Como um barco açoitado por fortes ventos e por violentas ondas, assim navega a humanidade, por mares desconhecidos e bravios
O olhar do mundo se volta para o Oriente. Uma avalanche de notícias surpreende a todos: tsunami, terremotos, contaminação radioativa, usina nuclear em chamas, revoltas populares e crimes contra a humanidade. A voz dos oprimidos nos países árabes é ouvida por todo o mundo. Primeiro foi o Egito, depois o Iêmen, a Líbia e agora a Síria.
As pessoas, cansadas da opressão imposta por seus governos totalitários, se agigantam na luta pela tão sonhada democracia. Mas a liberdade não é conquistada sem custo. O oriente chora a morte de homens, mulheres e crianças que derramaram seu sangue sobre o solo empoeirado de suas pátrias. Hastearam a bandeira da liberdade e da democracia sob o custo de suas próprias vidas. Será que a Líbia, o Iêmen e a Síria terão o mesmo desfecho que o Egito? Não sabemos. Há sempre palpites e previsões, mas só o tempo mostrará as reais implicações de tudo o que tem acontecido.
O Japão, por sua vez, à semelhança da ave fênix na mitologia grega, tenta ressurgir das cinzas. As cidades do litoral, devastadas pelo tsunami, tornaram-se grandes depósitos de entulhos. Restos destorcidos e destruídos do que já foram carros, prédios e casas se amontoam pelas ruas. Devido à incrível habilidade dos japoneses em lidar com as tragédias, o país tende, progressivamente, a se recuperar. Mas o certo é que o Japão jamais mais será o mesmo. Ninguém mais será. As catástrofes naturais deixam um cheiro de insegurança pairando no ar. O caos, a incerteza e a instabilidade põem em desordem as perspectivas do futuro.
Os acontecimentos que presenciamos no mundo são marcos na história humana. As tragédias ou as grandes mudanças têm a admirável capacidade de nos fazer repensar no rumo que estamos seguindo. As noticias funcionam como um “chacoalhão”, que nos despertam de um sono profundo. Passamos a nos preocupar com o futuro, com aquilo que ainda virá. E é justamente aí que nasce a insegurança. Podemos nos sentir seguros em um mundo que parece estar em convulsão?
É difícil responder. Vivemos um período de transição. As coisas estão mudando o tempo todo. Tudo tem sofrido drásticas alterações: a economia mundial, o meio-ambiente, a política e a sociedade em geral. Nada de novo, afinal de contas, vivemos em um mundo mutante, ou seja, um mundo em constantes mudanças. Isso nos instiga a perguntar: o que se despontará no horizonte nebuloso da história humana? Quais serão os novos desafios? Como caminhará a economia mundial? E as convulsões ambientais, acontecerão em dimensões menores do que a do Japão ou podemos esperar, de nossa “irmã natureza”, hostilidades de proporções ainda maiores? Como será escrito o próximo capitulo de nossa odisséia?
As perguntas são como fortes ventos em dia de temporal, que nos jogam de um lado para o outro, atordoando nossas mentes. Aliás, esse parece o cenário exato para pintar o quadro do momento histórico em que vivemos. Como um barco açoitado por fortes ventos e por violentas ondas, assim navega a humanidade, por mares desconhecidos e bravios. Ao que parece, por enquanto, o horizonte ainda está entenebrecido pela escuridão da noite. É impossível enxergar o cais ou aportar em lugares seguros.
Esse cenário tempestuoso nos faz lembrar outra tempestade. A tempestade enfrentada por Jesus e seus discípulos (Mc 4.35-41). Na ocasião, Jesus dormia na popa do barco, enquanto seus discípulos se desesperavam ante a fúria do mar. Curiosamente, Jesus dormia em meio ao vendaval. Parece que aquilo que nos causa medo e insegurança não é capaz, sequer, de tirar o sono dele. As fortes ondas que sacudiam o barco violentamente embalavam Jesus em seu repouso. O som assustador dos ventos açoitando o barco pareciam canções de dormir aos ouvidos do mestre. Os discípulos não suportaram aquela cena. Rapidamente o acordaram (v.38). “E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança” (v.39). De acordo com o registro bíblico, uma vez vencida a tempestade, Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar (Mc 5.1).
Fico pensando: se eles confiassem que Jesus era capaz de acalmar a tempestade ainda sim o acordariam ou seriam mais confiantes a ponto de também descansarem? Será possível sentir-se seguro em um ambiente de total insegurança como o de um vendaval? Esse relato das Escrituras pode nos encorajar a descansar em Cristo mesmo quando a jangada da humanidade navegar por mares turbulentos e tempestades furiosas. Afinal de contas, para os que navegam com Jesus, uma vez vencida a tempestade, aportarão seguros em seu destino eternal. Por isso, mesmo diante da instabilidade global e da insegurança mundial, sintamo-nos seguros, pois com Jesus chegaremos ao nosso destino final.
Kassio F. P. Lopes é missionário da IAP em Corumbá (MS).