Enviar ou não enviar? Eis a questão!
Dois amigos juntam uma grana e conseguem finalmente fazer a viagem dos sonhos, partem rumo a Las Vegas. Na ida o coração dos dois bate acelerado, é uma palpitação movida por pura adrenalina. Vão viajando e fantasiando, mulheres, bebidas, cassinos, jogos, festas, noitadas, enfim, serão dias de vale-tudo em Las Vegas. E o melhor, sem nenhuma preocupação com as consequências, afinal, como afirma o antigo provérbio, “O que acontece em Vegas, fica em Vegas”. Então, logo na primeira noite vão a um cassino. Horas depois saem de lá, um completamente nu, e o outro, apenas de cueca. O que está nu diz: “Eu o admiro muito, você sempre sabe quando é hora de parar!”
E a geração atual, sabe a hora de parar? Na sua maioria, infelizmente, demonstra não saber. Ou, em muitos casos, demonstra não ter forças para parar. A expressão “manda nudes” é uma das mais populares nas redes sociais. Hábito normal para uma grande fatia da moçada. Hábito que vai se tornando rotineiro e aceitável para um número cada vez maior entre os jovens cristãos, que, mais cedo ou mais tarde recebem o pedido por whats: “Manda nudes.” Ou seja, envie fotos suas onde você esteja nu, fotos nas quais revele partes íntimas, enfim, manda nudes. A partir daí surgem as perguntas: Sim ou não? Envio ou não envio? Devo ou não devo?
Numa pesquisa on-line feita pelo Instituto Qualibest com 579 pessoas entre 16 e 30 anos, 12% respondeu que já compartilhou fotos ou vídeos da própria nudez. Dentre os motivos alegados pelos 12% para enviar tais fotos ou vídeos, o campeão, que aparece com 42% entre os praticantes, é o pedido do parceiro. Ou seja, a pressão vem, na maioria das vezes, da pessoa amada, é quando o namorado ou a namorada, o amante ou o ficante, começam a pedir uma imagem, uma “prova” de amor, e depois de pensar um pouco resolve-se atender a solicitação. Pronto. Depois da primeira foto, a porteira foi aberta, pouquíssimos são os que conseguem parar.
Segundo a psicanalista Marielle Kellermann, existem dois motivos principais para a prática de se enviar fotos nuas. O primeiro está ligado a um desejo biológico inato: o exibicionismo. Desejo este que é bem antigo, existe muito antes dos iPhones, basta pensarmos nos pintores do renascimento que já faziam aula com modelos nus. Segundo motivo apontado pela psicanalista são as facilidades tecnológicas, em que seu celular produz foto ou vídeo de boa qualidade, você mesmo edita, separa, salva e envia em questão de minutos, tudo no secreto e no conforto da privacidade, condições que vencem a timidez e o recato que existiam sem as possibilidades escancaradas pelas facilidades da tecnologia.
Eis o dilema: assim como as luzes, os cenários e as possibilidades sedutoras de Las Vegas, o “manda nudes” também exerce grandes poderes de sedução, satisfaz egos, potencializa autoafirmações, faz seu praticante se sentir, dá a sensação de liberdade e independência, passa a ideia de poder e comando, enfim, entra-se em jogos e relações que despertam desejos e prazeres. Mas não só, para além de desejos e prazeres, muitas consequências vêm a reboque.
Perda de privacidade, ter sua imagem compartilhada por pessoas que você jamais gostaria que tivessem acesso, virar o objeto de consumo de estranhos, perda do respeito, abalos relacionais, pesos psicológicos, emoções estremecidas, vergonha, quebra de pacto com a pessoa que prometeu preservar o segredo e resolveu tornar tudo público sem seu conhecimento. A lista poderia aumentar, porém apenas estas consequências já deveriam fazer muitos repensarem a prática.
Por que cristãos devem se abster desta tendência que aumenta a cada dia? Essencialmente por conta de um motivo. Em Cristo, nosso corpo é templo do Espírito Santo, portanto deve ser preservado e dar-se ao respeito que a metáfora exprime.
Expor a privacidade é algo demolidor. Temos visto mais destruição do que edificação. Vide exemplo dos grampos das escutas telefônicas, dos vídeos publicados na internet apenas para ostentar e diminuir o outro, o explorado, o abusado. Enfim, uma vez público, aquilo que deveria ser apenas privativo perde seu encanto, seu segredo, seu lado sagrado.
Na perspectiva bíblica, a nudez é bênção para ser compartilhada apenas entre o casal, um tesouro riquíssimo que deveria ser descoberto e usufruído ao longo de uma vida a dois em aliança com a bênção de Deus, sempre debaixo dos pactos de fidelidade, honra, respeito, afeto e exagerado amor. Entendo e respeito os que encaram a nudez em outra perspectiva, mas a que defendo é a bíblica, pois é ela que tem formado famílias fortes e sociedades sólidas ao longo dos séculos.
Além do palco do casamento, tem alguém que mesmo que você não queira, recebe nudes suas a todo momento. Ele mesmo, o Deus Todo Poderoso. Nossos estilos e modelitos não impressionam, nossos desempenhos sociais não causam qualquer admiração nele. Simplesmente estamos nus diante dele. E para complicar é uma nudez que ultrapassa o corpo físico. Ele nos vê, nos sonda e nos esquadrinha na alma, no coração, nos pensamentos, nos desejos, em cada intenção, nenhum pequenino detalhe escapa ao olhar dele.
E então, qual a resposta? Manda nudes? Não. Já tenho compromisso com alguém que mora em meu corpo e conhece toda minha nudez, toda. Só Ele tem autoridade para determinar com quem compartilharei meu corpo. Até lá, fiquemos espertos, porque tudo está descoberto e absolutamente nu aos olhos Dele.
Pr. Edmilson Mendes congrega na IAP em Pq. Itália (Campinas, SP) e integra o Departamento Ministerial – Convenção Geral.