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Uma Bíblia para a jornalista!

Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos.” (2 Tm 4:3-4)

 

A polêmica. O projeto de Lei Federal nº 2.630/20 apresentado no Congresso Nacional com a intenção de combater as chamadas Fake news, continua causando polêmica, e agora atingiu a comunidade cristã. Na última semana, uma jornalista da rede de notícias CNN utilizou o referido projeto de lei para justificar a existência de medidas legais, que impeçam a utilização de certos trechos da Bíblia na Internet, pois, segundo ela, esses trechos da Bíblia defendem a prática de coisas como o racismo, a homofobia, o assédio ou a misoginia (sentimento de ódio pelas mulheres). O fato despertou ao longo da semana inúmeros comentários e reações de cristãos e não-cristãos nas redes sociais, e levantou a seguinte questão: a Bíblia Sagrada ensina mesmo isso?

 

Noções gerais sobre a Bíblia Sagrada. Ao contrário do que muitos pensam, a Bíblia Sagrada é fantástica e talvez este seja o motivo que faz dela o livro mais vendido e lido em mais de 2 mil 400 línguas no mundo todo. Ela é um dos poucos artefatos da humanidade, onde é possível encontrar reunido num único lugar várias formas de conhecimento.

A Bíblia Sagrada é um livro sobre religião, história, cultura e ética, pois ela é um livro de muitas narrativas, cuidadosamente elaboradas com o objetivo de dar sentido ao conteúdo que revela. A Bíblia é um livro de religião, porque faz parte da estrutura religiosa de judeus e cristãos. Fala de história, porque cobre um período aproximado de 5 mil anos da história humana, e registra fatos [reais] sobre locais e personalidades, além de narrar momentos específicos da história de vários povos (sumérios, egípcios, etíopes, hebreus, assírios, persas, gregos, romanos, etíopes, entre outros).

Ela fala de cultura, porque descreve para seus leitores a estrutura cultural (costumes, tradições, valores e comportamentos) das comunidades que existiram no passado do oriente médio. Ela também explica o funcionamento complexo dos códigos morais das sociedades do passado, fazendo uma conexão entre o presente o passado, e por isso ela ostenta a natureza de símbolo histórico de civilizações há muito tempo. A Bíblia fala de ética, porque está estruturada dentro de um padrão ético-normativo, que tem por inspiração os valores morais do Deus dos hebreus e de Jesus Cristo de Nazaré. Seu enredo moral e ético, do começo ao fim e obedece a este princípio.

No aspecto literário, a Bíblia Sagrada é uma biblioteca escrita em três línguas (hebraico, aramaico e grego). Os 39 livros do Antigo Testamento e os 27 do Novo Testamento possuem autores e estilos diferentes (história, poesia, sabedoria, profecia, leis e cartas), e oriundos de lugares e épocas contemporâneas e distintas, porém, todos eles foram inspirados de modo sobrenatural por Deus, para escrever e divulgar as mensagens da Bíblia. Nesse sentido, a Bíblia carrega uma espiritualidade distinta, pois sua mensagem compartilha da natureza divina, sendo assim infalível, inerrante e suficiente. É impossível alguém compreender a Bíblia ignorando essas informações introdutórias.

 

Interpretação correta da Bíblia. Assim como todo livro, a Bíblia Sagrada foi escrita para ser lida, compreendida e praticada. Para ler e interpretá-la corretamente, o (a) leitor (a) precisa:

  1. Considerar o contexto geral do livro, capítulo ou trecho que está sendo lido.
  2. Considerar o contexto histórico da passagem.
  3. Analisar o estilo literário e a estrutura gramatical da passagem questão.
  4. Fazer perguntas ao texto, como: o que está por trás desta passagem? Quem escreveu? Por que escreveu desta maneira? Qual o objetivo do autor ao escrever este texto?
  5. O leitor deve orar a Deus para que consiga entender. Bem, essas medidas simples diminuirão as dificuldades de interpretação da Bíblia Sagrada. Os textos bíblicos citados pela referida jornalista estão fixados numa sociedade antiga, com costumes, tradições e códigos sociais muito diferentes dos atuais. Interpretar passagens sem considerar o contexto histórico, cultural e literário da época, levará o leitor a conclusões precipitadas e impressões irreais sobre a Bíblia, assim como no caso mencionado.

A Bíblia não é racista, homofóbica, misógina ou sexista, ou coisa do tipo, ou ainda contraditória. Em certo sentido, ela é observadora e testemunha dos fatos históricos que foram distorcidos pelo pecado da humanidade, e registra o ideal ético divino que deve ser buscado pelo ser humano, a fim de contrastar as ações humanas inapropriadas de cada época. Esta é a razão dela registrar eventos negativos do comportamento humano das sociedades antigas. Esta deve ser a lente do leitor sério da Bíblia.

Pontos importantes para considerar.

O deslocamento da fé cristã. A distorção de trechos da Bíblia Sagrada acompanhada de críticas severas contra as pessoas que acreditam na Bíblia não é algo novo. Já aconteceu em outras épocas o que a referida jornalista fez. Atitudes como esta reflete o ativismo antirreligioso de nossa época, e do processo de deslocamento da fé cristã do espaço público para a esfera privada do indivíduo.

A secularização do ocidente trabalha desde o século XVIII para que o cristianismo e seus valores morais históricos sejam esvaziados e confinados aos espaços dos templos. A narrativa cristã fundamentada na Bíblia Sagrada é rejeitada pelo mundo de hoje, porque nosso mundo tornou-se pós-cristão, com adoção de valores e de uma ética não-cristã. As pessoas do século XXI tem a tendência de rejeitar a Bíblia em decorrência de falta de conhecimento bíblico, e de sua ética seletiva (“o que é certo ou errado para você não é para mim”).

 

Evangelizar com amor. O episódio da jornalista da CNN é desagradável, merece alguma crítica e revela a falta de entendimento bíblico de nossos contemporâneos. Mas é também uma grande oportunidade para a manifestação da graça salvadora de Jesus. A secularização do ocidente, além de fatores diversos (guerras, crises econômicas, cultura) e o enfraquecimento da missão da igreja, diminuíram a presença do evangelho na sociedade, tornando Deus e sua mensagem estranhos para o homem pós-moderno.

A sociedade pós-moderna acredita que seu código moral e que suas tradições descontruídas são a solução, porém, os fatos demonstram o contrário. O abandono das verdades sobre Deus reveladas pela Bíblia mergulhou a humanidade numa crise existencial sem precedentes, e produziu pessoas confusas assim como a referida jornalista. Por isso, será necessário construir uma forma contemporânea de evangelizar pessoas que são resistentes à mensagem cristã tradicional, uma forma que equilibre amor e crítica, razão e fé, ética e misericórdia. Além da necessária defesa da fé (apologética), a evangelização necessita mais do que nunca, de uma comunicação do evangelho para todos, que contemple até mesmo os que nos perseguem, visando sempre a proclamação de Jesus e a transformação do homem para a glória de Deus.

 

Tornar a Bíblia relevante de novo. A Bíblia Sagrada continua relevante nos grupos cristãos e sempre será, mas também é verdade que ela já ocupou um lugar de honra muito mais significativo na vida de todas as pessoas. Neste tempo de pluralismo, individualismo, e relativismo generalizado, os cristãos têm a tarefa de ensinar de novo toda a Bíblia para todos, contextualizando a comunicação e mantendo a fidelidade de sua mensagem. Tem a missão de torná-la voz exclusiva de Deus de novo, partindo do princípio que o mundo caiu em trevas novamente, que a mensagem bíblica fiel é desconhecida, e que os não-alcançados de nossas cidades leem muito mais nosso testemunho diário, do que as páginas da Bíblia. É tempo de deixar a Bíblia ser Palavra de Deus, e de explicar essa verdade de forma adequada aos corações mais desafiadores.

E por quê? Bem, a resposta é simples: “a fé vem pelo ouvir a palavra de Deus”.

Por: C. Eduardo, Silva | Pastor na Igreja Adventista da Promessa de Xaxim, em Curitiba-PR, casado com Rosana Ronca.

Publicado por: APC Jornalismo.

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