Um presente muito esperado

Neste final de ano, que tal presentear com sua atenção?

Fala-se muito em como alcançar uma boa comunicação, mas na verdade, o segredo é simples e está ao alcance de todos, conforme as palavras de Tiago: “Todo homem seja pronto para ouvir e tardio para falar!” (Tg. 1:19). Cursos, palestras e bons livros podem ser úteis, mas a comunicação eficiente, aquela que funciona para ambos os envolvidos, só acontece mesmo quando estamos dispostos a por em prática esta regra de ouro.
Numa sociedade tecnológica, onde tudo acontece muito rápido,  parar para ouvir parece mera perda de tempo, ficando essa tarefa cada vez mais reservada para aqueles que fazem dela profissão ou sacerdócio. Mas não deveria ser assim, porque embora existam situações que necessitam de  escuta especializada, muitos sofrimentos do dia-a-dia  que tiram a nossa paz, poderiam ser amenizados ou até mesmo resolvidos numa conversa amiga e atenciosa. Adoecemos emocionalmente por vários motivos, mas poderíamos adoecer menos se fôssemos mais ouvidos, pois ainda que a solução do nosso problema pareça impossível, quando ouvimos o que estamos falando podemos refletir e compreender a nossa própria experiência, além de alcançar a calma e o alívio emocional.
Podemos até achar que somos bons ouvintes, mas na prática, a arte de ouvir é para poucos, já que a nossa a nossa tendência natural é de dar atenção à fala de alguém que acreditamos ter algo a nos acrescentar ou que discorre sobre algo que nos interessa ou nos agrada. Só que esse o ouvir é uma mera manifestação do nosso ego, porque está focado em nossos interesses e não nos da outra pessoa.
Ouvir de verdade é pensar no outro, nas suas necessidades e interesses, colocando-o em primeiro lugar, antes dos meus problemas, das minhas necessidades, do que eu penso ou deixo de pensar. Implica em tempo, disposição, atenção, paciência e, principalmente respeito. É não ceder à tentação de interromper ou dar soluções, mas apenas demonstrar o quanto a outra pessoa é importante e que o momento é dela. Ouvir, não é só para psicólogos, é para quem ama e se importa a ponto de “não buscar seus próprios interesses…” (I Cor 13). Faz bem pra quem fala, faz bem pra quem ouve!
Podemos demonstrar afeto de muitas maneiras: com um presente,  com uma palavra ou com um abraço. Porém quando emprestamos nossos ouvidos não podemos mais ficar indiferentes, deixar a pessoa ir embora, porque ouvir nos envolve, nos compromete. Talvez por isso, poucos tenham essa disposição!
Neste fim de ano, que tal deixar o smartphone de lado, desligar a TV, desligar-se um pouquinho de si mesmo e dar um presente que certamente vai agradar esposa, marido, filhos e amigos: seus ouvidos atenciosos! Tem alguém precisando, tem alguém esperando!

Ofereça o ombro, em vez de apontar o dedo

Se desejamos obter reconhecimento e respeito, nós, mulheres, precisamos começar por nós mesmas, valorizando o trabalho das outras, vendo-as como irmãs, não inimigas e sendo solidárias

Um dia desses, voltava do trabalho de ônibus quando ouvi um comentário sobre a condutora: “Com essa mulher dirigindo vamos chegar amanhã!”. Sabemos que situações como essa são comuns, principalmente quando uma mulher ocupa função tradicionalmente masculina e, vamos combinar, até mesmo quando não! A realidade é que muitas pessoas têm a tendência de desqualificar um trabalho pelo simples fato de ser feito por uma mulher. O mais triste é quando isso vem de outra mulher, como nesse caso. Mas isso também não é novidade, pois o preconceito não tem gênero!
Talvez uma das razões para isto é que, historicamente, estamos acostumados a reconhecer a figura masculina associada à força, provisão e liderança e a feminina ao cuidado, apoio e assistência.  Então, quando nos deparamos com uma situação destoante dessa convenção, nossa tendência é reagir com desconfiança.
Por outro lado, desde pequenas, as mulheres são incentivadas a assumir funções que envolvem dependência e não iniciativa e autonomia, o que gera nelas próprias dificuldade para confiar no trabalho e na capacidade feminina, quando requerem essas habilidades. Quem nunca ouviu uma mulher dizer: “Prefiro médico homem”, “Ter mulher como chefe? Longe de mim!”
Mas, infelizmente não é somente em relação à questão profissional que mulheres têm reservas umas com as outras. Somos as primeiras a criticar outras mulheres quando erram. Cobramos mais retidão moral da mulher do que do homem. Aceitamos com certa naturalidade que um homem tenha passado por vários relacionamentos, sendo até capazes de atribuir isso a “falta de sorte”. Já uma mulher, na mesma situação costuma ser vista como alguém de “moral duvidosa”.
Por outro lado, parece que estamos sempre prontas a reparar e criticar a aparência de outra mulher: cabelo, roupas, forma física, marcas da idade, dentre outras. Também achamos normal um homem desleixado acompanhado de uma mulher que se cuida, mas torcemos o nariz quando acontece o contrário. Da mesma forma, um homem bem mais velho que sua companheira pode até inspirar elogios à sua virilidade, enquanto uma mulher mais velha que seu marido parece destoante até mesmo para olhos femininos.
Lamentavelmente, além dos aspectos sociais, também perpetuamos visões deturpadas em relação ao nosso próprio gênero, quando nos referimos a outras mulheres como: invejosas, pouco confiáveis, potenciais inimigas e sempre dispostas a nos roubar algo. Mitos como da sogra má, da mãe que inveja a filha, da “amiga fura olho” nos fazem acreditar que não somos capazes de desenvolver entre nós vínculos baseados no amor e na confiança.
A verdade é que mulheres, tanto quanto os homens, precisam ter autocrítica e reconhecer suas potencialidades e limitações, mas isso não significa  viver em função de expectativas que criaram para nós e que acabamos assumindo e cobrando umas das outras. Falta-nos empatia e por isso tratamos outras mulheres com a mesma crítica e falta de tolerância que experimentamos em nossa vida, num ciclo que nunca acaba.
Se desejamos quebrar este ciclo, obter reconhecimento e respeito, precisamos começar por nós mesmas, valorizando o trabalho de outras mulheres; vendo-as como irmãs e não inimigas; sendo solidárias, mesmo quando pensamos diferente; repudiando palavras ofensivas ou que exponham outra mulher; oferecendo o ombro em vez de apontar o dedo. E por que você faria isso? Simplesmente porque você é uma delas!

Câncer de mama

Curando estigmas e preconceitos

Já se foi o tempo em que relacionávamos a palavra “câncer” a uma sentença de morte. Com os avanços da medicina, especialmente na área oncológica, hoje é bastante comum convivermos com pessoas curadas de câncer.
Em relação ao câncer de mama – o que mais atinge as mulheres – a campanh Outubro Rosa têm um importante efeito no sentido de alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, como também desmistificar alguns aspectos da doença.
Ainda assim, há fortes estigmas que permeiam o câncer de mama, porque ele atinge uma área do corpo da mulher repleta de símbolos. No decorrer da história, o seio foi considerado expressão de maternidade, fertilidade e até mesmo de reivindicações políticas e sociais. Na cultura moderna sua valorização está voltada para a feminilidade e o erotismo, ideia fortemente explorada pela mídia.
Por isso, é comum que o diagnóstico traga, além do medo do tratamento e dos possíveis desdobramentos, a preocupação sobre os efeitos na aparência e na feminilidade, o que pode parecer fútil para muitos. No entanto, a mulher em tratamento pode ver sua estética corporal mudar rapidamente em decorrência da perda dos cabelos, do ressecamento da pele e até mesmo da retirada da mama, quando necessária. Some-se a isto a possibilidade do aparecimento precoce da menopausa e consequente diminuição do desejo sexual. Esse conjunto de situações pode levar a mulher a sentir-se deformada e esvaziada de sua auto-confiança, passando a duvidar de que ainda possa ser fonte de atração para o homem, gerando um intenso medo de rejeição.
Mas além de uma possível crise de identidade quanto a sua feminilidade, ela também está sujeita a uma série de preocupações relacionadas aos papéis sociais estabelecidos pela cultura. Para quem se acostumou a vida toda a ser cuidadora dos irmãos pequenos, do marido, dos filhos, dos pais, dentre outros, aceitar ser cuidada pode não ser tão fácil.  Por isso, a mulher que necessita por um período depender dos outros, até mesmo para atividades antes simples, como tomar banho e vestir-se, pode ter o seu sofrimento intensificado pela culpa de não atender as necessidades dos outros e ainda pela sensação de “dar trabalho”.
Esses sentimentos, somados aos medos e ansiedades que a doença naturalmente provoca, podem ganhar contornos mais fortes e evoluir para uma depressão se ela não contar com o apoio e a sensibilidade das pessoas que a cercam. Nas palavras de uma paciente em tratamento: “não é o câncer que mata, mas a rejeição”. Por isso, especialmente na área da sexualidade, precisa haver muita compreensão e carinho por parte do marido, entendendo que, em momentos como esse, o amor sacrificial, espelhado em Jesus (Efésios 5:25-29) precisa ser praticado  em sua essência.
Aos demais familiares, cabe a reciprocidade e o exercício do cuidado como uma pequena expressão de gratidão por tudo o que já receberam daquela que gerou, cuidou, é amiga e companheira quando dela necessitam. É momento de refletir sobre a graça de poder dar, em vez de receber cuidado, e de expressar amor verdadeiro, que vai muito além das palavras.
Para a mulher que vivencia o câncer de mama é essencial saber que sua atitude diante da doença é elemento determinante para o sucesso do tratamento e para a cura. É preciso ter consciência de que todo o desgaste vivenciado, na maioria dos casos, é temporário e que será possível retomar a intimidade do casamento, suas rotinas e o controle da vida novamente. Quanto ao corpo, as consequências do tratamento diminuem com o tempo e a reconstrução pode reduzir muito as marcas físicas, possibilitando um novo modo de se ver e se aceitar.
Deixar-se cuidar sem culpa por aqueles que usufruiram de seus cuidados a vida toda também traz um precioso alívio, neste momento tão delicado. Sobretudo, é essencial exercitar a fé, olhando principalmente para os inúmeros testemunhos de cura que presenciamos todos os dias! A certeza do amor incondicional de Deus e do seu poder para curar é um bálsamo no vale da aflição.

Referências
http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a05v13n2, acesso em 24/9/2019
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=beleza+%C3%A9+fundamental+biblioteca+virtual+de+sa%C3%Bade, acesso em  24/9/2019
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=cancer+e+auto-estima#, acesso em 24/09/2019

Bem mais que romance

Comparações e expectativas irreais podem nos impedir de reconhecer o amor verdadeiro, aquele que é demonstrado por atitudes do dia a dia

Celebrado em verso e prosa desde a antiguidade, o romance, sempre foi um tema apreciado em todos os tempos. Além da literatura, o cinema, a televisão, o teatro e a música sempre exploraram o assunto, embalando nossas fantasias e dando um colorido especial aos nossos relacionamentos. Mas foi nos últimos tempos, com o advento do mundo digital e das redes sociais, que a associação entre amor e romance tornou-se praticamente obrigatória.
Amamos histórias recheadas de romance e, de preferência, com final feliz. Embora haja homens muito românticos, parece que as mulheres são mais  fisgadas pelo tema, pois além de demonstrarem mais seus sentimentos, buscam com maior intensidade manifestações íntimas e públicas de amor.
Ocorre que a associação entre felicidade e romance está tão impregnada em nossa mente que a falta dele tem sido a razão de muitos casamentos frustrados e até desfeitos. Há mulheres que não conseguem usufruir de seus relacionamentos devido a expectativas irreais, criadas pela mídia e cobradas pela sociedade. Outras perseguem um relacionamento ideal espelhando-se em modelos de outros casais. Há também dentre elas uma queixa bem comum: a de que o romantismo do início do casamento se perdeu.
Romance é uma delícia e não há problema em buscá-lo! O erro está em achar que um relacionamento amoroso pode ser alicerçado nele: não pode! Assim como o amor pode ser expressado de formas diversas, romantismo nem sempre é sinal de amor. Tomemos como exemplo os relacionamentos abusivos, que geralmente são iniciados com sedução e mantidos com juras de amor eterno, a despeito de agressões e humilhações, tornando as pessoas cativas de uma gangorra emocional que alterna sofrimento e felicidade.
Romance sem amor é ruim; amor com romance é perfeito.  É sempre o amor  que deve prevalecer num relacionamento. Mas, o que é o amor? A mais completa expressão de amor que podemos encontrar é a que está em I Cor 13: “Quem ama é paciente e bondoso. Quem ama não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas. Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor é eterno.”(versos 4,5,6 e 8a)
Nesse texto não vemos menção ao amor eros, romântico, apaixonado, com desejo e atração física, mas sim ao amor ágape que se doa, que se entrega, que é incondicional. É esse amor que sustenta um relacionamento, porque ele “é eterno”, não sucumbe ao tempo e às circunstâncias.
Todo relacionamento passa por mudanças, por diferentes ciclos e isso é natural! Em meio ao nascimento dos filhos, situações de estresse, crises conjugais, problemas financeiros ou ao próprio envelhecimento, o amor romântico, ligado ao eros, pode esfriar.  No entanto, o amor ágape subsiste a tudo isso, até mesmo à perda da atração física.
Calma: não precisamos abrir mão do romance para ter um relacionamento feliz, mas também não precisamos ter um casamento frustrado pela falta dele. O romantismo deve ser estimulado e renovado com esforço e criatividade sempre, pois é um investimento que enriquece a relação. Mas não podemos esquecer que cada pessoa tem a sua forma peculiar de demonstrar seus sentimentos e entender isso facilita muito o relacionamento.
Assim, precisamos tomar cuidado para que comparações e expectativas românticas dos tempos de namoro não nos impeçam de reconhecer o amor verdadeiro: aquele  que não é apenas falado, cantado ou publicado; aquele que é demonstrado por atitudes do dia a dia, pela fidelidade, pelo companheirismo e pelo respeito. Por mais romântico que seja, nenhum relacionamento pode ser feliz sem isso!