermos tomados pela negação, uma atitude quase inconsciente de não enxergar situações que parecem sem saída. É quando a percepção fica obscurecida pela fuga de uma realidade dolorosa que precisa ser olhada de frente. Mas também não adianta procurar em nossas falhas a causa para o sofrimento, porque não existe uma resposta completa. Culpa e autopunição não mudam o passado e ainda tiram a energia e a lucidez necessárias para encontrar saída. Por mais que sejamos inundados pelo sentimento de impotência, quando acontece com um filho, não podemos entrar em desespero, precisamos buscar soluções!
Embora nosso emocional fique abalado, a primeira coisa que devemos fazer é focar nos sentimentos da pessoa doente e não nos nossos. Pensar que o filho é ingrato, que não leva em conta nossos sentimentos, que não confia em nós ou em Deus não ajuda em nada. Não é sobre como as coisas são, é sobre como ele as vê. É preciso vencer o impulso de dar conselhos e a tentação de censurar, pois críticas só pioram o sentimento de culpa e incompetência da pessoa. A ferramenta mais preciosa que temos nessas horas são os ouvidos e não a boca.
Além de ouvir sem julgar, é preciso ter consciência de que enfrentar uma depressão ou intenção suicida dentro de casa não significa que sejamos maus pais, negligentes ou pouco cristãos. Doenças emocionais são “doenças”, que assim como as demais podem acometer qualquer pessoa, mesmo numa família de líderes ou pastores. Admitir que somos limitados e que precisamos de ajuda é admitir a nossa humanidade e dependência de Deus. É entender que Ele tem formas diferentes de agir e é soberano para operar um milagre direto, ou por meio de profissionais habilitados, como médicos, psicólogos e mesmo remédios, se for necessário. Assim como procuramos um cardiologista quando há problema com nosso coração, devemos procurar um especialista em emoções quando temos problemas nessa área.
Mas antes que venha o pior, nós pais podemos fazer muito, principalmente se estivermos atentos a pequenos sinais que surgem no dia a dia. A tristeza, por exemplo, faz parte da vida, mas uma criança triste por semanas precisa ser olhada com cuidado; ela pode ser naturalmente insegura, mas entrar em desespero diante de uma prova escolar ou uma simples escolha do dia a dia, não é normal. Da mesma forma, quando um adolescente se isola, chora por motivos banais ou subitamente começa a ir mal na escola, não podemos ver nisso simples “mimimi” da idade ou preguiça. Assim como por trás de um olhar perdido pode haver um grande vazio emocional, mangas longas em dias de calor podem esconder automutilações.
É claro que precisamos tomar cuidado para não ver em tudo um distúrbio, mas se sinais aparecerem não precisamos esconder a realidade de nós mesmos e nem dos outros. Pelo contrário, devemos fortalecer o diálogo em casa, sem acusações ou julgamentos, buscar apoio na família, na igreja e em profissionais especializados, mas, sobretudo, saber que não estamos sozinhos nesta luta. O Senhor está conosco em todos os momentos e por mais sombrio que nos pareça o agora, há saída, refrigério e alegria no futuro!
Amor é conhecimento. Este tipo de conhecimento que estou falando é muito mais prático do que técnico, ele é produto de relacionamento. Ou você se relaciona, ou nada feito, seu conhecimento será como contemplar uma ilha distante no mar. Olhando da areia da praia, ela é linda, mas para conhecê-la mesmo, você tem que navegar até lá e explorá-la.
Sem relacionamento, não existe conhecimento. Relacionar-se dá trabalho, exige tempo, provoca conflitos, desencadeia crises, o que é bom, pois mostra falhas, revela acertos, aponta soluções e resulta em crescimento, maturidade.
A grande muralha a ser vencida chama-se comunicação. A maioria dos pais e filhos perderam a capacidade de conversar. Ambos, pais e filhos, cada grupo tem sua correria, interesse e necessidade peculiar, os mundos parecem muito diferentes. O abismo de gerações, cantado por João Alexandre, parece maior a cada geração.
Quantas famílias estão na igreja, mas seus filhos, aprontando todas. No início, ninguém sabe, mas logo, toda a igreja está comentando. De alguma forma, os pais acabam sabendo. Mas não fazem nada, ou porque não sabem o que fazer, ou, lamentavelmente, por falta de moral e autoridade. Sabe onde sua moral começou a ser perdida? Em uma palavra: comunicação. Faltou papo, interesse, diálogo, aproximação. Hoje, a muralha do silêncio está alta, sua casa desaprendeu os princípios da arte da fala.
Se você, na condição de educador que ama, quer resgatar a beleza do diálogo, comece. Pode ser absolutamente sem graça, seu filho poderá sentir um misto de situação tensa, ridícula, estranha, como eles dizem, “nada a ver”.
Mas comece e não pare. Você encontrará o jeito, a forma e a hora. Quando o casal do Éden deu uma escorregada fatal, Deus não se omitiu nem se calou, Ele procurou o casal, fez perguntas, insistiu. Cada versículo de Gênesis, após o pecado, está saturado de emoção. Do lado do céu é fácil perceber a decepção, a tristeza, a preocupação , o cuidado, a dor e o amor.
Com certeza, a conversa não foi fácil. Mas Deus, até nisso quis nos ensinar, pois Ele não precisaria conversar, dar explicação, bastaria exterminar todos os envolvidos e começar de novo. Graças a Ele, o recomeço aconteceu, mas conosco!
Invista tempo, jogue conversa “fora” com seus filhos, discipline quando for o caso, elogie muito, abrace, diga “eu te amo” todo dia, ouça as reclamações, vá ao shopping. O resultado é grandioso: você estará resgatando o canal da comunicação, sem que perceba, o “papo” vai começar a fluir. Então, você desarma o diabo e quando seu filho estiver ouvindo o pecado ou estiver em pecado, poderá dizer com todas as letras: “Filho, não faça isto, porque é pecado!”
Corra. Aprofunde o conhecimento em relação aos seus filhos. Isso é amor. Aí você entenderá a surrada frase, porém rica em significado: “Prazer em conhecer”.
Pr. Edmilson Mendes congrega na IAP em Pq. Itália (Campinas – SP) e integra a equipe do Demi – Convenção Geral.