“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.” (II Co 4:7)
Por mais preparado que seja, o pastor acabará por sentir o cansaço emocional, a fadiga física, frutos de seu desgastante serviço. Muitos chegam a expressar: “Não aguento mais!”. Nesses momentos, parece pouco valer seu conteúdo teológico, seu conhecimento doutrinário, suas experiências espirituais e ministeriais.
A vocação pastoral oferece ao pastor a glória de trabalhar com o tesouro mais precioso do universo, que é o evangelho, ao mesmo tempo em que sua missão é compartilhar esse tesouro com pessoas frágeis, mas de infinito valor, por quem Cristo morreu. Quem merece tão nobre privilégio? Ninguém! Por méritos pessoais, não. Nenhum pastor é suficientemente apto para a tarefa, nem digno da confiança que lhe foi concedida.
O pastor não tem méritos em seu chamado simplesmente porque é pecador como os demais. Além de lutar contra a sua própria natureza carnal, ele precisa enfrentar a coletiva inclinação ao pecado, da congregação que pastoreia. É um pecador cuidando de pecadores. Por esse motivo, o pastorado e um milagre divino, um chamado da soberania divina, que tem como base a misericórdia (II Co 4:1).
Portanto, o ministério pastoral é um fardo inevitável, mas, também, uma alegria indescritível. É um fardo porque o pastor é de barro, e é uma alegria porque nele habita o evangelho eterno. Como lidar com esse fardo, sem perder a fé e a alegria?
Uma maneira boa de lidar com o nosso “lado de barro” é focalizar o tesouro que há dentro de cada vaso, ou seja, o conhecido “peso da glória”.
O lidar com o fardo e a alegria pastoral
Paulo diz: “Temos, porém, este tesouro em vaso de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não nossa” (II Co 4:7). Na verdade, todos os cristãos têm esta dignidade: carregam dentro de si a vida de Jesus Cristo. É o peso de glória. Mas o pastor não carrega apenas esse peso de glória; ele trabalha com o próprio material: o tesouro do evangelho que lhe foi confiado.
Os estudantes de teologia compreendem a glória do ministério, porque estudam sobre o assunto. Mas só a experiência pastoral poderá proporcionar-lhes o verdadeiro conhecimento dessa gloria. É quando Deus eleva o pastor além de sua capacidade humana, fazendo com que o seu trabalho imperfeito alcance os corações humanos com o poder divino. É quando a eternidade intervém no tempo e na vida do pastor de barro.
Porém, ser instrumento da graça de Deus entre o povo é uma tarefa que exige humilhação. 0 pastor precisa estar consciente de que seus recursos nunca vão mover a eternidade ou o sobrenatural divino.· O pastor de barro precisa saber que, quando o Senhor toma as palavras, os atos, o trabalho do pastor, para transformar vidas e edificar igrejas, o melhor que este pode fazer é ficar quietinho e dizer: “Bendito seja o teu nome, Senhor!” Não é simples explicar os motivos de um pastor naufragar na fé. Contudo, uma das razões básicas das tragédias pastorais é o pastor esquecer que é de barro. Dependendo da posição que alcança na denominação, o pastor se sente tão importante que passa a ignorar as coisas simples que Deus faz, no meio do povo simples. Ele se sente superior às ovelhas. É fácil ao pastor esquecer-se de que é barro rachado e colocar-se no pedestal.
O pastor vaidoso, ao ser usado pela graça de Deus, sente-se quase sobre-humano. O pedestal dá a falsa sensação de que o pecado está em um lugar muito distante dele. O pedestal faz-nos sentir diferenciados, melhores. Mas, miseravelmente, esconde a seguinte verdade: O pastor é humano e sua natureza é pecaminosa. É quando, então, lá de cima, desmorona: “Se te remontares como águia e puseres o teu ninho entre as estrelas, de lá te derribarei, diz o SENHOR” (Ob 4). E é grande a queda: “O orgulho leva a pessoa à destruição, e a vaidade faz cair na desgraça”(Pv 16:8 – NTLH).
O cuidado com a vaidade pastoral
Pastores queridos, somos vasos de barro! Moisés era de barro. Davi, Pedro, Paulo foram de barro. Os pastores de ontem e de hoje são de barro. Timóteo era vaso de barra, e, por isso, Paulo lembrava a ele: “… participa comigo dos sofrimentos a favor do evangelho” (II Tm 1:8). Só quem é de barro sofre e geme pelo evangelho. Porém, Paulo incentivava Timóteo a levar a tarefa divina adiante: “Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.” (II Tm 1:6-7).
Os heróis da fé eram homens de barro que levaram o ministério divino até a morte, e, por “meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros.” (Hb 11:33-34).
Heróis de barro, mas com fé de ouro! Fé indestrutível, incontaminada, fé inegociável, fé pura, fé em Cristo, somente em Cristo e para a glória de Cristo. E por que somos vasos de barro? Paulo responde: “… para mostrar que o poder supremo pertence a Deus e não a nós” (II Co 4:7).
Essa é a razão porque o pastor deve resistir à tentação de achar que o ministério que exerce é dele. Não é! O ministério do pastor pertence ao Senhor, seu Senhor, que o chamou por pura misericórdia: “Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos” (II Co 4:1).
O Senhor cuida dos pastores de barro
É Deus quem cuida dos vasos de barro! Veja como Deus cuida de você, pastor:
“Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse· o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.” (II Co 12:9-10).
Todo ministério é um dom de Deus, e tudo depende dele. O pastor de barro deve confiar unicamente em Deus, que manterá seu ministério em poder e graça! Os pastores de barro, que confiam unicamente na graça de Deus, podem abrir a boca e dizer com fé:
“Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porem não desamparados; abatidos, porem não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.” (II Co 4:8-11).
Pr. José Lima de Farias Filho, presidente da Convenção Geral da IAP. Texto publicado originalmente no Boletim Ministerial “Santificados para Servir”, ano 2008, nº 2.