Ao sepultar um inimigo, o presidente Barack Obama faz uma declaração que nos leva a refletir sobre nosso papel como igreja.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em pronunciamento na casa branca sobre o sepultamento de Osama Bin Laden, disse que tinha seguido à risca a tradição da religião mulçumana envolvendo o corpo em lençol branco que, posteriormente, foi depositado em um saco com pesos. Um oficial militar leu os ditos religiosos que foram traduzidos para o árabe por um nativo da língua. Depois que as palavras foram pronunciadas, o corpo foi apoiado em uma tábua plana, inclinada para cima, e deslizou para o mar. Perguntado sobre o porquê de ter seguido tradições mulçumanas, Barack Obama respondeu: “isso nos faz diferentes”. Ao seguir os ritos religiosos de seu maior inimigo, ainda que morto, Barack Obama mostra porque é diferente de Bin Laden, ou pelo menos, afirma ser.
Quando a igreja de Cristo, por meio de seus discípulos, é diferente, de fato, na vida cotidiana? Há uma história bíblica esclarecedora e extraordinária sobre como podemos ser diferentes em um mundo marcado pelo egoísmo, pela soberba e pelo narcisismo das pessoas e de governos eclesiásticos tiranos. Vejamos:
“Estando Jesus para subir a Jerusalém, chamou à parte os doze e, em caminho, lhes disse: Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia, ressurgirá. Então, se chegou a ele a mulher de Zebedeu, com seus filhos, e, adorando-o, pediu-lhe um favor. Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda. Mas Jesus respondeu: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu estou para beber? Responderam-lhe: Podemos. Então, lhes disse: Bebereis o meu cálice; mas o assentar-se à minha direita e à minha esquerda não me compete concedê-lo; é, porém, para aqueles a quem está preparado por meu Pai. Ora, ouvindo isto os dez, indignaram-se contra os dois irmãos. Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mt.20.17-28)
O pano de fundo do texto é: Jesus indo a Jerusalém, Salomé (tia de Jesus), seus dois filhos, Tiago e João, e os dez discípulos.
O que pleiteavam eles: queriam posição, grandeza e glória, queriam o 1º e 2º lugares no reino em Jerusalém. Segundo a tradição romana, seriam os primeiros auxiliares da corte ou primeiros ministros no governo de Cristo.
Foi um pedido nada humilde de Salomé: “Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda.” O que ela tinha em mente? Que Tiago e João tivessem cargos de “importância”, segundo o conceito secularizado.
Uma rebelião e revolta nada humilde acontece na assembleia dos apóstolos ao ouvirem tal pedido, afinal os mais bem “preparados”, segundo eles, não eram Tiago e João para tal posto. Um sentimento toma conta dos dez apóstolos: “a indignação”.
Ora, ouvindo isto os dez, indignaram-se contra os dois irmãos. Essa palavra tem como significado no grego: ofendido, descontente, insatisfeito. Foi o que sentiram quando ameaçados em não assumirem o “cargo” pretendido.
O que alimentava aquele sentimento de indignação era o egoísmo e a ambição, afinal, o que estava em jogo era o “primeiro lugar no reino”, então se justificava aquele comportamento, segundo eles.
Em que momento alimentamos nosso egoísmo e nossa ambição, quando lutamos sem “pudor” pelo primeiro lugar, por cargos mais importantes nas hierarquias eclesiásticas?
O que Jesus nos ensina quando diz: “e quem quiser ser o primeiro, entre vós, será vosso servo”?
Ele simplesmente dá uma aula sobre grandeza espiritual. Para Jesus, o governo secular de Napoleão, Nero, Pilatos e outros tinham marcas muito claras de nepotismo, egoísmo, avareza, soberba, ira, mágoa, ganância, avareza, luxúria, ambição etc. Acontece que o governo de Jesus através de sua igreja na terra deveria ter como marcas principais: amor, humildade, submissão, sujeição, longanimidade etc. Grande, para Cristo, não era definido pelo “cargo” que assumissem.
Quando ele diz: “não é assim entre vós”, ele coloca um divisor de águas e estabelece de forma clara as diferenças que devemos ter. Mostra, por meio de um grande ensino, que grandeza pessoal era deixar a pequenez e a mediocridade, pois precisavam ser grandes para Deus e não aos olhos dos homens, afinal, Jesus sabia que haveria muita coisa que encheria os olhos dos homens, mas não alegrariam o coração de Deus, principalmente através de “postos” estratégicos na igreja.
O reino de Cristo na terra, através de sua igreja, precisa ser formado por homens dispostos a se despir de sua “grandeza pessoal”, para que a grandeza seja de Deus. Pessoas capazes de carregar suas marcas na vida, exatamente para serem “diferentes” da mediocridade estabelecida.
Qual a razão de Jesus não alimentar tanta disposição entre os discípulos para assumirem postos estratégicos na sua igreja? Afinal, era possível usar as “motivações” para iniciar uma igreja vibrante, atuante, próspera, com garra. Era exatamente o que Cristo não queria, ele não queria homens dispostos a assumir cargos, antes ele precisava de homens dispostos a renunciar, amar, perdoar e viver piedosamente. Sua igreja não deixaria marcas relevantes para o reino pela quantidade de dinheiro na conta bancária, tampouco pela quantidade de pessoas dentro de suas portas, menos ainda pelas pessoas que a liderassem com projetos ousados. Sua igreja deixaria marcas relevantes por homens que tivessem a capacidade de viver sob a orientação do Espírito Santo e não dando vazão aos “impulsos” internos que os conduziriam à cobiça, ganância e avareza. Essa igreja governada pelo Espírito Santo fez a escolha de Matias, e não José, sob a orientação do Senhor,após orarem (At 1: 21, 26). Há igrejas grandes e ricas, mas não relevantes ao reino de Deus, nas quais seus pastores não glorificam a Cristo com suas vidas, antes pelo contrário. Como seremos diferentes?
Enquanto o evangelho de Mateus e Marcos estava sendo escrito, a igreja recebia provas de como os discípulos seguiam a Cristo no sofrimento, abrindo mão do poder, da luxúria, cobiça, ganância e avareza. A igreja não poderia seguir adiante, sem que antes os apóstolos aprendessem uma grande lição: eles precisavam carregar as marcas de Cristo em suas vidas, exatamente para serem “diferentes” e impactar a vida das pessoas pelo amor, pela humildade, longanimidade etc.
Devemos aprender com Cristo, como ele foi humilde ao tomar a nossa natureza (Fl 2.7); no seu nascimento (Lc.2.4); na sujeição a seus pais (Lc. 2.51); nas situações da vida (Mt 13.55); na sua pobreza (Lc 9.58); na sujeição às ordenanças (Mt 3.13); no ter se tornado servo (Mt 20.28); no ter rejeitado honrarias (Jo 5.41) e no recusar tratamento especial (Jo 6.15).
Para sermos, de fato, diferentes, precisamos tê-lo como mestre. “Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo, como seu senhor…”(Mt 10.25).
Ser diferente é fazer escolhas difíceis todos os dias. Você pode comunicar Cristo através de sua vida, sem palavras. Evangelize, até mesmo, sem dizer nada e seja diferente!
Pr. Irgledson Irvson Galvão é tesoureiro da Região Paulista e pastor da IAP em Jardim Aeroporto (Campinas – SP).