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Liberdade e Saudade

O caso Shalit nos faz pensar em nossa aproximação ou afastamento de Deus
muitas coisas que quero fazer, agora que estou livre”. Isso foi o que declarou ao canal Nile TV, do Egito, o jovem , soldado israelense capturado havia mais de cinco anos pelo Hamas e libertado no dia 17 de Outubro. Depois de quase dois mil dias sem ver as pessoas que ele ama, como amigos, pais e demais familiares, Shalit demonstrou que agora que fora solto, tudo o que queria era desfrutar novamente da companhia dos seus queridos.
Em uma única frase, ele evidenciou dois aspectos muito relevantes da existência do ser humano: saudade e liberdade. Esta última palavra está presente em quase todos os idiomas, sendo conhecida pela maioria dos povos e tribos dos quatro cantos da terra. Liberdade, virtude tão enfatizada quando da morte de William Wallace, grande líder que batalhou para que os escoceses do início do século XIV fossem libertos do jugo inglês. Segundo a lenda para  alguns e fato para outros, ele bradou ante a morte: Freedom (Liberdade)! Liberdade, buscada não apenas para uma nação, mas também pelas pessoas e para as pessoas. Liberdade, expressa nas palavras do Senhor Jesus Cristo, quando disse: Conhecereis a Verdade, e a Verdade te Libertará (Jo 8.36).
Para o humanismo, o homem é livre quando ele consegue fazer tudo aquilo que sente vontade de fazer. Para Cristo, o ser humano é livre quando consegue fazer aquilo que apraz ao seu Criador, provando assim que já destituiu o poder do pecado de sua vida, e conseguiu fazer de seu livre-arbítrio um caminho para o centro da vontade do Pai, e não um subsídio para a libertinagem. Shalit declarou que agora que está livre, tem vontade de fazer muitas coisas. Mas aquele que é livre por Cristo e pela cruz de Cristo, sempre procurará fazer uma única e maravilhosa coisa: correr para os braços do Pai celestial.
Foi exatamente uma atitude contrária a essa – o distanciamento do Pai – que determinou a origem da segunda palavra, tema deste artigo: Saudade. Foi uma escolha deliberada de Adão e Eva lá no Jardim do Éden que provocou a primeira sensação de Saudade da história. Quem a sentiu? Deus. O primeiro casal pecou, e, automaticamente, se afastou do Senhor. O livro do Gênesis nos conta que, depois da queda, eles ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no Jardim pela viração do dia (Ge 3.8a). Mas Adão e Eva, sabendo que Deus é Santo, e estando eles em pecado, se esconderam do Senhor entre as árvores do Jardim (Ge 3.8b). O texto segue dizendo que Deus chamou Adão e perguntou: Onde estás? (Ge 3.9). Deus estava com Saudades. Foi por causa do mau uso da Liberdade – de Adão e Eva – que a Saudade foi originada – em Deus.
Palavra em dois idiomas
O interessante é que a Bíblia não menciona jamais esta palavra, afinal, diferentemente de Liberdade, esta palavra é presente em apenas dois idiomas: português e galego. Mas, mesmo que não notemos sua grafia nem nas Escrituras e nem nas palavras de Shalit, podemos percebê-la tanto no caso do soldado israelense – pois estava há vários anos sem ver seus familiares – como no caso do Gênesis, pois Deus sofre e sente Saudades de seus filhos, mesmo que estes passem apenas alguns instantes longe do seu Criador. Não é a toa que as Escrituras nos dizem que o Espírito está dentro de nós (1 Co 3.16) e que Jesus Cristo vive ao nosso lado (Mt 28.20). Isso ocorre porque Deus não quer sentir Saudades de nós.
Mas cada vez que utilizamos nossa Liberdade de modo errado e incorremos em erros, provocamos a Saudade no coração de nosso Deus. Neste intervalo, ele pergunta: Onde estás? Cada vez que dizemos não para a vontade do Senhor e levamos a cabo nossos próprios interesses, fazemos como Adão e Eva, nos escondendo do Senhor atrás das árvores de nossos delitos.
Hoje também Deus pergunta para muitos dos seus filhos: Onde estás? Tenho Saudades de você! Nossa oração é para que o Hamas espiritual que nos prende e nos afasta de Deus seja vencido em nossa existência, e que assim, possamos declarar que agora, libertos, há uma coisa importante que queremos fazer: correr para os braços do Pai. Deste modo, a Saudade passará e a Verdadeira Liberdade surgirá.
Pr. Marcio Rogério Gomes David é superintendente da Convenção Ceará da IAP.

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