Confiados em sua própria força, os egípcios comemoram a vitória sobre a ditadura. Mas que desafios vão enfrentar: um mar para atravessar ou uma longa caminhada no deserto?
Houve um tempo, centenas de anos antes de Cristo, em que a nação dos hebreus viveu sob regime de escravidão, no Egito, sob a tirania do faraó Ramsés. Naquela época, incapaz de uma iniciativa eficaz para dar fim ao sofrimento, o povo foi liderado por um profeta, que recebera do próprio Deus tal incumbência. A liberdade, enfim, chegava aos israelitas. Não pelas próprias forças, tampouco empunhando armas – visto que pouco podiam fazer diante do poder do exército de Ramsés. Mas pela mão daquele que decidira libertá-los: o próprio Deus.
Moisés, hebreu de nascimento e egípcio de criação, foi o instrumento escolhido pelo Todo-Poderoso para a missão que parecia impossível. Como não há barreira que seja intransponível para Deus, os hebreus marcharam para fora dos domínios de faraó e puderam comemorar com grande festa. Aquele dia foi para eles como um memorial para ser lembrado através das gerações (Êx 12:40-42), porque os tirou da terra do Egito.
A história está se repetindo, num certo sentido. Mas, desta vez, não são os israelitas que comemoram a libertação, mas os próprios filhos da nação egípcia. Na data que entra para a história como o “Dia da Vitória”, centenas de milhares de pessoas comemoram com uma oração na praça Tahrir, no Cairo, o fim da opressão vivida sob a ditadura de Hosni Mubarak.
Os egípcios do nosso tempo lutaram trinta anos até conseguirem a liberdade – que hoje em dia atende pelo nome de “democracia”. Agora que acreditam tê-la alcançado, pergunto se estão, realmente, livres. Quais os próximos passos da caminhada? Que desafios os aguardam? Há um mar para atravessar ou uma longa caminha a ser feita no deserto? Há uma cidade que mana leite e mel a ser habitada? Há promessas de um nova e definitiva liberdade a ser conquistada no futuro?
São duas grandes vitórias, certamente. A dos hebreus, no passado e, agora, a dos egípcios. O paralelo que desejo construir entre esses dois diferentes momentos históricos, contudo, apresenta uma diferença essencial, que põe fim a qualquer comparação. Falta aos egípcios contemporâneos a figura do profeta Moisés e a presença do Deus de Israel, que promoveu com força e poder incomparáveis a alforria dos oprimidos do passado. Falta a noção da ação sobrenatural, do mover de Deus enquanto, por outro lado, sobra autoconfiança e crença na conquista pelo mérito meramente humano – a julgar pela euforia orgulhosa dos personagens históricos do feito mais recente, amplamente exibida em todos os meios de comunicação.
A ocasião nos faz lembrar que lutar por nossos direitos, resistir à opressão e ser vitorioso na batalha são coisas que devemos buscar sempre. Mais importante que isso, porém, é entender que muito melhor é encarar os desafios da vida com a ajuda de Deus, reconhecendo que é ele quem cuida, dirige e luta por nós.
Com Deus, a comemoração dos egípcios certamente seria mais alegre e completa. Como Moisés, eles poderiam dizer: “cantarei ao Senhor, porque gloriosamente triunfou (…). O Senhor é a minha força, e o meu cântico; ele se tem tornado a minha salvação; é ele o meu Deus, portanto o louvarei; (…) O Senhor é homem de guerra; Jeová é o seu nome. Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; (…) Quem entre os deuses é como tu, ó Senhor?”. (Êx 15:1-4, 11)
Pb. Marco Murta