503 Anos da Reforma – Somos renovadores e não inovadores!

Somos renovadores e não inovadores! – Lancelot Andrewes
“Pois não me envergonho das boas-novas a respeito de Cristo, que são o poder de Deus em ação para salvar todos os que creem…” (Rm 1.16 – NVT)
Você já parou para pensar que o Evangelho são as boas novas de Deus, não porque são novidades, mas porque e sobretudo, o Evangelho são as boas notícias renovadoras de Deus. Esta revelação é progressiva e constante a cada que meditamos em sua Palavra.
“Lutero e os demais reformadores não inventaram moda. Eles deixaram claro que a fé evangélica é a fé cristã em sua forma original e autêntica”1.
O Evangelho de Cristo nunca envelhecerá, pois ele reflete verdades absolutas e relevantes para todas as gerações, inclusive as que virão, e continua eficaz para trazer sentido de vida ao que crê em Jesus, promovendo transformação de vida: “Logo, todo aquele que está em Cristo se tornou nova criação. A velha vida acabou, e uma nova vida teve início” (2 Co 5.17 – NVT).
A Reforma Protestante não acabou. O Evangelho continua renovador e renovando: “Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme, por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês” (Rm 12.2 – NVT).
A Reforma Protestante de Lutero, que completa 503 anos em 31 de outubro, está baseada em cinco doutrinas, ou os Cinco Solas. Sola Scriptura (Somente a Escritura) – tudo o que somos, cremos e tudo o que fazemos precisa estar em obediência ao que a Bíblia diz. Ela é a Palavra de Deus, somente ela! (2 Tm 3.16-17). Solus Christus (Somente Jesus) – não existe outra forma de termos o relacionamento com Deus a não ser por meio de Jesus Cristo (1 Tm 2.5). Sola Gratia (Somente a Graça) – graça é um presente que nós não merecemos. Não somos salvos pelo que fazemos. A salvação é de graça, pela graça. Quem pagou o preço foi Jesus, na cruz, morrendo pelos nossos pecados (Ef 2.8, 9). Sola Fide (Somente a Fé) – para sermos salvos, é preciso ter fé em Jesus Cristo. É Deus quem nos dá fé suficiente para crermos em Jesus Cristo como nosso Salvador e Senhor. Esta fé é dom de Deus (Gl 3.11). Soli deo Gloria (Glória somente a Deus) – tudo o que fazemos (tudo mesmo) é para a glória de Deus, ele deve ser sempre o primeiro em tudo (1 Co 10.31).
Muito embora esse acontecimento na história foi marcante para a igreja e o mundo, tanto para aquela geração e quanto para a nossa também, às vezes fazemos da Reforma Protestante de 1517 um conto de fadas, algo distante. Mas é preciso destacar que a Reforma não descobriu a Bíblia.
Temos uma igreja cheia de bíblias, mas, ao mesmo tempo perguntamos: temos o Evangelho? Na Tese 93 de Lutero, ele registrou: o verdadeiro tesouro da igreja é o evangelho. Há diferença entre conhecer a Bíblia e conhecer o Evangelho. “Não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê…” (Rm 1.16)
O reformador é alguém que descobre o Evangelho em igrejas cheias de Bíblias. A igreja reformada precisa se reformar a cada dia até que ela seja glorificada, na volta de Jesus. Para quem defende que a igreja está estagnada ou perdeu o seu brilho, eu respondo: o Evangelho é o Leão, que tem garras, poder e força2. Qual a missão do Reformador? Abrir caminho para o Leão, deixar o Evangelho livre para confrontar o pecado e a cultura idólatra. Portanto, uma reforma legítima da igreja não acontecerá a não ser que o Evangelho seja lembrado, valorizado e seja vivido intensamente por fé e graça; influenciando nosso estilo de vida a ponto de refletir o amor de Jesus Cristo por todos os pecadores.
Tenha coragem de soltar o Leão, deixe o Evangelho fazer a parte dele. A Reforma é uma tarefa inacabada.
Pr. Elias Higino Roberto é responsável pelas IAPs em Sumaré e Jd. Primavera, ambas na Convenção Paulista. Atua no MVP – Convenção Geral e Paulista.

Sola Fide

Sem a fé, não somos convertidos, mas religiosos vazios, escravos de nossas obras

Sola Fide em latim, que se traduz por “somente pela fé”, foi uma bandeira hasteada pela Reforma Protestante, da qual jamais devemos desprezar. Sem este norte, não seremos convertidos, mas religiosos vazios, escravos de nossas obras. Estaremos desprezando o que Jesus fez por nós. Uma moeda perdida dentro da casa. Uma ovelha desamparada no deserto que não se deixa ser carregada pelo Supremo Pastor. Um filho pródigo que ainda não caiu em si, sem nada, sem significado, cheirando a porcos, sem o abraço, o beijo, as vestes e a festa preparada, sem merecimento humano, mas unicamente pelo “Pai” – Lucas 15.
O versículo mais traduzido da Bíblia Sagrada diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” – Jo 3.16. Ele apresenta uma resposta à todas as ambiguidades humanas, ao começar afirmativamente com um “Porque”. Ele desvenda a natureza e o coração de Deus quando diz “Deus amou”. Ele mostra a extensão deste amor ao afirmar “Deus amou o mundo”. Ele anuncia a inexplicabilidade deste amor ao deixar claro que foi “de tal maneira”. Ele oferece o que nós nunca merecemos, ao anunciar “que deu o seu Filho Unigênito”. Ele escancara escandalosamente a graça ao oferecer “para todo aquele”. Ele proclama a única forma de aceitação da salvação que é pela fé no Seu Filho e em mais ninguém, “nele crê”. Ele apresenta do que as pessoas são salvas, que é a morte eterna, ao alertar “não pereça”. E termina afirmando o desejo do Senhor para Seus Filhos para que no futuro vivam em plenitude de glória dizendo“mas tenha a vida eterna”.
Somente a fé é uma bandeira do Evangelho por que:

  • É uma dádiva de Deus – Jd v.3.
  • Advém da Palavra de Deus – Rm 10.17.
  • É produzida pelo Espírito Santo – Jo 16.7-11; Gl 5.22.
  • Nos faz aceitar a graça ofertada por Cristo – Rm 5.2; 2 Co 5.21; Ef 2.8.
  • Nos propicia o sangue de Jesus – Rm 3.25.
  • Nos justifica – Rm 3.24, 28; 5.1; 8.33.
  • Nos justifica como fez com Abraão (atribuída por Deus, sem ajuda da nossa parte) – Tg 2.23.
  • Nos faz viver – Rm 1.17.
  • Nos faz praticar boas obras após sermos salvos – 2.8-10; Tg 2.26.

O Capítulo 11 de Hebreus é o capítulo da fé, pois apresenta um caminho trilhado por inúmeros irmãos do passado.
Assim, neste texto a fé:

  • Nos faz ver o futuro e o invisível – v.1.
  • Produz bom testemunho – 2.
  • Nos proporciona a compreender a criação – 3.
  • A única forma de agradar a Deus – v 6.
  • Nos irmana com os heróis da fé: Abel, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e Profetas. Aliás, o termo “pela fé” aparece 20 vezes neste capítulo.
  • Nos desafia a viver na contracultura do mundo ao afirmar: “O mundo não era digno deles…” – v.38.
  • Nos deixa sem opção ao demonstrar como ser um vencedor acima de todas as circunstâncias: “Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé…” – v. 39.
  • Sem prometer o céu na terra, Deus que é o Senhor da história, une os irmãos de todos os tempos, na mesma formula de salvação que é a fé – “Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles aperfeiçoados. ” – v. 40.

Só nos resta trilhar nossa carreira sem desistir, combater o bom combate e “guardar a fé” – 2 Tm 4.7.
E, se alguém perguntar como ser justificado e salvo? Você terá a grata satisfação de dizer: Só Jesus, pelo sacrifício da cruz, tendo como único trabalho “o crer”, o “aceitar pela fé” e descansar nEle. E se for houver insistência: Tem certeza? Somente isto? Responda sim, essa é a melhor notícia de todos os tempos,para que você seja livre,
Sola Fide,
Pr. Elias Alves Ferreira é responsável pela IAP em Jales (SP) e integra a equipe do Departamento Ministerial – Convenção Geral.
 

Quem foi Martinho Lutero?

O homem que Deus usou para concretizar a Reforma Protestante

Em 31 de outubro de 1517, o Monge Agostiniano, Martinho Lutero, fixou na porta do Templo em Wittenberg, na Alemanha, 95 teses protestando contra o Cristianismo dominante da época, surgindo assim o Movimento de Reforma Protestante. Embora tenham havido outros movimentos e vozes, que não aceitavam a forma de como viviam o evangelho na época, por exemplo, os Grupos Monásticos, Albigenses, Pedro Valdo, John Wycliffe, John Huss e Girolamo Savonarola, entre outros, o movimento iniciado por Lutero, foi o mais impactante deixando marcas espirituais, religiosas, culturais, políticas, econômicas, tecnológicas, sociais e intelectuais.¹
Mas, o que provocou esta gigantesca reforma? As áreas principais foram: Teológica (Venda de perdão divino, “indulgências”; venda de objetos sagrados, “relíquias”; ensinos de Pelágio, que entre outras heresias negava o pecado original; sacerdocialismo, onde o sacerdote centralizava toda a vida espiritual). Moral (declínio moral do Clero). Administrativa (forma religiosa de dominar).²
Mas quem foi Lutero? Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, na Alemanha. Morreu na mesma cidade, em uma viagem no dia 18 de fevereiro de 1546. O pai possuía uma mina e pertencia à classe média alta. O pai de Lutero queria que ele fosse advogado. Porém, quase morreu atingido por um raio certa tarde de verão enquanto andava sozinho pela estrada. O raio derrubou-o no chão e, cheio de medo, clamou à sua padroeira “Santa Ana, ajude-me e me tornarei um monge! ”. Pouco depois, o jovem estudante universitário vendeu todos os livros de Direito e bateu à porta do mosteiro agostiniano em Erfurt, tornando-se monge. Como monge experimentou crises do que chamava Anfechtungen – ansiedade espiritual aguda sobre o estado da alma. Em suas in certezas castigava-se para compensar essa deficiência e conseguir mérito diante de Deus. Disse, posteriormente, que toda a sua vida no mosteiro foi a “busca de um Deus gracioso”. Mas, em vez de amar a Deus e descobrir que ele era gracioso Pai Celeste, Lutero o temia e passou a odiá-lo porque só sentia sua ira e não seu amor. Obteve doutorado em Teologia na Universidade de Wittenberg em 1512 e passou a lecionar matérias bíblicas. Neste período debateu-se muito com as questões da graça e da justiça de Deus. Mas, um dia pode escrever: “Finalmente, pela misericórdia de Deus, meditando dia e noite, dei ouvidos ao contexto das palavras: “A justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” – Rm 1.17. Aqui, senti como se renascesse totalmente e entrasse no paraíso pelos por tões abertos. Ali, uma faceta totalmente nova da Bíblia revelou-se para mim.”
Após a experiência salvífica, se opôs aos caminhos tomados pela igreja da época, principalmente à venda de indulgências. No dia 31 de outubro de 1517 fixou então as 95 teses contra o que achava de errado. Em poucos meses, tornou-se herói popular alemão por ter desafiado o poderio religioso e estrangeiro de Roma.³
Qual a importância da Reforma Protestante para nós? Apesar de não ter sido completa, foi um avivamento sem precedentes na história e temos o sentimento de gratidão e desafio. De gratidão, por que muitos valores espirituais e teológicos tiveram origem nesta Reforma. Aliás, nossos próximos artigos versarão sobre esta herança maravilhosa. E de desafio, principalmente de perseverança, por que a Reforma Protestante tem em sua história exemplos de coragem e fé. Os reformadores foram corajosos e muitos pagaram com suas próprias vidas. Assim também, não podemos negar as verdades bíblicas num mundo de trevas espirituais. Temos que permanecer fiéis a Cristo, que deu a Sua vida por nós na cruz, re ssuscitou ao terceiro dia e nos comissionou a fazer discípulos de todas as nações, não negligenciando quaisquer detalhes de Seus ensinos.

Pr. Elias Alves Ferreira é responsável pela IAP em Jales (SP) e integra a equipe do Departamento Ministerial – Convenção Geral.


¹Chaves, Gilmar Vieira, Reforma Protestante, Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2017, Cap 2.
²Idem, Cap.1.
³Olson, Roger, História da Teologia Cristã, Editora Vida, São Paulo, SP, 1999, Cap 24