Quando a máscara cai

Porque sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; porque o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já não faço eu, mas o pecado que habita em mim.” (Romanos 7: 18-20)
Estive pensando sobre o carnaval. Já é possível ouvir as músicas e ver os comerciais. Para muitos, o ano “começa” somente após este evento que mobiliza o país inteiro. Várias pessoas curtem muito bem o carnaval – dançam, pulam, gritam, outros passam a noite em casa, assistindo o desfile das escolas de samba. Outros passam os cinco dias de carnaval em retiros espirituais, onde se afastam de todo tipo de desagrado a Deus, que esta festa carnal pode oferecer.
Porém, para as pessoas que estiveram no carnaval, chegou o momento de retirarem a máscara e observarem que tudo não passou de pura vaidade. Salomão, em todo seu vigor, no auge de sua mocidade, vivencia momentos prazerosos, tais como o carnaval. Ele se deleita nas bebidas, nas noitadas de festa, na mulherada, e depois de provar tudo isso, conclui, ao final da vida, que tudo é vaidade. Que nada faz sentido. Que tudo é uma grande inutilidade.
Coloquei-me a pensar também na quantidade de “crentes” que procuram o sentido da vida no carnaval. Pessoas que estão na igreja aos sábados de manhã e aos domingos, mas que decidem, vez por outra, reverenciar o inimigo, fazendo sua vontade. O carnaval acaba, mas muitos continuam com suas máscaras.
É neste exato momento que sua máscara cai.
Enquanto você está com a máscara, ninguém te reconhece. Eles olham para você e não conseguem ver sua identidade. É isso mesmo que o inimigo quer: que eu e você percamos nossa identidade de cristão, de cidadãos do “Reino do Filho de seu amor”. O nosso adversário utiliza suas armas contra nós. O apóstolo Paulo já havia nos recomendado que o bem que queremos fazer, este não fazemos, mas sim, o mal que não queremos. Isso se deve ao fato de nossa carne ser uma arma utilizada por nosso adversário contra nós mesmos. A Bíblia já havia dito, também, que, na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26:5). Portanto, nossa carne é usada constantemente pelo inimigo para nos atacar.
Minha preocupação também aumenta por saber que a máscara não existe só no carnaval, mas existem muitos cristãos usando máscaras em todos os lugares. A máscara nos impede de mostrarmos ao mundo quem nós realmente somos. Muitos estão usando a máscara do medo, a máscara do ódio, a máscara do “querer ser superior”, a máscara da vergonha, da angústia, da insegurança, da vingança, da traição, do adultério, do abandono, do egoísmo. Muitos sobem nos púlpitos trajados de belos ternos, belos vestidos, mas com máscaras horrendas, que impedem a igreja de ver a glória de Deus.
Por isso, devemos seguir o conselho de Paulo que, inspirado pelo Espírito Santo, diz para retirarmos nossos véus e refletirmos como um espelho a glória do Senhor (2 Co 3: 15-18). Fazendo menção a Moisés, Paulo diz que o véu impedia o povo de ver a face de Moisés, logo após ele ter descido do Monte, ao ter falado com Deus. A glória de Deus estava sendo refletida através da face de Moisés e por isso ele utilizava o véu.
Infelizmente, hoje, muitos estão usando o véu ou a máscara e não estão mais refletindo a glória de Deus. Quando a máscara cair, nós poderemos novamente refletir como um espelho a glória de Deus e, então, seremos transformados na mesma imagem, a Bíblia nos garante. Tiremos as máscaras para nunca mais usá-las. Por que se não a tirarmos, um dia ela cairá por si mesma, e aí já será tarde demais.

Lucas Timóteo Moraes é professor da Escola Bíblica na IAP de Japurá (PR).

Dois seres em um

Nos teatros, usava-se uma máscara chamada “persona”, que é uma palavra italiana derivada do latim para um tipo de máscara. A psicologia usa o termo “persona” para definir a função psíquica relacional voltada ao mundo externo, ou seja, é o que somos por fora, é o que vendemos aos outros acerca de nós. Existe uma necessidade de vender uma imagem acerca de si mesmo a qual está, quase sempre, ancorada nas coisas que se fala, na maneira de se vestir, nos bens que são ostentados e na maneira de se comportar. Em resumo, “persona” é o que somos por fora, é a nossa personalidade.
Mas, quando pensamos em caráter, nos remetemos ao que somos por dentro. É aquele ser que existe em nós que, de fato, encaramos no silêncio do quarto ou nos desertos da vida. Caráter é sua índole, sua natureza pelo que você é por dentro. Davi, pensando em seu caráter, faz uma oração a Deus e diz o seguinte: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos” – Sl. 139:23.
Coração no hebraico é: לבב lebab, significa o homem interior, sua mente, vontade, coração, alma. Davi não tem a menor preocupação em impressionar a Deus. De fato ele procura ser autêntico, sem máscara alguma, diante das mentiras e enganos que nele existem. Quem é esse que existe dentro de nós, que nos dias de culto põe a “roupinha de ver Deus” e vai ao templo, pensando enganar ao Senhor como aos irmãos, falando o que não vive, pregando e “teologando” empolgadamente, sem nunca ter experimentado a realidade do evangelho na vida íntima e pessoal? Quem é esse que existe dentro de nós que canta empolgadamente nos cultos e durante a semana cobiça, adultera, inveja e mente, como se isso já fizesse parte da vida da vida “secreta” e “íntima”? Quem é esse que existe dentro de nós, que vive o “transtorno de personalidade aparente”? Quem é esse que existe dentro de nós, com suas máscaras, tomando forma ao ponto de conseguir adorar ao Senhor com o coração carregado de mágoa, ressentimento, ódio, desprezo, ciúmes e sordidez? Quem é esse??? Quem é esse que vive se escondendo por trás das máscaras?
As duas perguntas que devem provocar verdadeiro pânico e desespero em nós são: a quem Deus procura na terra para serem os seus verdadeiros adoradores? Os que tentam impressionar pela roupa que vestem, pelas coisas que falam ou pelo cargo que possuem? A resposta é simples. Quem Deus procura é uma gente íntegra no caráter, segundo o evangelho de João 4:23: “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores”. Nos íntegros e sinceros existe um ser dentro cuja máscara não consegue esconder; é esse ser que faz a adoração tornar-se verdadeira. A segunda pergunta é: diante desse caos existencial, quem se salvará, afinal? A resposta é muito simples e absurdamente desesperadora em Hb 12: 14: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.”
A palavra santificação no grego é αγιασμος (hagiasmos), que significa santificação de coração e vida, ou seja, o que somos por dentro e não o que aparentamos com o discurso de “santificação” eclesiológico e teórico para impressionar os ouvintes com nossas máscaras.
Então, o que deveria nos fazer perder o sono, seria a existência dessas duas pessoas dentro de nós, a de fora e a de dentro. A quem o Senhor quer como adoradores e servos? Vejamos apenas três textos bíblicos para concluirmos.
Tiago 1:8 – “… homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.”
Tiago 4:8 – “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração.”
A palavra para “dobre” no original grego é διψυχος (dipsuchos), que significa: duas almas, duas pessoas, mente dupla, vacilante, incerto, duvidoso, de interesse dividido. Tiago descreve a figura de uma pessoa que usa máscara na igreja ou em público sendo uma, e outra quando está na intimidade da vida, no secreto, sem máscaras, no deserto onde está a sós, e precisa encarar a si mesmo com suas incongruências, contradições e antagonismos.
O outro texto que podemos analisar é o de Apocalipse 3.15, quando Jesus fala à igreja de Laodiceia: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!”
A palavra no original para “obras” é εργον (ergon). Ergon tem um significado bem apropriado à vida íntima, secreta, pessoal, podendo ser traduzido como a mente. Nesse caso, o escritor poderia ter usado a palavra “ergonai” que seria melhor traduzido para a vida pública e não à vida íntima, só que Jesus não está interessado pelo que fazemos publicamente com uso das máscaras mas sim, pela nossa vida íntima, secreta, pessoal, que ninguém está vendo.
Portanto, tiremos as máscaras da hipocrisia, do fingimento, do sensacionalismo eclesiástico, desse ser que é o que não é. Oremos para que Deus nos livre do transtorno de personalidade “aparente”, ancorado em figuras ou tipos carregados de aparência com exteriorização religiosa daquilo que não é segundo o coração de Deus. Vigiemos para sermos íntegros e sinceros em tudo.
Tiago 1:4: “Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.”
Filipenses 2:15: ”… para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo.”
A palavra sincero no grego é ακεραιος (akeraios), que significa mente sem misto de maldade, livre de malícia, inocente, simples.
Que Deus nos desmascare enquanto há tempo!
Pr. Irgledson Irvson Galvão é tesoureiro da Região Paulista e pastor da IAP em Jardim Aeroporto (Campinas – SP).