O "fervor" de Pedro

O ataque ao ator, durante a Páscoa, nos fez lembrar do apóstolo impulsivo

No último final de semana, entre as celebrações da Páscoa, todos ficaram chocados com a reação de um homem que assistia ao espetáculo em Nova Hartz, interior do Rio Grande do Sul. Ao ver o ator Samir Rodrigues, que encenava um dos soldados, “ferir” Jesus crucificado com uma lança, o homem invadiu o palco e agrediu o ator com um capacete. Felizmente, pessoas acudiram e os ferimentos provocados foram leves. Mas foi impossível não associar, de certa forma, a reação do homem enraivecido, com a do apóstolo Pedro, que cortou a orelha de um dos soldados romanos, quando estes prenderam Jesus.
Simão Pedro, petros (grego), pequena pedra, pedrinha é um destes enigmáticos personagens que amamos em sua disposição e solicitude quanto aos interesses do Reino. O antecipador, o “atirado”, com sua personalidade corajosa, irrequieta. Um sujeito “duro na queda” inicialmente, micro empresário pesqueiro, que se tornou pescador de homens, após Jesus chamá-lo.
É Interessante salientar que sua percepção sobre o Filho de Deus era nítida, porém o seu “fervor humano” quase sempre o levava a colocar a “carroça diante dos bois”. Era ansioso, quase sempre queria soluções imediatas, mesmo que tivesse que usar expedientes nada pedagógicos: negação, mentira, descompromisso, violência etc.
Não poupou nem a sogra doente que teria de fazer comida para os seus convidados que, eu acredito, ele não tinha a avisado que iria levar. Jesus estava entre os seus convidados e providenciou a cura daquela mulher que logo após os serviu: “Saindo da sinagoga dirigiu-se Jesus à casa de Simão. A sogra de Simão estava atormentada, ardendo em febre, e rogaram a Jesus que a ajudasse de alguma forma. Estando Ele em pé próximo a ela, inclinou-se e repreendeu aquela febre, que no mesmo instante a deixou. Ela rapidamente se levantou e passou a servi-los.” (Lucas, 4.38-39).
O “fervor humano” tem atrapalhado muitos de nós que amamos a Cristo,  mas que temos a síndrome de Gabriela (…eu nasci assim…). Posturas que nos levam à inadimplência espiritual e social.
A mudança em Pedro ocorreu quando o Senhor, já preso, olhou nos seus olhos, o fitou com seu olhar cálido, meigo, sofredor. Eu acredito que flashes dos melhores momentos vivenciados com o Mestre Jesus irradiaram a mente e o coração do apóstolo, que empreendeu fuga na escuridão da noite. Suas lágrimas foram autênticas, diante daquele que é a perfeição divina, confrontando nossas falhas (Lucas 22.62).
O Olhar de Jesus faz nos ver a grande misericórdia de Deus em dar atenção a nós. Pedro saiu daquela escuridão mais convicto, mais discípulo, mais cristão. Seu “fervor humano” desapareceu neste incidente, divisor de águas em sua vida.
“Você me ama?” Foi o ápice, o auge da pergunta de Jesus que iria acabar de vez com seu “fervor humano”. “Mais dEle e menos de mim” passou a ser o alvo de Pedro, e deve ser o nosso também.

Pr. Omar Figueiredo congrega na IAP em Pq. Edu Chaves (São Paulo – SP)

O sentido da Páscoa


“Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.” (I Co 5:7-8)
A palavra páscoa vem do hebraico “pessach” e significa passagem. Não há nenhuma correlação do que se fazia na celebração da páscoa judaica com a celebração da páscoa atual. Ela era sombra da realidade que vivemos hoje, libertos em Cristo (Hb 10:1). Fazia parte da lei cerimonial, abolida por Cristo na cruz do calvário. Ele, com seu sacrifício, é a “imagem exata” cumprindo tudo que ao seu respeito estava escrito, segundo as Escrituras.(Mt.3:15).
Todo ano, na noite de lua cheia de primavera, os hebreus celebravam a páscoa, com o sacrifício do cordeiro pascoal, pães ázimos (sem fermento) e ervas amargas, conforme a ordem recebida por Moisés (Êx.12.21,26-27 Dt.16.1-8). Era uma vigília para lembrar a saída do Egito. Deus manteve viva a celebração com todos os elementos, até o ápice da Sua revelação maior chegar e cumprir o que dele estava escrito.
Lembramos que o povo israelita ainda era criança ao que tange a revelação de Deus, por isso, ele usou elementos concretos para falar com eles (Os 11:1). Sua revelação foi progressiva, antropopática (forma de Deus falar para o homem e ser entendido). Jesus chegou e cumpriu o que era cerimonial, trazendo a realidade. Como Igreja, não somos mais crianças ao que tange a revelação de Deus, sua fala conosco é espiritual (Jo 4.24). Jesus, oferecendo seu corpo e sangue, assume o duplo sentido da páscoa judaica: sentido de libertação e de aliança (Mt 26.1-2 .17-20). Imediatamente depois da ultima páscoa, ele instituiu a Santa Ceia (Mt 26. 26-29), que nos traz algumas lições: Cristo morrendo por nós, Cristo intercedendo por nós, Cristo vivendo em nós e, no futuro, Cristo voltando para nós.
Portanto, como novas criaturas que somos hoje (2 Co 5:17), a festa que fazemos hoje é esta: entendemos o sentido da páscoa que Jesus, em sua morte expiatória, cumpriu completamente – e de uma vez por todas – as demandas da lei (cerimonial) (Is 53:7 e Jo 1:29).
Ah, sim, comer chocolate não é pecado, desde que não haja gula e não necessariamente no domingo de páscoa, pois a data não faz sentido para nós, que já fomos beneficiados com o sacrifício de Cristo, nossa páscoa. Cuidado com as influencias deste mundo “capetalista” (o mundo jaz no maligno), nossa celebração deve ser com pães sem fermento (pureza e santidade espiritual) e com a verdade,revelada por Jesus (Jo 14:6)
Pr. Omar Figueiredo é responsável pelas IAPs em Jardim Paineira e Itaquera, na Convenção Paulistana Leste.